Próxima segunda-feira ficaremos a saber quem defrontará quem nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões (e, já agora, nos 16-avos-de-final da Liga Europa). Pelo meio-dia de Nyon, Suíça, as bolinhas vão rodar nos copos. Bolinhas ricas, dir-se-á. A fase de grupos pôs fim a qualquer expetativa da classe operária do futebol da Europa. Os pobres e os desvalidos foram postos a andar, inevitavelmente despejados pela elite de um poder cada vez mais centralizado. Cinco países apenas têm representantes a partir de agora: Espanha, Inglaterra, França, Itália e Alemanha – uma demonstração de poder insofismável que parece abanar de vez a desconfiança da UEFA em relação ao Real Madrid e ao seu presidente, Florentino Pérez, que tem dado mostras de querer enveredar por uma nova competição, concorrente, na qual apenas coubessem os clubes mais ricos do continente. Esse campeonato da Europa de clubes já existe: é a Liga dos Campeões.
Já na época passada, a ameaça esteve à beira da concretização. Apenas Ajax e FC Porto romperam com a ditadura dos apatacados. E foram mais longe do que seria de esperar. Os portugueses, até aos quartos-de-final, naturalmente desfeitos pelo Liverpool; os holandeses, até às meias-finais, batidos pelo Tottenham. O problema é que a diferença vai-se alargando de forma avassaladora. Esta época, os portistas nem passaram dos play-offs, afastados por um anódino Krasnodar; os rapazes de Amesterdão ainda se bateram até á última jornada do seu grupo, mas a derrota caseira com o Valência atirou-os para o terceiro lugar, com o bisonho conforto de poderem prosseguir nessa espécie de ii Divisão europeia que, atenção, a pouco e pouco vai ficando mais robusta e já não apresenta as facilidades de tempos recentes, o que parece prometer para as épocas que se seguem uma verdadeira expulsão de todas as equipas de países de menor expressão futebolística. Veremos, veremos…
Os cinco! Resumimo-nos, portanto, aos cinco países mais ricos da Europa do futebol. Inglaterra e Espanha avançam a todo o vapor com quatro equipas cada – Liverpool, Manchester City, Tottenham e Chelsea; Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid e Valência – e têm nestes porta-aviões a capacidade de reforçarem a sua liderança no topo do ranking. A Alemanha e a Itália apresentam três apurados: Bayern de Munique, Borussia Dortmund e RB Leipzig; Juventus, Nápoles e Atalanta. A França completa o ramalhete dos bem-aventurados com Paris Saint-Germain e Lyon. Tendo em conta que o sorteio não permite que equipas do mesmo país se defrontem, bem como jogos entre os que saíram do mesmo grupo da fase anterior, prevê-se que os encaixes sejam praticamente adivinháveis. E, vamos e venhamos, se a tendência se mantiver nas próximas épocas, o que é totalmente previsível, em breve esta regra dos compatriotas terá de ser empurrada pelo cano sob o risco de nem sequer ser possível encaixar na tômbola papelinhos compatíveis. Não por acaso, Zinedine Zidane já soltou a sua voz maviosa e quase inaudível avisando que os merengues irão despachar o Liverpool, como se adivinhasse o que acontecerá no cantão de Vaud, nas margens do lago Leman, na segunda-feira que vem. Por seu lado, Jürgen Klopp já sabe que não terá pela frente nem o Manchester City, nem o Chelsea, nem o Tottenham, nem o Nápoles. Ah! Que diacho de sorteio tão pouco sorteado!
Triste vida de quem não tem poder. Gente como o Lille, o Genk, o Slavia de Praga, o Brugge e o Galatasaray nem uma vitória conseguiram nos seus seis jogos de grupo. Por seu lado, a Atalanta apurou-se com 7 pontos, os mesmos que o Benfica conseguiu, sendo o pior de todos os segundos classificados, só ligeiramente melhor do que o Lyon, com 8, tendo os restantes chegado aos 10 ou mais. De onde se conclui que o Benfica poderia muito bem ter quebrado esta ditadura dos soberanos e ganho, com isso, um prestígio que não seria despiciendo.
Agora não há nada a fazer. Seguem os encarnados para a Liga Europa, com todos os seus camaradas da classe operária despejados da Liga dos Campeões. Repare-se, no entanto, que a competição ainda está armadilhada com muitos representantes dos cinco grandes, como sejam, por exemplo, o Espanhol e Sevilha (Espanha); Manchester United, Wolverhampton e Arsenal (Inglaterra); Wolfsburgo e Borússia M’Gladbach (Alemanha); Roma e Inter (Itália). Nem aqui eles caem do poleiro.