Banca.  Saiba se o seu dinheiro  está seguro

Banca. Saiba se o seu dinheiro está seguro


Os alarmes têm vindo a soar em torno da fragilidade do sistema financeiro mundial. Os bancos estão preparados para reagir a uma nova crise? 


Os alarmes voltaram a soar com o relatório da consultora McKinsey que garante que mais de metade dos bancos mundiais estão demasiado fragilizados para sobreviverem a uma crise. E deu uma explicação: a maioria dos bancos não são economicamente viáveis porque os retornos não estão a acompanhar o ritmo de aumento dos custos das operações. Como solução, a consultora recomenda ao setor bancário que invista no desenvolvimento de tecnologia e que pondere novas fusões.

A ideia é simples: através de fusões, as instituições financeiras ganham escala e, desta forma, mantêm-se competitivas. “Acreditamos que estamos no fim de um ciclo económico e os bancos precisam de tomar decisões ousadas, porque não estão em grande forma”, chegou a referir Kausik Rajgopal, senior partner da consultora.

Em Portugal, o cenário parece ser de tranquilidade. O Banif faliu há mais de quatro anos, muitos anos antes tinha sido o BPN e a queda do Banco Espírito Santo (BES).

O certo é que continua, por vezes, a existir alguma desconfiança em relação à banca por parte dos clientes e a questão em torno da segurança acaba por continuar a ser relevante, principalmente a de saber se o dinheiro estará seguro se o banco falir.

E estará seguro? No caso dos depósitos, não há grandes dúvidas. Até 100 mil euros, todos os depósitos a prazo e contas à ordem estão salvaguardados pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Os problemas colocam-se se tiver mais de 100 mil euros concentrados numa só conta em seu nome. Aí é recomendável que disperse a poupança por várias instituições bancárias. Mas também aqui há soluções: em alternativa, adicione um titular à conta que não tenha ultrapassado, ele próprio, os 100 mil euros numa poupança nesse banco. Deste modo, qualquer um dos titulares pode assegurar o direito ao reembolso do dinheiro.

Diversificar investimento A verdade é que, por mais confiança que tenha no seu banco, é fundamental que perceba exatamente em que tipo de produtos está a investir (ver caixas ao lado). A explicação é simples: só assim tem a noção do risco que assume em cada aplicação. É inevitável que os investimentos mais rentáveis impliquem assumir algum risco, mas essa é uma decisão que lhe cabe apenas a si. Se prefere a prudência, opte por aplicações de baixo risco. O retorno pode ser igualmente baixo, mas o capital investido permanecerá mais seguro. O risco está diretamente relacionado com o valor que está disposto a perder, eventualmente, para atingir uma determinada rentabilidade.

No entanto, não se esqueça de que um dos principais inimigos do investidor poderá ser a sua própria natureza. No universo das emoções, o medo e a ambição excessiva, tal como a falta de disciplina dos investidores, são os obstáculos a todo este negócio. Para além da componente emocional, a grande maioria dos investidores não estão preparados nem mentalizados para assumir perdas, pelo que normalmente criam defesas mentais para manterem os seus investimentos.

Mas nem tudo são boas notícias. Não se esqueça que, em muitos casos, o banco é apenas intermediário da aplicação, não sendo responsável pela gestão do produto nem pela sua emissão. É o que acontece, por exemplo, com os planos poupança-reforma, com os fundos de investimento e com algumas obrigações. Mas, também nesses casos, uma eventual falência do banco não põe em risco o dinheiro que investiu. Perante uma situação dessas, só terá de mudar de intermediário financeiro.

