28 de janeiro de 1941. Esse estranho silêncio do céu de Londres

28 de janeiro de 1941. Esse estranho silêncio do céu de Londres


Depois de uma série de bombardeamentos violentos, os ataques pararam misteriosamente durante seis noites.


Uma desconfiança profunda tomou conta dos londrinos. “Que silêncio é este?”, perguntavam alguns, estranhando que os alemães tivessem, de súbito, interrompido uma série de bombardeamentos que provocaram feridas abertas na cidade. Os estrategas não tinham dúvidas, por seu lado: era a bonança que antecedia a tempestade. Hitler, o canalha nazi, e o seu amigo barrigudo, Hermann Göring, o chefe da Luftwaffe, economizavam recursos para um ataque em larga escala. Era preciso estar mais atento do que nunca. Os caças britânicos erguiam-se, vigilantes, nos céus e patrulhavam a Mancha até à costa de França em busca de um sinal que permitisse perceber o que estaria para vir. A Royal Air Force preparava-se, por seu lado, para desferir o seu golpe. Havia que descobrir os lugares onde a ofensiva crescia, venenosa, como se congeminada no ovo da serpente. E depois destruir!

“A orientação de um ataque direto às nossas ilhas parece impor-se aos comandos alemães”, afirmava o major Oliver Stewart. “Se adotarem esta alternativa, é possível prever alguma coisa em relação aos métodos que usarão. Um ataque geral afigura-se essencial na esperança de fechar por completo as defesas britânicas sobre a área o mais extensa possível”. Não, não iriam apanhar os ingleses distraídos.

Inquietação O Ministério da Aeronáutica do Governo da Grã-Bretanha emitiu um comunicado: “Durante a noite passada foram lançadas bombas sobre a região da Cornualha, mas os prejuízos materiais e pessoais foram muito poucos. Além desta, não se registou qualquer outra atividade da arma aérea inimiga”. Lá está: o silêncio. O terrível silêncio a que os londrinos não estavam já habituados. O silêncio que prometia algo ainda mais terrível do que os bombardeamentos continuados. Que vinha aí para estilhaçar esse silêncio? Ah! Os ingleses sabiam que a violência é como uma droga. E agora parecia que lhes faltava a dose habitual.

Seis noites sem que os Messerschmitts sobrevoassem as margens do Tamisa. Não mais guerra-relâmpago, a Blitzkrieg. Nuvens negras acumulavam-se no céu, prometendo tempestades. Talvez fossem os trovões as próximas explosões a abalar Londres.

Ordem para que as barcaças saíssem para o mar. Em frente a cada porto suscetível de ser vítima de um ataque nazi esquadrinhavam-se as águas, espiolhava-se o céu. Atenção redobrada, afiada, os nervos esticados como cordas de violino, um pressentimento de algo terrível que se aproxima, avalanche destruidora de gente alimentada pelo ódio e pela ânsia do sangue. Não há bombas alemãs caindo sobre o Embankment, sobre Battersea ou Covent Garden. Os alemães estão singularmente calados. É preciso vigiar a noite.