Enquanto a Austrália arde e o país está sob uma proibição total de fogos, foi feita uma exceção para os icónicos fogos de artifício durante a passagem de ano em Sydney, que atrai centenas de milhares de turistas todos os anos. Mas os críticos lembram que o país enfrenta uma onda de calor sem precedentes – este fim de semana as temperaturas ultrapassaram os 40ºC em todos os estados – e que o estado de Nova Gales do Sul, onde está localizada Sydney, é um dos mais afetados pelos incêndios – mais de uma centena estavam ativos na segunda-feira. Os níveis de poluição na cidade chegaram a picos sem precedentes – algo a que o fogo-de-artifício piorará.
“Os fogos-de-artifício de passagem de ano em Sydney deviam ser cancelados, uma decisão muito, muito fácil”, escreveu no Twitter John Barilaro, número dois do Governo regional de Nova Gales do Sul, rompendo com o discurso das autoridades, que autorizaram o espetáculo.
“O risco é muito alto e devemos respeitar os nossos exaustos bombeiros voluntários”, explicou Barilaro, juntando-se aos mais de 275 mil cidadãos que assinaram uma petição pedindo o cancelamento do espetáculo. “Já há fumo suficiente no ar”, lê-se na petição, que exigia que o dinheiro gasto fosse dedicado aos agricultores que perderam tudo nos incêndios, à proteção da natureza e aos bombeiros.Pelo menos dez pessoas morreram nos incêndios desde setembro – incluindo três bombeiros voluntários nos arredores de Sydney. Milhares de casas foram destruídas por todo o país, vastas extensões de território devastadas e teme-se que cerca de 30% dos coalas de Nova Gales do Sul tenham morrido.
Turismo ou saúde?
Sydney é uma das primeiras cidades do mundo a celebrar o ano novo, tradicionalmente com fogo-de-artifício, espetáculos de luz e som – a expectativa é que este ano as audiências televisivas ultrapassem os mil milhões de espetadores em todo o mundo. Este ano deverão ser lançadas mais de oito toneladas de explosivos, a partir de barcaças e pontões no porto da cidade, iluminando a icónica Opera e a Ponte da Baía de Sydney.
A presidente da câmara da cidade, Clover Moore, assegurou no Twitter que “cancelar os fogos-de-artifício agora traria muito poucos benefícios na prática”, notando que o orçamento já tinha sido gasto. Os serviços florestais deram luz verde ao fogo-de-artifício – apesar de terem sido cancelados no resto do país, incluindo na capital, Camberra. Outros lembraram a importância económica do evento, que este ano terá um custo estimado de 6,5 milhões de dólares australianos (cerca de 4 milhões de euros), mas gera o equivalente a 81 milhões de euros em turismo, segundo as estatísticas.
Contudo, muitos habitantes de Sydney não estão satisfeitos com os potenciais custos para a sua saúde. Um estudo de 2015 da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA mostrou um aumento significativo das partículas de pequenas dimensões no ar após fogos-de-artifício a larga escala, que se juntarão às partículas libertadas pelos fogos florestais.
Recorde que este mês o nível de partículas no ar em Sydney chegou a ser 11 vezes superior ao considerado “perigoso”. Na altura, testemunhas falaram de uma nuvem de fumo “apocalíptica” à BBC, assegurando que a cidade estava a sufocar. As consequências? Passam por um aumento de doenças respiratórias, como asma e bronquite ou de doenças cardíacas. Muitos habitantes da cidade recorrem a máscaras contra a poluição – vários média australianos lançaram artigos recomendando as mais adequadas.