Por um espaço público esteticamente equilibrado


Mesmo sem ser candidato a comprador de uma parcela de alguns edifícios, tenho, ainda assim, o direito de me pronunciar sobre o impacto que eles projectam sobre o espaço de que eu, e outros cidadãos, munícipes ou não, devemos poder desfrutar.


Há dias, saía eu da estação da CP de Cascais, dei com um grupo de pessoas em agitada cavaqueira, enquanto olhavam para a fachada de dois novos prédios que ficam no largo que lhe é fronteiro.

Os referidos edifícios, ainda não completamente construídos, exibem já, em toda a sua dimensão, uma armadura preta, uma espécie de gradeamento, que era precisamente o que, na altura, concitava atenção escandalizada daquele grupo de animados cidadãos.

Uns, mais exaltados, indignavam-se com o que diziam ser a fealdade absoluta da obra, outros, mais cautelosos com as apreciações estéticas, ressaltavam apenas o ar soturno que o dito gradeamento impunha ao edifício e, portanto, também, ao largo da estação.

No geral, todos concordavam, porém, que aquele novo conjunto de edifícios destoava por completo dos restantes que circundam aquela praça, que, não sendo notáveis, são, ainda assim, equilibrados e harmónicos.

Perto dali, no outro lado da marginal, onde ficava o antigo Hotel Estoril-Sol, encontra-se, também, um combinado de blocos de grandes dimensões que, para além da sua pouca originalidade arquitectónica, dá a impressão, por desmesurado, de não caber bem no espaço que lhe foi destinado, alterando ainda, por completo, o perfil da vila de Cascais.

Não muito longe, situa-se, o ainda mais despropositado deles todos: o edifício do centro comercial Cascais Villa, que, por pudor, me eximo de apreciar.

Não sendo urbanista, nem arquitecto, nem sequer especialista em direito do urbanismo e construção e, muito menos, construtor ou negociante de imóveis, limito-me a reflectir sobre este assunto, enquanto cidadão com direito a usufruir de um espaço público amável e compensado.

Mesmo sem ser candidato a comprador de uma parcela de qualquer dos edifícios, tenho, ainda assim, o direito de me pronunciar sobre o impacto que eles – mais o do referido centro comercial – projectam sobre o espaço público, de que eu e os outros cidadãos, munícipes ou não, devemos poder desfrutar.

Daí, juntar o meu testemunho crítico ao daqueles cidadãos boquiabertos que, no outro dia, se animavam na estação da CP de Cascais contestando exuberantemente a degradação estética que, de tais edifícios novos, resulta para um largo que – esse sim – também é meu e deles.

Há anos, em conversa com uma juiz italiana de Veneza que visitava o nosso país e procurara conhecer a o mosteiro da Batalha, dizia-me ela que o referido monumento era belíssimo e que lamentava apenas o seu horrível enquadramento externo.

Repliquei-lhe, em tom de desculpa envergonhada, que, porventura, a causa estaria nos negócios menos recomendáveis que, em torno desse e doutros enquadramentos urbanos, teriam sido feitos em anos mais recentes.

Ao que a minha interlocutora atalhou breve que, em matéria de negócios estranhos, pior do que em Itália não era possível acontecer, só que os não mais escrupulosos italianos tinham, apesar de tudo cultura, o que, obstava a cedências ao mais descarado mau gosto ou a exibicionismos de novos-ricos.  

Diria eu, agora, e ela concordaria por certo, que teriam, também, mais respeito pelo bem comum e pela fruição colectiva que deve proporcionar um espaço partilhado por todos e que é independente do gosto e proveito dos proprietários dos edifícios que o enquadram.

Por essas e outras razões, algumas pessoas mais endinheiradas e não disponíveis para regateios ou manifestações cívicas, têm-se vindo a entrincheirar, também na zona de Cascais, em condomínios fechados com enquadramentos urbanísticos soberbos, mas rigorosamente privados.

Se não se tivessem isolado do resto da sociedade e prescindido, de vez, da defesa do bem comum, estou certo que continuariam a velar pelo espaço público e a sua estética, como em séculos anteriores, apesar de tudo, muitos dos seus antepassados fizeram.  


