O tempo do (outro) João Almeida


Recuemos 15 anos. Era eu um imberbe dirigente distrital da JS de Aveiro e fui convidado para representar o meu partido num debate no meio de uma aldeia em Vale de Cambra. Chegado ao local deparei-me com o insólito: todos os partidos tinham mandado outros miúdos imberbes e cabotinos como eu, mas a JP tinha…


Recuemos 15 anos. Era eu um imberbe dirigente distrital da JS de Aveiro e fui convidado para representar o meu partido num debate no meio de uma aldeia em Vale de Cambra. Chegado ao local deparei-me com o insólito: todos os partidos tinham mandado outros miúdos imberbes e cabotinos como eu, mas a JP tinha mandado o seu líder nacional. Nem mais nem menos do que o João Almeida. Aquele irreverente rapaz de farta cabeleira loira que aparecia sempre na televisão a malhar violentamente na esquerda. 

À época, a liderança da JS era preconizada pelo Pedro Nuno Santos e tínhamos uma agenda marcadamente fracturante. O caldo estava pois entornado e durante horas ambos esgrimimos argumentos renhidos sobre as bandeiras que cada um de nós defendia. O João, mais experiente do que eu, deixou-se ficar na defensiva e com mestria (reconheço hoje) foi-se esquivando aos ataques violentos típicos de um miúdo com 18 anos acabados de fazer. 

Lembro-me de acabar esse debate e ainda ter as veias a saltitar de raiva. Já nem o podia ver à frente. Mas, no final, o João cumprimentou-me e com o sorriso fácil que ainda hoje o caracteriza disse-me algo do género: “sei que és de São João da Madeira, não queres boleia?”. Durante a viagem e algumas horas depois, sentados na esplanada do “Pé de Salsa” (o mais mítico bar da nossa cidade), prolongámos a nossa saudável e crispada discussão de ideias.

O caro leitor deve estar agora a pensar que esta é uma ode à retórica do João e que foi aí que me passei para a direita. No entanto, lamento desiludi-lo, continuei no PS e à esquerda por mais alguns anos. Sem nunca mais militar em nenhum outro partido. 

O João não me ensinou a ser de direita. Pelo contrário, ensinou-me antes como alguém deve estar na política. Principalmente se for como o João: um cidadão genuinamente apaixonado pelo debate de ideias. Naquela tarde, percebi com clareza um princípio que irei guardar para o resto da vida: na política é preciso saber escutar os argumentos de todos – principalmente daqueles dos quais discordamos radicalmente. Pois só assim estaremos a prestar um verdadeiro serviço ao ideal democrático. Ideal este que faz do João um dos mais admirados e respeitáveis parlamentares portugueses. Da esquerda à direita.

Durante muito tempo, fui acompanhando a carreira do João à distância e só nos últimos anos é que nos fomos aproximando. Hoje mais próximos nas ideias – mas nem sempre nas estratégias defendidas – começámos a almoçar para fazer exactamente o mesmo que fizemos há 15 anos naquela esplanada: esgrimir argumentos e discutir ideias. 

O João evoluiu muito: do rapaz irreverente que meteu a JP no centro do debate político nacional, para um político ainda jovem mas incrivelmente experiente. Não perdendo nunca algo que sempre o caracterizou: uma paixão profunda pelo seu partido, ao qual nunca e em momento algum virou as costas. Fê-lo em todos os fóruns internos e externos, de todas as formas possíveis e imaginárias, sempre com um extraordinário sentido de missão. Pensando sempre pela sua cabeça e respeitando todos os de que de si discordavam. 

É este o João que este fim-de-semana se apresenta ao congresso do CDS. Alguém surpreendentemente livre que corre pelo que acredita e nunca contra as convicções dos outros. Alguém que prefere discutir em vez de denegrir, alguém que não esconde o seu passado e que principalmente não vira costas ao futuro – mesmo quando este é o mais desafiante e difícil da história do seu partido. No João há muita paixão e pouco tacticismo – só por isso, nos tempos que correm, é já uma pedrada no charco da política nacional. 

O CDS teve um resultado incrivelmente desastroso nas últimas legislativas. Eu próprio alertei nesta coluna que tal iria acontecer. Mas neste congresso o CDS demonstra ser ainda um partido cheio de vitalidade. Um partido que tem a sorte de contar com 5 candidatos à liderança, todos eles com virtudes e todos eles com defeitos – aliás, como todos nós, cidadãos comuns. Mas 5 candidatos que numa altura de crise tiveram a ousadia de não virar as costas à luta pelas suas convicções. Só por isso merecem um aplauso colectivo. 

Mas se a coragem é algo que caracteriza todos estes candidatos, há também algo que os distingue: o tempo. Este é o tempo de unir, é o tempo da paixão com moderação e é também o tempo da experiência. Esta síntese é essencial à sobrevivência política do CDS e só se encontra reunida num dos candidatos: o João. É por isso que mesmo sem ser militante acredito que este é o seu tempo. Porque a força do CDS é realmente aquilo que o une e o que o fará novamente poder prosperar. 

