O Governo anunciou na passada quarta-feira que vai reforçar o orçamento da saúde em 800 milhões de euros, para a execução do Plano de Melhoria da Resposta do Serviço Nacional de Saúde.
A verba possibilita, segundo o Governo, “reduzir a dívida e aumentar a capacidade de resposta e de produção do SNS”. E ainda contratar 8426 profissionais de saúde, em 2020 e 2021.
Ainda este ano, haverá uma injeção de 550 milhões de euros para reduzir os pagamentos em atraso, o que, segundo alguns sindicatos médicos, é um “penso rápido numa ferida com dois mil milhões de euros por sarar”.
“Boas notícias!”, dirão uns. “Finalmente!”, dirão outros. “Golpe de teatro!”, insinuarão os mais céticos.
Numa altura em que o Governo de António Costa parecia ter problemas para aprovar o Orçamento, com partidos à sua direita a anunciarem o voto contra (o PSD reserva a sua posição para a próxima semana) e com os seus aliados de outrora a parecer virar-lhe as costas, eis que começam a surgir números coincidentes que, tudo indica, vão permitir que pelo menos um dos partidos, o Bloco de Esquerda, evidentemente, aprove o Orçamento e até grite vitória.
Na verdade, no que respeita à saúde, os 800 milhões agora anunciados são exatamente a verba que o BE, no início deste mês, anunciava como necessária para executar o seu plano para a saúde.
“É simples. Centeno é que não compreende”, concluía Catarina Martins.
Ao mesmo tempo, António Costa satisfaz o Presidente da República, que avisou recentemente ir “esperar para ver qual a prioridade dada à saúde”, apontada como “uma das prioridades sensíveis” .
Navegando à vista, como é a sua especialidade, Costa vai satisfazendo os parceiros, garantindo os apoios necessários para seguir em frente.
Resta saber como fica nesta história o ministro Mário Centeno, o “Ronaldo das Finanças”, que, ao que tudo indica, começa a perder o protagonismo que teve no anterior Governo. Sabendo como funcionam as “fugas de informação”, as últimas e insistentes notícias de conflitos do ministro das Finanças com vários colegas de Governo podem indicar a saída iminente de Centeno, tese fortalecida agora com estes aumentos de alguns orçamentos, como é o exemplo da saúde.
António Costa lá vai levando a água ao seu moinho.
Se for para bem da nossa saúde e, já agora, da educação e serviços públicos, entre outros, vale a pena assistir ao espetáculo, já que nos obrigam a pagar o bilhete.
Jornalista