PPP de Vila Franca poupou 30 milhões ao Estado

PPP de Vila Franca poupou 30 milhões ao Estado


Auditoria do Tribunal de Contas recomenda ao Ministério da Saúde que se baseie em evidência na hora de decidir o futuro do hospital.


O Estado poupou 30 milhões de euros entre 2013 e 2017 com a parceria público-privada do Hospital de Vila Franca de Xira, gerido pelo grupo José de Mello Saúde, face ao que teria gasto com gestão pública. A conclusão é de uma auditoria do Tribunal de Contas (TdC), a que o i teve acesso. Além de maior eficiência económica que os hospitais da mesma dimensão, só ultrapassada pelo Hospital de Braga (também uma antiga PPP do grupo Mello, que regressou em setembro à esfera pública), o TdC considera que o hospital teve um aproveitamento da capacidade instalada acima da média.

Os auditores concluem que o recurso ao modelo PPP permitiu ao Estado “substituir uma unidade hospitalar degradada, diferindo no tempo os encargos associados à construção e ao apetrechamento do novo hospital”, referindo-se à construção do novo hospital que substituiu o antigo Hospital Reynaldo dos Santos. Entre 2012 e 2017, a atividade de internamento e ambulatório praticamente duplicou, as consultas aumentaram 76% e as urgências cresceram 36%.

Mesmo assim, a partir de 2015 o acesso degradou-se, com o aumento das listas de espera e um pior cumprimento dos prazos de resposta que outros hospitais, o que o TdC considera resultar de uma subestimação da atividade contratada.

Reconhecendo que as limitações orçamentais são transversais no SNS, o TdC nota que, nos hospitais com gestão pública, a atividade é compensada com financiamento extraordinário, o que não acontece nas PPP. “A produção negociada entre as partes estabelece um limite para a oferta de cuidados de saúde programados que, se não for suficiente para a procura por parte dos cidadãos, limita efetivamente o acesso”, diz o TdC.

Numa altura em que ainda não é certo qual será o futuro do hospital – o atual contrato de gestão termina em maio de 2021 e o Governo poderá optar pelo regresso em definitivo à esfera pública ou pelo lançamento de um novo concurso para gestão privada –, os auditores recomendam à tutela que, considerando o valor acrescentado da parceria para o erário público, garanta que a decisão se baseia “em evidência que demonstre a relação custo-benefício da decisão na ótica do Estado, dos contribuintes e dos utentes do SNS”.

Recorde-se que o Governo decidiu não renovar automaticamente o contrato por pretender uma renegociação e o grupo privado não aceitou a proposta de prolongamento do atual contrato por mais dois anos. Assim sendo, a ministra da Saúde assumiu recentemente que não existe “calendário” para abrir um novo concurso até maio de 2021, mas não fechou o cenário. “Vai voltar às mãos do Estado, independentemente da decisão sobre a reversão estável ou relançamento de uma nova PPP”, disse ao Público. O debate em torno das PPP na saúde marcou a última legislatura, sendo o modelo contestado pelos partidos à esquerda. Agora é esperada a regulamentação da Lei de Bases da Saúde, de setembro, que determina a revogação do decreto de 2002 que define o regime jurídico das parcerias com privados na saúde, mas admite contratos temporários e supletivos com os setores social e privado, em caso de necessidade.

 

Padrões mais exigentes

Na auditoria, o TdC considera ainda que a gestão em PPP prevê mecanismos de controlo de qualidade dos serviços cuja implementação não é exigida aos hospitais em gestão pública. Recomenda uma extensão a todos os hospitais do SNS do mesmo tipo de monitorização, algo que o Governo garante, em contraditório, já estar a ser feito. Outro reparo prende-se com a falta de meios da Administração Regional de Saúde para acompanhar a execução do contrato “por limitações na contratação dos consultores externos devido a restrições orçamentais”.