O número de casos de infeção com o novo coronavírus disparou ontem na China, com as autoridades a confirmarem 549 doentes, mais 200 do que no dia anterior, e o número de mortes a subir de seis para 17. O país tenta conter o surto em Wuhan. Na cidade onde o vírus foi detetado e onde se concentram a maioria dos casos, os transportes públicos foram suspensos e o aeroporto está também encerrado temporariamente, avançou a imprensa chinesa.
A acompanhar a evolução da situação, a Organização Mundial de Saúde não chegou a uma decisão sobre se existem fundamentos para declarar o surto uma emergência de saúde pública de importância de internacional. O diretor-geral da OMS Tedros Adhanom explicou em conferência de imprensa que os peritos precisam de mais dados, tendo convocado uma nova reunião para esta quinta-feira. “A decisão sobre declarar ou não uma emergência de saúde pública de importância internacional é algo extremamente sério e que só estou preparado para fazer com uma consideração adequada de todas as evidências”, afirmou, citado pela CNBC.
Também o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC), que ontem publicou um novo relatório com uma análise sobre a evolução do surto, admitiu a falta de informação epidemiológica detalhada, o que contribuiu para alguma incerteza na análise do risco.
O relatório publicado pelo ECDC – que mantém que o risco de importação do vírus para a Europa é moderado – assinala alguns pontos sobre os quais existem para já poucos dados. Se no início do surto os casos estavam todos ligados a um mercado de Wuhan, o historial de exposição a este mercado encerrado desde 1 de janeiro ou a outros mercados onde a população possa ter contacto com animais – que se suspeita que tenham sido os transmissores do vírus – é desconhecido nos casos confirmados nos últimos dias.
O ECDC diz também haver “informação limitada” sobre as características epidemiológicas e clínicas da infeção causada pelo novo coronavírus. “Na ausência de informação detalhada sobre as investigações do surto na China, não é possível quantificar a extensão da transmissão de humano para humano.” O ECDC reporta não ter tido acesso ao algoritmo usado na China para identificar novos casos de coronavírus, o que torna difícil avaliar a severidade da doença, já que se admite que no início dos doentes foram diagnosticados já após um diagnóstico de pneumonia. Ainda assim, segundo a informação disponível, estima-se que 20% dos doentes infetados adoeceram gravemente. As autoridades chinesas indicaram ontem que dos casos confirmados, apenas 26 estão curados.
A tónica é de que o alerta é para manter, sobretudo pelo facto de estar-se no período festivo do Ano Novo Chinês, aquele em que os chineses fazem mais viagens quer dentro do país quer para visitar família no estrangeiro. O ECDC assinala ainda que durante o mês de janeiro são esperadas mais de 300 mil voos da China a países da União Europeia.
Em Portugal, para já, não vai ser implementado o rastreio de passageiros à entrada do país, uma medida que foi implementada já em alguns aeroportos internacionais, por exemplo nos Estados Unidos e em Roma. A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicou ontem à TVI que há um protocolo com embarcações para sinalização de pessoas que apresentem sintomas e que aguarda as recomendações da OMS, sendo que habitualmente o rastreio é feito à saída dos países com casos registados. A diretora-geral da Saúde explicou também que até ao momento não existem casos suspeitos no país e que vão ser definidos locais de isolamento caso surjam suspeitas. Será também disponibilizada uma linha de apoio aos médicos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros recomendou ontem aos viajantes com destino à China e regiões limítrofes que se mantenham informados e aconselhou os residentes a tratar da inscrição insular. Da parte das autoridades chinesas, o pedido é para que ninguém vá a Wuhan ou saia da cidade, a menos que existam circunstâncias especiais. “Desta forma conseguiremos reduzir o fluxo de pessoas e diminuir a possibilidade de contágio e assim a prevenção e controlo poderá ter sucesso”, defendeu Li Bi, vice-presidente da comissão nacional de saúde do país.
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