Publicitário

 

O tempo do (outro) João Almeida


Recuemos 15 anos. Era eu um imberbe dirigente distrital da JS de Aveiro e fui convidado para representar o meu partido num debate no meio de uma aldeia em Vale de Cambra. Chegado ao local deparei-me com o insólito: todos os partidos tinham mandado outros miúdos imberbes e cabotinos como eu, mas a JP tinha…


Recuemos 15 anos. Era eu um imberbe dirigente distrital da JS de Aveiro e fui convidado para representar o meu partido num debate no meio de uma aldeia em Vale de Cambra. Chegado ao local deparei-me com o insólito: todos os partidos tinham mandado outros miúdos imberbes e cabotinos como eu, mas a JP tinha mandado o seu líder nacional. Nem mais nem menos do que o João Almeida. Aquele irreverente rapaz de farta cabeleira loira que aparecia sempre na televisão a malhar violentamente na esquerda. 

À época, a liderança da JS era preconizada pelo Pedro Nuno Santos e tínhamos uma agenda marcadamente fracturante. O caldo estava pois entornado e durante horas ambos esgrimimos argumentos renhidos sobre as bandeiras que cada um de nós defendia. O João, mais experiente do que eu, deixou-se ficar na defensiva e com mestria (reconheço hoje) foi-se esquivando aos ataques violentos típicos de um miúdo com 18 anos acabados de fazer. 

Lembro-me de acabar esse debate e ainda ter as veias a saltitar de raiva. Já nem o podia ver à frente. Mas, no final, o João cumprimentou-me e com o sorriso fácil que ainda hoje o caracteriza disse-me algo do género: “sei que és de São João da Madeira, não queres boleia?”. Durante a viagem e algumas horas depois, sentados na esplanada do “Pé de Salsa” (o mais mítico bar da nossa cidade), prolongámos a nossa saudável e crispada discussão de ideias.

O caro leitor deve estar agora a pensar que esta é uma ode à retórica do João e que foi aí que me passei para a direita. No entanto, lamento desiludi-lo, continuei no PS e à esquerda por mais alguns anos. Sem nunca mais militar em nenhum outro partido. 

O João não me ensinou a ser de direita. Pelo contrário, ensinou-me antes como alguém deve estar na política. Principalmente se for como o João: um cidadão genuinamente apaixonado pelo debate de ideias. Naquela tarde, percebi com clareza um princípio que irei guardar para o resto da vida: na política é preciso saber escutar os argumentos de todos – principalmente daqueles dos quais discordamos radicalmente. Pois só assim estaremos a prestar um verdadeiro serviço ao ideal democrático. Ideal este que faz do João um dos mais admirados e respeitáveis parlamentares portugueses. Da esquerda à direita.

Durante muito tempo, fui acompanhando a carreira do João à distância e só nos últimos anos é que nos fomos aproximando. Hoje mais próximos nas ideias – mas nem sempre nas estratégias defendidas – começámos a almoçar para fazer exactamente o mesmo que fizemos há 15 anos naquela esplanada: esgrimir argumentos e discutir ideias. 

O João evoluiu muito: do rapaz irreverente que meteu a JP no centro do debate político nacional, para um político ainda jovem mas incrivelmente experiente. Não perdendo nunca algo que sempre o caracterizou: uma paixão profunda pelo seu partido, ao qual nunca e em momento algum virou as costas. Fê-lo em todos os fóruns internos e externos, de todas as formas possíveis e imaginárias, sempre com um extraordinário sentido de missão. Pensando sempre pela sua cabeça e respeitando todos os de que de si discordavam. 

É este o João que este fim-de-semana se apresenta ao congresso do CDS. Alguém surpreendentemente livre que corre pelo que acredita e nunca contra as convicções dos outros. Alguém que prefere discutir em vez de denegrir, alguém que não esconde o seu passado e que principalmente não vira costas ao futuro – mesmo quando este é o mais desafiante e difícil da história do seu partido. No João há muita paixão e pouco tacticismo – só por isso, nos tempos que correm, é já uma pedrada no charco da política nacional. 

O CDS teve um resultado incrivelmente desastroso nas últimas legislativas. Eu próprio alertei nesta coluna que tal iria acontecer. Mas neste congresso o CDS demonstra ser ainda um partido cheio de vitalidade. Um partido que tem a sorte de contar com 5 candidatos à liderança, todos eles com virtudes e todos eles com defeitos – aliás, como todos nós, cidadãos comuns. Mas 5 candidatos que numa altura de crise tiveram a ousadia de não virar as costas à luta pelas suas convicções. Só por isso merecem um aplauso colectivo. 

Mas se a coragem é algo que caracteriza todos estes candidatos, há também algo que os distingue: o tempo. Este é o tempo de unir, é o tempo da paixão com moderação e é também o tempo da experiência. Esta síntese é essencial à sobrevivência política do CDS e só se encontra reunida num dos candidatos: o João. É por isso que mesmo sem ser militante acredito que este é o seu tempo. Porque a força do CDS é realmente aquilo que o une e o que o fará novamente poder prosperar. 

Publicitário