PISA. Na era da tecnologia, os jovens preferem as profissões de antigamente

PISA. Na era da tecnologia, os jovens preferem as profissões de antigamente


Os dados do maior e mais famoso teste de educação do mundo, o PISA, mostram que os jovens querem cada vez mais as mesmas profissões e que não se estão a adaptar à era da tecnologia e das redes sociais. As profissões favoritas são as mesmas desde o ano 2000.


Em 2000, entre as 15 profissões favoritas dos alunos de 15 anos de todo o mundo estavam atividades como a advocacia e a docência. Hoje, passados 20 anos, esses mesmos 15 empregos continuam a ser os mais desejados. E há até cada vez mais estudantes a querer seguir essas linhas profissionais, deixando as novas tecnologias e as redes sociais de lado. Os dados são do relatório da OCDE “Dream Jobs? Teenagers’ Career Aspirations and the Future of Work”, que tem por base os resultados obtidos no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o maior teste de educação do mundo.

O mundo está cada vez mais tecnológico e as redes sociais, se bem utilizadas, oferecem um sem-número de oportunidades. Mas isso não afetou os desejos dos estudantes para o futuro, que continuam a ambicionar seguir profissões tradicionais do século XX – e algumas até do século XIX.

O relatório da OCDE PISA “Dream Jobs? Teenagers’ Career Aspirations and the Future of Work” mostra que 47% dos rapazes e 53% das raparigas, num universo de 41 países, esperam fazer carreira num dos 10 trabalhos mais populares entre os seus pares quando tiverem 30 anos. Em comparação com o PISA 2000, primeira edição deste teste, entre os rapazes os valores subiram 8%, enquanto entre as raparigas subiram 4%.

Estes números mostram que houve um estreitamento das expectativas dos alunos ao nível profissional e, segundo o estudo, são os jovens de origens mais desfavorecidas e aqueles que tiveram piores desempenhos nos testes do PISA em leitura, matemática e ciências os maiores responsáveis por estes resultados.

Entre os empregos mais ambicionados pelos estudantes para quando tiverem 30 anos estão as carreiras de professor, médico, advogado, professor, gestor, engenheiro, polícia, enfermeiro, designer, psicólogo, arquiteto, veterinário, ator, músico, mecânico e profissionais das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação). Em 2000, os empregos favoritos eram exatamente os mesmos, simplesmente agora há uma concentração ainda maior neles.

No total, os níveis de concentração aumentaram em 20 países desde 2000, sendo que aí os destaques vão para o Canadá, Noruega, Suécia e Tailândia, todos eles com um aumento superior a 5%.

Andreas Schleicher, Chefe de Divisão e Coordenador do Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE, disse em Davos, na Suíça, durante o Fórum Económico Mundial, que “é uma preocupação que cada vez mais jovens estejam a escolher o seu emprego de sonho de uma reduzida lista dos mais populares e tradicionais empregos, como professores, advogados ou gestores”. “Os inquéritos mostram que demasiados adolescentes estão a ignorar ou não têm consciência dos novos tipos de trabalho que estão a emergir, particularmente ao nível daqueles ligados à digitalização”, acrescentou.

Apesar desta maior concentração, em Portugal a tendência até seguiu o caminho inverso. No PISA 2000, um total de 55% dos alunos portugueses inquiridos esperavam trabalhar num dos 10 trabalhos mais citados quando chegassem aos 30 anos. Já na última edição deste conhecido teste de aptidões, metade dos alunos portugueses citaram um desses 10 trabalhos mais populares, registando-se um decréscimo de 5%. Os alunos portugueses surgem lado a lado com os seus colegas da Irlanda, dos Estados Unidos, Espanha, Grécia, Canadá e Rússia.

Segundo o relatório, as aspirações profissionais são mais amplas em países com uma forte formação profissional para adolescentes. Na Alemanha e na Suíça, por exemplo, menos de 40% dos jovens expressaram interesse em apenas estes trabalhos. Por outro lado, na Indonésia 52% das raparigas e 42% dos rapazes antecipam apenas uma de três carreiras, nomeadamente gestores, professores e doutores, entre as raparigas, e forças armadas, entre os rapazes.

O estudo refere ainda que, entre os alunos que obtiveram melhores resultados, existe uma grande diferenciação entre os alunos mais privilegiados e os menos privilegiados quanto à sua ambição de seguir para o ensino superior. Ao nível dos primeiros, cerca de 7% não esperam seguir para o ensino superior, enquanto nos segundos esse número sobe para cerca de 27%. Portugal segue a média dos países inquiridos, registando 26% ao nível dos mais prestigiados e cerca de 3% nos alunos com condições socioeconómicas mais favoráveis.

Por fim, os alunos portugueses surgem em grande destaque no que toca a uma diferenciação de género ao nível das expectativas profissionais daqueles que obtiveram melhores resultados. Quase metade dos rapazes esperam trabalhar na área das engenharias ou da ciência, enquanto apenas 15% das raparigas pretendem seguir esses caminhos.

“Estes resultados oferecem aos países uma indicação do enfraquecimento do mercado laboral e assinalam a importância de existir um maior treino das jornadas futuras dos jovens ao nível da educação. Sugerem ainda que as expectativas atuais dos jovens podem ser antiquadas e irrealistas, uma vez que os dados mostram que a grande maioria dos inquiridos pretende seguir trabalhos que têm pouca probabilidade de ser seguros no futuro”, conclui o relatório.