7 de janeiro de 1964. Mau tempo sobre o Atlântico: a Madeira está isolada!

7 de janeiro de 1964. Mau tempo sobre o Atlântico: a Madeira está isolada!


A farra do fim do ano deu lugar a uma terrível contrariedade: mais de 600 turistas não conseguiam deixar a ilha.


A ressaca prolongou-se. E deu numa ressaca ainda pior. Ventos poderosos começaram a soprar sobre as ilhas de Zarco, uma tempestade assustadora fez tremer o Atlântico, a Madeira e Porto Santo ficaram isolados. O aeroporto de Santa Catarina, em Santa Cruz, não passava de um aeródromo. Inaugurado precisamente nesse ano de 1964, só recebia aviões de pequena envergadura que, com as rajadas que assolavam o arquipélago, se transformariam em aviõezinhos de papel.

Mais de 600 turistas que tinham arribado ao Funchal para assistirem aos habituais fogos-de-artifício ali ficaram, remetidos aos hotéis, impedidos de regressar a casa. Um grupo de suecos barafustou, como se a culpa da intempérie fosse possível de lançar sobre os ombros lusitanos. Eram 150, todos trabalhadores da mesma empresa. Ora, a empresa não funcionava sem eles, pelo que os patrões desesperaram e decidiram agir. Mandaram para Porto Santo um avião, um Douglas DC 6-B, e o piloto afirmou que iria, por sua conta, fazer o transporte dos suecos aprisionados na Madeira. Os agentes turísticos escandinavos aplaudiram alegremente a ideia temerária. Afinal, estavam a arcar com as despesas de estadia dos frustrados turistas. Mas ainda havia limites para a falta de senso. De Lisboa veio a ordem expressa de não autorizar a aventura. Os riscos eram imensos.

Os telégrafos e telefones funcionavam como podiam. E não podiam muito. Além de que, quando alguém procurava fazer uma ligação, encontrava geralmente as linhas entupidas. Os foliões da passagem do ano tinham trocado a boa pela má disposição. Ora batatas, era demais! As horas iam correndo nos relógios da impaciência.

Dois navios, o Uíge e o Humbert, surgiram como solução para alguns. Mas apenas 70, o que era manifestamente pouco, zarparam do Funchal em direção a Lisboa.

Com a ligeira melhoria das condições atmosféricas, a TAP retomou os voos entre o Continente e Porto Santo. Mas Santa Catarina continuava inoperacional. O problema era agora o de tentar fazer uma ponte entre o Funchal e Porto Santo, mas os habituais barcos de carreira não podiam enfrentar a ferocidade do mar. Era preciso esperar, esperar ainda, para azar dos habitualmente fleumáticos suecos que, com o Douglas à distância de uns meros 70 quilómetros, começavam a amaldiçoar a ideia de um ano novo pleno de felicidade na ilha de todas as flores.

Para que o cenário ganhasse contornos de profunda ironia, nesse mesma tarde tinham chegado a Lisboa 80 noruegueses. A agência Nordisk Bustrafik devia andar distraída o suficiente para os trazer lá do norte da Europa com a promessa de uns dias de sol na Madeira e Porto Santo. Tiveram de se contentar com o Tejo e as colinas. O Atlântico não estava na disposição de lhes dar mais do que isso. Desenvolvera excessos de mau humor.