A oferta de lugares tornou-se o principal tema do debate na campanha interna das diretas do PSD, seja de processos passados, como a formação de listas de deputados, seja pela denúncia de troca de apoios por lugares, nos últimos dias, no combate entre Luís Montenegro e Rui Rio para a segunda volta eleitoral de dia 18. Mas a tensão é latente, ao ponto de o antigo presidente do PSD Luís Filipe Menezes deixar um alerta, em declarações ao i: “No caso do PSD, ganhe quem ganhar, o day after preocupa-me porque o ódio de muitos apoiantes dos dois candidatos (basta percorrer as redes sociais), o extremismo, as expressões agressivas que estão subjacentes ao que cada um escreve preocupa-me muito (…) Como é que podem unir o partido para as autárquicas? Como é que podem ganhar autárquicas? Eu conheço bem o PSD. Sinceramente, não estou a ver”.
O desabafo do antigo autarca de Vila Nova Gaia surge interligado com a análise do estado da sociedade, que também tem reflexos no PSD: “No meu entender, é também a tradução do que se está a passar em larga escala na sociedade portuguesa”, frisa o ex-dirigente ao i, alertando contra “uma agressividade” que se verifica em muitos setores da sociedade.
troca de mimos por lugares A três dias do final da campanha, o debate sobre a angariação de apoios é o tema mais forte. Luís Montenegro insistiu ontem na ideia de que há apoiantes de Rio, o atual líder e recandidato, a recolher apoios em troca de ofertas de lugares no futuro. O antigo líder parlamentar do PSD foi mais longe a apontar o dedo à direção de Rio: “Há membros da comissão política e até da comissão permanente a oferecer lugares em troca de apoios. Eu não ofereci lugares a ninguém”, declarou Montenegro numa entrevistaà Antena 1, deixando ainda no ar outra farpa em relação ao passado recente: “Há uma correlação direta entre os apoios que na altura foram granjeados pela atual liderança e, depois, a composição das listas”, leia-se de deputados. Ora, Montenegro referia-se ao conselho nacional de há um ano, em que Rio saiu reforçado com uma moção de confiança.
O presidente do PSD e recandidato ouviu estas críticas e acabou por classificar a ideia de oferta de lugares, em trocas de apoios, como uma “prática absolutamente lastimosa”, assegurando que “nunca na vida” fez tal coisa, citado pela RTP em declarações à imprensa. Antes tinha dito, numa entrevista à mesma estação: “Eu não sei o que é que as pessoas andam a fazer, mas acho que as pessoas são inteligentes, conhecem-me há já uns anos, e sabem que não vale a pena prometer nada porque eu não cumpro nada disso”. Mais tarde, reforçou a mensagem ao assegurar que se houver tal promessa, feita em seu nome, ela valerá “zero” e até fez o gesto com a mão para que não restassem dúvidas. Depois, acabou por também ele ripostar com uma insinuação ao adversário: “Ouço histórias do lado de lá ao contrário, histórias esquisitas que nem vou dizer…” A farpa estava lançada contra o adversário e dificilmente a campanha sairá deste registo.
apoio de Carreiras e Newton Ontem surgiram mais dois apoios para Luís Montenegro, alinhados na primeira volta com Pinto Luz: o autarca Luís Newton e Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais. Carreiras defendeu que a opção, no dia 18, terá de ser por Montenegro, para pôr fim ao “Socialistão”, como escreveu num artigo de opinião no i. O autarca voltou a defender que Rio tem uma “obsessão” com os militantes do partido, “não gosta deles”, e o PSD é hoje “um partido com uma base militante que já não enche um estádio de futebol”.
Em reação, o apoiante de Rui Rio e atual secretário-geral do PSD, José Silvano, foi curto na resposta: “Só tenho uma reação: os resultados foram vistos no último sábado”. A resposta ao i aludia à votação de Rio – que, entretanto, foi revista em baixa.
O conselho de jurisdição apurou que “Rui Rio obteve 15 546 votos (49,02%), Luís Montenegro alcançou 13 137 votos (41,42%) e Miguel Pinto Luz conseguiu 3030 votos (9,55%)”, segundo os dados da ata oficial. Assim, Montenegro e Pinto Luz tiveram, juntos, mais 621 votos que Rio. Mas na segunda volta nada está decidido e Rio tanto pode confirmar a vitória de dia 11 como Montenegro pode vir a ser o vencedor. Isto ainda que entre os apoiantes do candidato, o discurso seja menos entusiasta do que há duas semanas. A ordem é para cautelas. De realçar que houve 224 votos em branco e 145 nulos nas diretas dos sociais-democratas. E não se contabilizaram as 11 secções da Madeira, que agora deverão estar fechadas por ordem da comissão política regional.
Ontem, Luís Montenegro, que esteve com militantes em Oeiras, manifestou também a convicção de que haverá ex-líderes do PSD a votar nele no dia 18. Na mesma entrevista à Antena 1, o antigo líder parlamentar admitiu essa perceção: “Eu sei que há muitos líderes no PSD que votam em mim e que me apoiam. É a minha convicção. Falei com alguns. Sinto que tenho o apoio deles”, declarou Montenegro na sequência de uma pergunta sobre o papel de Passos Coelho, ex-primeiro-ministro.
Questionado ainda sobre o que fará se perder no dia 18, o candidato acabou por admitir: “Vou regressar à minha condição de militante de base e à minha profissão”. Esta foi a última pergunta da referida entrevista.
De realçar que Montenegro montou uma estratégia para captar o voto de quem se absteve no dia 11, enquanto Rio aposta mais nos distritos de Lisboa e Braga. A luta será voto a voto.