Um partido pouco livre que quer correr com Joacine


Joacine, como se disse, teve a cumplicidade dos outros partidos, mas foi deixando o seu, o Livre, à beira de um ataque de nervos. 


Quando se lê alguma coisa sobre a Revolução Soviética, facilmente entramos num mundo obscuro onde amigos de uma vida passaram a inimigos do dia para a noite. Milhões de pessoas, sem saberem muito bem porquê, entraram numa lista negra da qual muitas vezes só saíram mortas. Os partidos totalitários têm esse dom de quererem que os seus membros – e os outros – obedeçam à cartilha emanada das chefias. Nas últimas eleições livres de Portugal, muitos se indignaram com a eleição do deputado do Chega, um homem que só não foi classificado pior do que Hitler por uma unha negra. André Ventura tinha até a vantagem de dizer ao que ia e de se assumir como o rosto desse projeto musculado contra a criminalidade, pedófilos e mais umas tantas ideias sobre os costumes. Claro que lhe caiu tudo em cima, fazendo precisamente o que o deputado do Chega queria. Não para de subir nas sondagens, é um dos meninos traquinas do Parlamento, dá dores de cabeça aos outros e até admite chatear Marcelo Rebelo de Sousa, acreditando que pode ter mais de 10% dos votos. A outra eleição que surpreendeu o Parlamento foi a de Joacine. Sobre este facto, nenhum deputado questionou o lado radical do Livre e a deputada gozava até de uma certa simpatia – que foi desaparecendo com episódios como o do GNR para a proteger e ao seu assessor nos corredores da AR. Joacine, como se disse, teve a cumplicidade dos outros partidos, mas foi deixando o seu, o Livre, à beira de um ataque de nervos. A História, como também sabemos, tem histórias muito divertidas. Com o protagonismo de Joacine a acontecer nem sempre pelas melhores razões, o partido que tem o fundador e “dono” fora da direção nacional, mas que é o farol político, quer agora que a deputada renuncie ao seu lugar no Parlamento. Esta é pelo menos a intenção dos subscritores de uma moção que vai ser discutida na convenção do partido. Diz(em) o(s) seu(s) autor(es) que a deputada levou “à degradação da imagem pública e da credibilidade do partido” e que não está preparada para o cargo. Mas não sabiam quem era Joacine antes de chegar à AR? Ou não gostaram que a deputada não tivesse seguido o guião à risca? Os radicais não têm emenda.