Por um espaço público esteticamente equilibrado


Mesmo sem ser candidato a comprador de uma parcela de alguns edifícios, tenho, ainda assim, o direito de me pronunciar sobre o impacto que eles projectam sobre o espaço de que eu, e outros cidadãos, munícipes ou não, devemos poder desfrutar.


Há dias, saía eu da estação da CP de Cascais, dei com um grupo de pessoas em agitada cavaqueira, enquanto olhavam para a fachada de dois novos prédios que ficam no largo que lhe é fronteiro.

Os referidos edifícios, ainda não completamente construídos, exibem já, em toda a sua dimensão, uma armadura preta, uma espécie de gradeamento, que era precisamente o que, na altura, concitava atenção escandalizada daquele grupo de animados cidadãos.

Uns, mais exaltados, indignavam-se com o que diziam ser a fealdade absoluta da obra, outros, mais cautelosos com as apreciações estéticas, ressaltavam apenas o ar soturno que o dito gradeamento impunha ao edifício e, portanto, também, ao largo da estação.

No geral, todos concordavam, porém, que aquele novo conjunto de edifícios destoava por completo dos restantes que circundam aquela praça, que, não sendo notáveis, são, ainda assim, equilibrados e harmónicos.

Perto dali, no outro lado da marginal, onde ficava o antigo Hotel Estoril-Sol, encontra-se, também, um combinado de blocos de grandes dimensões que, para além da sua pouca originalidade arquitectónica, dá a impressão, por desmesurado, de não caber bem no espaço que lhe foi destinado, alterando ainda, por completo, o perfil da vila de Cascais.

Não muito longe, situa-se, o ainda mais despropositado deles todos: o edifício do centro comercial Cascais Villa, que, por pudor, me eximo de apreciar.

Não sendo urbanista, nem arquitecto, nem sequer especialista em direito do urbanismo e construção e, muito menos, construtor ou negociante de imóveis, limito-me a reflectir sobre este assunto, enquanto cidadão com direito a usufruir de um espaço público amável e compensado.

Mesmo sem ser candidato a comprador de uma parcela de qualquer dos edifícios, tenho, ainda assim, o direito de me pronunciar sobre o impacto que eles – mais o do referido centro comercial – projectam sobre o espaço público, de que eu e os outros cidadãos, munícipes ou não, devemos poder desfrutar.

Daí, juntar o meu testemunho crítico ao daqueles cidadãos boquiabertos que, no outro dia, se animavam na estação da CP de Cascais contestando exuberantemente a degradação estética que, de tais edifícios novos, resulta para um largo que – esse sim – também é meu e deles.

Há anos, em conversa com uma juiz italiana de Veneza que visitava o nosso país e procurara conhecer a o mosteiro da Batalha, dizia-me ela que o referido monumento era belíssimo e que lamentava apenas o seu horrível enquadramento externo.

Repliquei-lhe, em tom de desculpa envergonhada, que, porventura, a causa estaria nos negócios menos recomendáveis que, em torno desse e doutros enquadramentos urbanos, teriam sido feitos em anos mais recentes.

Ao que a minha interlocutora atalhou breve que, em matéria de negócios estranhos, pior do que em Itália não era possível acontecer, só que os não mais escrupulosos italianos tinham, apesar de tudo cultura, o que, obstava a cedências ao mais descarado mau gosto ou a exibicionismos de novos-ricos.  

Diria eu, agora, e ela concordaria por certo, que teriam, também, mais respeito pelo bem comum e pela fruição colectiva que deve proporcionar um espaço partilhado por todos e que é independente do gosto e proveito dos proprietários dos edifícios que o enquadram.

Por essas e outras razões, algumas pessoas mais endinheiradas e não disponíveis para regateios ou manifestações cívicas, têm-se vindo a entrincheirar, também na zona de Cascais, em condomínios fechados com enquadramentos urbanísticos soberbos, mas rigorosamente privados.

Se não se tivessem isolado do resto da sociedade e prescindido, de vez, da defesa do bem comum, estou certo que continuariam a velar pelo espaço público e a sua estética, como em séculos anteriores, apesar de tudo, muitos dos seus antepassados fizeram.