Quando eu era miúdo, há muito, muito tempo, havia um anúncio na televisão (que hoje, aliás, seria certamente e por várias razões alvo de opróbrio) sobre o restaurador capilar Olex que repetia com ênfase “o que é natural e fica bem…” – e nem digo o que no anúncio era natural e ficava bem, sob pena de ser zurzido por total incorreção social, política, racial, capilar et cetera. Livra! Nem pensar. Apenas me lembrei do anúncio a respeito da pop star climática Greta Thunberg, e não foi por gostar ou desgostar do penteado da moça, nada disso. Isso é lá com ela, e também é lá com ela achar que sabe tudo. Na adolescência, é muito natural, e fica bem, acharmos que sabemos tudo. Todos nós assim fomos e todos os adolescentes assim serão: sabemos tudo, somos tudo; e os mais velhos, pouco ou nada. É muito natural. Qualquer adolescente é um adulto avant la lettre e um rematado sábio. Se assim não fosse, o mundo não seria mundo e a adolescência seria apenas um mar de medos, incertezas e erráticas hormonas, pontuado por borbulhas, más surpresas e mágicas descobertas.
O que já não acho natural, nem fica bem, é que os adultos achem que um adolescente é um adulto e o tratem como tal, mesmo que para isso se portem eles como adolescentes. Ou, pelo menos, pareçam. E é isso que tem acontecido, um pouco por todo o lado, com esta adolescente. Parece-me, salvo melhor opinião. O tema climático é importante? Sem dúvida, e muito. Deve preocupar-nos, mobilizar-nos, comprometer-nos, muito e a sério? Claro que sim. Indiscutivelmente. Já vamos tarde? Sim. Fez-se e faz-se muita coisa errada? Sim. Et cetera. Mas nada disso é novo, e Greta diz o óbvio, não havendo razão nenhuma para que se eleve a dita aos altares da santidade e menos ainda para que nos comportemos perante ela e o seu discurso com a histeria pop de adolescentes num concerto. Paremos um bocadinho e olhemos para as figuras que se têm feito aos imaculados pés da pitonisa climática. Um bocadinho demais, não?
Mais a mais, quando o discurso e o comportamento dela – sobre um tema muito importante e com bons propósitos, é verdade – têm pelo menos dois aspetos de que não gosto (para além da questão de saber que bem e que mal tudo isto lhe fará no futuro; mas isso é lá com ela e, sobretudo, com os pais). Primeiro, não gosto de um certo irrealismo do seu discurso, e ainda menos do radicalismo. Segundo, e principalmente, não gosto nada da raiva e da acusação subjacentes ao que diz, defende e clama. Não é assim que se constrói um mundo melhor, e mal fora se o mundo até hoje, apesar dos erros dos adultos, tivesse sido governado por adolescentes, cheios de certezas e de saber. Não é natural, nem fica nada bem. Que os deuses da modernidade pop me perdoem. Eu, que sou, creio, da chamada geração x, não acuso nenhuma outra letra e muito menos me enraiveço com quem me trouxe, melhor ou pior, até aqui. E pior estaria se me tivessem posto a decidir os destinos do mundo quando tinha inflamados 16 anos. Livra! O melhor do mundo são as crianças, claro. Mas as crianças não são o mundo, mesmo que desatemos todos aos gritinhos e a pedir-lhes autógrafos.
Escreve quinzenalmente à sexta-feira