Instabilidade continua a ser palavra de ordem no reino do leão. A contestação a Frederico Varandas continua, com os pedidos de demissão a serem cada vez mais uma constante no mandato do presidente eleito há menos de um ano e meio (setembro de 2018).
Três meses depois de ter começado a recolher as assinaturas necessárias (pelo menos, mil válidas), o movimento Dar Futuro ao Sporting entregou esta terça-feira um pedido para a realização de uma Assembleia Geral que visa única e exclusivamente destituir a atual direção liderada por Varandas – bem como os restantes órgãos sociais do clube.
A documentação foi na tarde de ontem recebida por Rogério Alves, presidente da mesa da assembleia-geral (MAG) dos leões, no Estádio José Alvalade.
“Queremos agradecer aos sócios que nos ajudaram, estiveram connosco e acreditaram em nós. Também dar uma palavra a todos os sócios que estão no estrangeiro e que nos deram muita força para estarmos aqui e seguir em frente com aquilo que queremos: que no futuro haja Sporting como há hoje”, disse Carlos Mourinha, um dos líderes do movimento, em declarações aos jornalistas presentes em Alvalade. Recorde-se que há cerca de um mês, António Delgado, outro dos principais rostos desta campanha, já tinha deixado claro que o que move este grupo de adeptos ultrapassa os maus resultados desportivos, prendendo-se sobretudo com a incompetência da atual direção do conjunto verde–e-branco. “Não são os atuais resultados desportivos, apesar de estes serem desastrosos”, mas a “incompetência total e atroz” da atual direção, disse, no início do mês de dezembro, à Rádio Renascença, garantindo sentir que esta era uma vontade da maioria dos sócios leoninos.
Para além das assinaturas, a iniciativa encabeçada por António Lonet Delgado, Filipe Cuco Ferreira e Carlos Mourinha conseguiu também o valor necessário para pagar o local de realização da AG e os custos com pessoal envolvidos.
É, porém, de salientar que embora o Movimento Dar Futuro ao Sporting tenha aparentemente cumprido com todos os requisitos exigidos para convocar a AG extraordinária, esta pode não chegar a ver a luz do dia.
Assinaturas não são suficientes Em novembro último, altura em que o movimento anunciou pela primeira vez que já tinha as assinaturas necessárias para avançar com o processo, Rogério Alves explicou de imediato as restantes condicionantes envolvidas num possível pedido de marcação de uma AG destitutiva. Basicamente, além das mil assinaturas recolhidas, a MAG terá de analisar os fundamentos jurídicos, tendo um prazo de 30 dias para decidir se estes são suficientes para a marcação da reunião magna.
“A mesa, no cumprimento de um dever e exercendo a autoridade da sua legitimidade, irá verificar se o pedido cumpre as condições estatutárias necessárias para dar origem a uma assembleia-geral. É preciso que as assinaturas totalizem pelo menos 1000 votos, e terá de vir acompanhada de uma justa causa, que caberá à mesa analisar”, disse na altura, em entrevista à Sporting TV. “Assumindo que tem a finalidade de destituir os órgãos sociais do clube, tem de se verificar se são invocadas razões que constituam a justa causa de que o estatuto fala. Se não fosse assim, o estatuto diria que existindo 1000 votos que queiram a demissão, teria de se ir a votos. O que está escrito é que a destituição do conselho diretivo acontece havendo justa causa. É preciso perceber se a justa casa é, ou não, elegível de acordo com os estatutos”, continuou o dirigente.
Conclusão: a MAG pode chumbar os argumentos apresentados na justa causa, o que determina que a AG não se realiza.
Confrontado com este assunto, Mourinha desvalorizou o tema, afirmando mesmo que a justa causa não é necessária. “Quem decide a justa causa são os sócios. No fim vamos mostrar a justa causa que vamos agora apresentar a Rogério Alves”, rematou.
De notar que em última análise, caso o pedido seja chumbado, existe a possibilidade de um recurso para os tribunais civis para deliberar sobre essa matéria.
A 4 de janeiro, dia em que o movimento anunciou a data de entrega da documentação necessária tendo em vista a marcação da referida AG, o Dar Futuro ao Sporting lançava duras críticas ao presidente. No página oficial do Facebook, a iniciativa lamentava o rumo do clube, “cada vez mais fechado para os seus sócios e aberto apenas a quem se aproveita dele”. “O lema ‘Unir o Sporting’ [utilizado por Frederico Varandas na sua campanha] há muito que deixou de fazer sentido. Dividir para reinar passou a ser o caminho escolhido pelos Órgãos Sociais para a manutenção de cargos e hierarquias, com as quais todos são beneficiados exceto o Sporting”, podia ler-se.
No mesmo comunicado, o grupo de adeptos pedia a demissão de Frederico Varandas: “Estamos preocupados com a sua doentia procura de divisão entre Sócios (e adeptos) do Sporting. [….] Estamos preocupados, visto que existem membros da direção que usam os seus cargos no Sporting para benefício pessoal. […] Por tudo isto, Dr. Frederico Varandas, faça uso da sua alcunha e demita-se! Dê a palavra aos Sócios”.
Atualmente, os leões ocupam o quarto lugar da Liga portuguesa, a 16 pontos do líder Benfica e a 12 pontos do segundo lugar, ocupado pelo FC Porto. A equipa de Silas segue ainda na defesa do título da Taça da Liga, em que está apurada para a final four, além dos 16-avos-de-final da Liga Europa.
De resto, o conjunto leonino já se despediu da Supertaça Cândido de Oliveira (perdeu ante o Benfica) e da Taça de Portugal, em que foi eliminado precocemente pelo Alverca, na 3.ª eliminatória da prova, na qual era campeão em título.
A instabilidade em Alvalade tem sido, aliás, uma constante – e promete continuar. Além dos fracos resultados em campo, a guerra com as claques tem também sido tema em agenda ao longo da presente época. Recorde-se que Varandas rescindiu “com efeitos imediatos” os protocolos com os grupos de adeptos organizados (Juventude Leonina e Diretivo xxi), tendo como base da decisão a “escalada de violência”.
Varandas recebido pelo Governo A violência no desporto será, de resto, o tema principal em discussão esta quarta-feira, com Frederico Varandas a ser recebido pelo secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, Antero Luís, e pelo secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo. “O tema da segurança no contexto desportivo tem vindo a ser acompanhado pelo Ministério da Administração Interna e pelo Ministério da Educação, em constante diálogo e articulação com as diferentes entidades com responsabilidades na matéria, nomeadamente clubes e associações desportivas”, lê-se no comunicado emitido pelo Ministério da Administração Interna, que anunciou a marcação da reunião para as 10h30.
Este encontro acontece depois de o Sporting ter considerado que a violência no desporto é um “problema da sociedade portuguesa”, apelando frequentemente à intervenção do Estado nestas situações.
“Não é já apenas um problema do Sporting, é também um problema do futebol português, é também um problema do Estado Português e não há mais tempo, nem mais pretextos, para que se continue a assobiar para o lado perante as evidências e perante os gravíssimos sinais que todos podem observar”, escreveu o clube, após o coro de insultos de que equipa de futebol foi alvo na chegada aos Açores, antes da visita ao Santa Clara.