Durante demasiados anos, o sistema político português era fácil de explicar a uma criança: os partidos da direita eram conservadores e os partidos da esquerda progressistas. Poderão no entanto dizer-me que estou a ser demasiado simplista e que por exemplo a nível económico a direita sempre foi muito mais progressista – ou se preferirmos liberal – do que a esquerda.
A esquerda portuguesa sempre foi economicamente conservadora – mas nunca foi assim tão conservadora como os seus congéneres lá fora. Se olharmos para José Sócrates ou mesmo para António Costa, rapidamente percebemos que estão a anos luz de muito do radicalismo de Bernie Sanders ou de Jeremy Corbyn. O Primeiro Ministro português governa com a esquerda porque assim é obrigado, não necessariamente por sua convicção.
Por outro lado, a direita portuguesa – mesmo a que se diz liberal – sempre foi radicalmente conservadora também a nível económico. Vejamos o caso de Cavaco Silva e os milhões gastos em betão e alcatrão pelo Estado. Vejamos Passos Coelho e Paulo Portas que mesmo com maioria absoluta e com o FMI em Portugal não tiveram a coragem necessária para fazer as grandes mudanças que eram necessárias para liberalizar e projectar a nossa economia.
Hoje o cenário é um pouco diferente. Em todo o mundo, a esquerda moderada que Jean-François Revel em tempos batizou um dia como a esquerda do "Ni Marx ni Jésus" deixou-se acantonar ao seu extremo. O marxismo voltou reciclado e o envelhecimento e aburguesamento da esquerda radical fez com que os partidos revolucionários se deixassem enamorar pelos partidos sociais-democratas e trabalhistas. Juntos, esquerdistas radicais e esquerdistas moderados começam agora a provar que conseguem partilhar o bolo da governação – o balão de ensaio foi precisamente a Península Ibérica. Primeiro em Portugal e depois em Espanha.
À direita tudo mudou também. Se a esquerda se uniu, a direita separou-se. De um lado temos o surgimento de movimentos de cariz nacionalista ou populista – essencialmente securitários e que recuperaram muito do conservadorismo de pendor religioso que caracterizou a postura da direita quanto aos costumes nas últimas décadas. Esta direita ganhou o seu espaço e pelo menos em Portugal – como noutros países – terá que fazer parte de qualquer solução de governo não socialista que exista no futuro.
Do outro lado, ainda na direita, temos os partidos moderados ou se preferirmos tradicionais. Continuam a ser maioritários, mas perderam algumas das suas franjas quando evoluíram de um pensamento conservador nos costumes para uma visão liberal da sociedade na sua plenitude, em que o Estado tende a desaparecer quer na regulação da economia, quer na regulação da vida privada dos seus cidadãos. Em Portugal, em doses diferentes, este pensamento tem eco no PSD, no CDS e também na IL.
Voltemos então ao título desta crónica: a direita maioritária é hoje mais fresca e progressista do que a esquerda. A maioria da Direita aponta hoje para o futuro e a maioria da Esquerda olha com saudades para o passado – e esta é uma oportunidade que as novas lideranças do PSD, CDS e IL não podem desperdiçar. Basta para isso que tenham a destreza de mostrar aos eleitores que o progresso e a liberdade mudaram de lado.
Pedro Nuno Santos, o mais inteligente quadro do PS, dizia há uns meses que liberdade é a ideia que a esquerda "mais tem de disputar" à direita. Ele tem razão e é pena que à direita poucos ainda tenham visto isto – porque arriscam-se a perder esta disputa.
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