Mais um ano que passou e outro que já está à porta para nos receber.
A lista dos desejos para 2019 perdeu-se algures entre o mês de maio e o de junho. Estava lá tudo. Todas as boas decisões para tomar num só ano, os novos hábitos que me propus adotar para ter uma vida mais saudável, os desafios que defini para superar, ideias que faziam sentido e que pareciam ser indispensáveis de concretizar ao planear um novo ano, até os erros que deveria evitar a qualquer custo faziam parte dessa lista.
O ano começou e, dia a dia, foi passando, indiferente aos meus desejos e às minhas vontades que tinham sido desenhadas à secretária, como se de um plano de guerra se tratasse, com estratégias bem delineadas para alcançar os meus objetivos. Uma “to-do list” onde se concentravam vontades ainda não concretizadas e acumuladas de ano para ano, e outras que foram introduzidas pela primeira vez, num esforço de planear os doze meses seguintes, à revelia de todas as condicionantes que poderiam ocorrer.
O resultado foi semelhante aos dos anos anteriores e hoje, ao fazer o balanço de mais um ano, infelizmente concluo que não sei onde está a lista e que não me recordo de metade do que lá estava escrito. E não tem mal nenhum.
Os desejos para um novo ano são as coordenadas individuais que estabelecemos para nos dar um conforto e iludirem quanto ao controlo que temos sobre as nossas vidas. A nossa bússola interior rapidamente esquece as indicações que demos, baseadas na lista bem pensada e muito consciente, e regressa às coordenadas que residem no nosso subconsciente, as mesmas que determinam as nossas decisões do dia-a-dia.
São precisos 21 dias para adquirir novos hábitos na nossa rotina. Talvez seja melhor desejar correr durante 21 dias seguidos do que simplesmente desejar passar a correr todos os dias de 2020. Mas, melhor ainda, seria desejar praticar uma atividade física que me desse realmente muito gosto (difícil para mim, já que não sou muito atlética, nem consigo desfrutar do exercício físico como seria desejável) e lançar-me na descoberta de desportos até acertar naquele que me preencha.
Olhando para trás, realizei muitas atividades e alcancei propósitos que não foram planeados nos últimos dias de 2018, mas que foram surgindo e aos quais não me neguei a entregar. O caso do curso de Espanhol. Desde há muito tempo que acalentava a ideia de aprender italiano ou uma outra língua, assim tivesse mais disponibilidade para o fazer. Ainda não estava nos meus planos dedicar parte do meu tempo a esta ideia, mas aconteceu. E foi das melhores decisões que tomei e que marcaram 2019.
O tempo limita muitas das nossas escolhas. Temos dificuldade em reorganizar os horários a que estamos habituados e muitos de nós não prescindem do “dolce fare niente”, dia após dia. O mesmo tempo que é implacável connosco e que avança em silêncio, impercetível aos nossos sentidos, responsável pelo adiamento de tantos projetos e de tantas decisões. Não damos pelo tempo passar, mas sabemos que passa a correr.
A nossa presunção pecaminosa de que até o tempo controlamos é a evidência clara da nossa irresponsabilidade e ignorância.
Para 2020 quero tempo. Tempo para as minhas escolhas, para o que me faz bem e para quem me faz melhor. Quero ter a capacidade de refundar as estruturas temporais nos meus filamentos e adequá-las ao que já aprendi ao longo da vida que passou. O que realmente importa merece o que de mais precioso temos: o nosso tempo.
Escreve quinzenalmente
29 de dezembro de 2019