Burlas. Cuidados a ter para não cair

Esquemas em pirâmide. Sinais de alerta

• Rendimentos acima do normal e garantidos: regra geral, é quase impossível encontrar um investimento fidedigno que reúna estas características. Uma empresa legítima não tem qualquer interesse em pagar indefinidamente taxas que lhe seriam ruinosas

• Recrutamento de novos membros: embora os promotores garantam que não é necessário recrutar, uma vez aceite o esquema, o participante apercebe-se de que pode ganhar muito mais se trouxer novos membros ou pode ser pressionado a fazê-lo

• Disparidade entre a informação: por norma, os sites dos esquemas têm pouca informação. É nas reuniões presenciais que surgem as promessas de rendimentos fáceis. Os representantes da empresa justificam-se com o argumento de quererem evitar as autoridades fiscais

• Manipulação psicológica: os promotores de esquemas fraudulentos tentam fazê-lo sentir que recusar a proposta seria dizer não à oportunidade da sua vida. A ostentação de bens de luxo insere-se nesta lógica de atuação

• Evitar o sistema bancário: a movimentação de dinheiro dentro do sistema bancário pode ser rastreável e as instituições financeiras têm o dever de comunicar transações anormais ou suspeitas. A maioria das burlas tentam, por isso, recorrer a alternativas. Sistemas de remessa postal, como a Western Union, ou de pagamento eletrónico, como o PayPal, estão entre os preferidos

Produtos versus Risco

PPR
Apesar de contratar, muitas vezes, um plano poupança-reforma (PPR) ao balcão, o banco funciona apenas como intermediário da venda e, se não for depositário do fundo, mesmo que feche, nada acontecerá ao PPR, a não ser que a empresa responsável também abra falência. Já se subscreveu o produto numa seguradora, só estará em risco se a companhia falir. Mas se o PPR estiver associado a um fundo autónomo, o dinheiro também estará seguro e tem de esperar até que a entidade gestora lhe indique um novo intermediário.

Contas e depósitos 
Pode ter até 100 mil euros depositados em cada banco, em contas à ordem ou em depósitos a prazo, que estes montantes estão sempre salvaguardados. Em caso de eventual encerramento da instituição e perante um cenário em que o banco não consiga reembolsar todos os depositantes, o Fundo de Garantia de Depósitos assegura esse reembolso. Este fundo é gerido pelo Banco de Portugal e só esta entidade tem poder para o acionar

Fundos 
O encerramento de um banco não tem impacto nas aplicações feitas pelos clientes em fundos de investimento, independentemente do molde: monetários, fundos de ações ou de obrigações, mistos, flexíveis e imobiliários, entre outros. Como o património dos fundos é autónomo do banco, este apenas assume o papel de intermediário. Em caso de crise pode ser ativada a garantia prestada pelo Sistema de Indemnização aos Investidores (SII), até 25 mil euros por titular e por instituição. 

Obrigações 
O grau de risco depende do tipo de obrigações em que aplicou o dinheiro. Por exemplo, se investiu em obrigações seniores do banco, estas têm prioridade na recuperação do capital investido (face a outras obrigações). Caso as obrigações sejam subordinadas do banco, não beneficiam dessa prioridade. Por estarem expostas a maior risco, estas obrigações têm, habitualmente, rentabilidades superiores. Se apostou em obrigações de entidades externas ao banco, o encerramento deste não tem qualquer impacto

Ações 
Comprar ações do banco é a aposta que coloca o seu dinheiro em maior risco. Se a instituição financeira (ou qualquer outra empresa) desaparecer, as respetivas ações perdem o seu valor e será impossível recuperar o dinheiro investido

Créditos 
O que acontece com grande parte das aplicações, que se mantêm a salvo em caso de encerramento do banco, também acontece com as dívidas. Por exemplo, se contratou um crédito para obras, compra de habitação, de automóvel ou pessoal, terá sempre de honrar os seus compromissos financeiros. E se o banco a quem pagava as prestações fechar, haverá sempre uma entidade a comprar os ativos desse banco, transferindo-se automaticamente o pagamento das prestações para essa entidade. Desta forma não haverá qualquer interrupção na cobrança das prestações e também não será necessária qualquer intervenção para proceder à alteração do credor