Vinte-Vinte


Em 1763 Voltaire inicia o seu Tratado Sobre a Tolerância afirmando que “o assassinato de (Jean) Calas, cometido em Toulouse, com o gládio da justiça, aos 9 de março de 1762, é um dos mais singulares acontecimentos que merecem a atenção da nossa era e da posteridade.” Resumidamente, a história da morte de Jean Calas…


Em 1763 Voltaire inicia o seu Tratado Sobre a Tolerância afirmando que “o assassinato de (Jean) Calas, cometido em Toulouse, com o gládio da justiça, aos 9 de março de 1762, é um dos mais singulares acontecimentos que merecem a atenção da nossa era e da posteridade.”

Resumidamente, a história da morte de Jean Calas é a história de um comerciante protestante de 68 anos condenado à morte por ter assassinado o seu filho, sem, contudo, ter cometido o crime de que o acusaram. Mas a conjuntura social em que Calas vivia levou à sua acusação fruto da opinião da horda que levada por fanatismo por intolerância levou o sistema judicial a condenar o mercador de 68 anos à morte.

Mutatis mutandis, conseguimos encontrar nesta breve história com mais de dois séculos um pouco daquilo que vivemos neste século XXI.

A intolerância exacerba-se diariamente e a empatia é hoje substantivo sem substância. Para tal muito têm contribuído as redes sociais e os profissionais do ódio que por lá proliferam em nome de uma qualquer agenda ideológica, económica ou simplesmente a mesquinhez e inveja que se escondem no manto do anonimato.

Iniciado que está o ano de 2020 com a morte do influente general iraniano Qasem Soleimani, por ordem direta do Presidente Trump e tendo em conta a conta do Twitter de Donald Trump esta terá sido uma ação militar com os olhos postos na mobilização da sua base eleitoral interna rumo à a reeleição no final do ano e cujos efeitos são totalmente imprevisíveis.

Trump é paradigma da forma como o mundo tem vindo a regredir no discurso, na ação e essencialmente na intolerância com que todos começam a agir. Falamos para os nossos, os que nos seguem, os que pensam como nós e ignoramos, vilipendiamos e ofendemos todos aqueles que não vêem o mundo da mesma forma que nós.

Tudo está à vista e em degradação acelerada. Estados que não se entendem quanto à emergência climática; conflitos institucionais sem fim à vista no seio da União Europeia; aumento do ódio, intolerância religiosa, étnica, racial e política e, consequentemente, o crescimento do aproveitamento populista e demagógico, amplificado pelos tribunais populares das opiniões nas redes sociais e nas caixas de comentários dos sites de internet da comunicação social.

É este o “admirável” mundo novo que se inicia em 2020 e cuja direção não consigo sequer vaticinar.

Por isso os meus votos para este ano é que consigamos ser todos mais tolerantes uns com os outros. Se o formos, talvez, as coisas melhorem.

Bom ano de 2020 para todos! 

 

Pedro Vaz   

Vinte-Vinte


Em 1763 Voltaire inicia o seu Tratado Sobre a Tolerância afirmando que “o assassinato de (Jean) Calas, cometido em Toulouse, com o gládio da justiça, aos 9 de março de 1762, é um dos mais singulares acontecimentos que merecem a atenção da nossa era e da posteridade.” Resumidamente, a história da morte de Jean Calas…


Em 1763 Voltaire inicia o seu Tratado Sobre a Tolerância afirmando que “o assassinato de (Jean) Calas, cometido em Toulouse, com o gládio da justiça, aos 9 de março de 1762, é um dos mais singulares acontecimentos que merecem a atenção da nossa era e da posteridade.”

Resumidamente, a história da morte de Jean Calas é a história de um comerciante protestante de 68 anos condenado à morte por ter assassinado o seu filho, sem, contudo, ter cometido o crime de que o acusaram. Mas a conjuntura social em que Calas vivia levou à sua acusação fruto da opinião da horda que levada por fanatismo por intolerância levou o sistema judicial a condenar o mercador de 68 anos à morte.

Mutatis mutandis, conseguimos encontrar nesta breve história com mais de dois séculos um pouco daquilo que vivemos neste século XXI.

A intolerância exacerba-se diariamente e a empatia é hoje substantivo sem substância. Para tal muito têm contribuído as redes sociais e os profissionais do ódio que por lá proliferam em nome de uma qualquer agenda ideológica, económica ou simplesmente a mesquinhez e inveja que se escondem no manto do anonimato.

Iniciado que está o ano de 2020 com a morte do influente general iraniano Qasem Soleimani, por ordem direta do Presidente Trump e tendo em conta a conta do Twitter de Donald Trump esta terá sido uma ação militar com os olhos postos na mobilização da sua base eleitoral interna rumo à a reeleição no final do ano e cujos efeitos são totalmente imprevisíveis.

Trump é paradigma da forma como o mundo tem vindo a regredir no discurso, na ação e essencialmente na intolerância com que todos começam a agir. Falamos para os nossos, os que nos seguem, os que pensam como nós e ignoramos, vilipendiamos e ofendemos todos aqueles que não vêem o mundo da mesma forma que nós.

Tudo está à vista e em degradação acelerada. Estados que não se entendem quanto à emergência climática; conflitos institucionais sem fim à vista no seio da União Europeia; aumento do ódio, intolerância religiosa, étnica, racial e política e, consequentemente, o crescimento do aproveitamento populista e demagógico, amplificado pelos tribunais populares das opiniões nas redes sociais e nas caixas de comentários dos sites de internet da comunicação social.

É este o “admirável” mundo novo que se inicia em 2020 e cuja direção não consigo sequer vaticinar.

Por isso os meus votos para este ano é que consigamos ser todos mais tolerantes uns com os outros. Se o formos, talvez, as coisas melhorem.

Bom ano de 2020 para todos! 

 

Pedro Vaz