Violência política e social: Para além dos atentados terroristas que o são e dos que apenas parecem, mas também matam


Quem meditar nas razões dos movimentos sociais que se sucedem hoje por todo o mundo pode perceber-lhes as causas imediatas, pode decifrar-lhes mesmo as contradições essenciais que os justificam, mas raramente é capaz de adivinhar qual o sentido e a direção política que irão assumir.


Há dias, fui surpreendido, através dos posts dos média portugueses, pela notícia alarmista de um atentado terrorista em Haia, não muito longe da rua onde resido.

Procurei informar-me melhor e recebi, quase de seguida, das autoridades holandesas a notícia de que, afinal, talvez não se tivesse tratado de um ataque com motivações terroristas.

Já assim havia acontecido, meses antes, num outro caso passado num transporte público, nesta mesma cidade.

Então como agora, as autoridades holandesas mostraram-se prudentes na interpretação dos factos, procurando não inquietar a população nem explorar politicamente a situação, tanto mais que na cidade de Haia habitam mais de 40% de estrangeiros, muitos de origem magrebina e religião muçulmana.

Creio, contudo, que pelo menos para a opinião pública portuguesa ficará sempre a ideia de que este último acontecimento terá tido origens terroristas e esteve inevitavelmente relacionado com ataque idêntico acontecido umas horas antes em Londres.

Com motivações terroristas ou não – saiba-se lá exatamente o que, à margem do jargão jurídico, isso possa já querer dizer –, a verdade é que se assiste, um pouco por todo o lado, a reações incontroladas e desesperadas por parte de pessoas que ou as justificam com motivações políticas e religiosas, ou nem sequer conseguem encontrar um motivo racional para o que fizeram.

A busca da racionalidade que, no Ocidente, desde os séculos VIII e XIX, se procurou que informasse e justificasse, de alguma forma, toda a vida social, política, religiosa e económica – apesar, por exemplo, do episódio demencial do nazismo – parece hoje confrontada com um desafio inédito.

Na verdade, tanto no plano das idiossincrasias e iniciativas pessoais como no das políticas, religiosas e sociais, assiste-se a um desencadear de acontecimentos que dificilmente encontram justificação, ou melhor, dificilmente encontram uma justificação racional tal como antes a concebíamos.

A “desideologização” da vida política – o fim da História –, a incapacidade de muitos dos mais tradicionais credos religiosos conseguirem dar hoje respostas atuais e adequadas às inquietações espirituais de muitas pessoas e mesmo o facto de muita da arte produzida ter deixado de se relacionar com a vida normal e ser, por isso, incompreensível à maioria dos cidadãos criaram um vazio de humanidade que só pode conduzir ao desespero individual e à violência social fútil e descontrolada.

Quem meditar nas razões dos movimentos sociais mais ou menos violentos, mas aparentemente imparáveis, que se sucedem hoje um pouco por todo o mundo pode perceber-lhes as causas imediatas, pode decifrar-lhes mesmo as contradições essenciais que os justificam, mas raramente é capaz de adivinhar qual o sentido e a direção política que eles irão assumir.

Apesar da insistência pouco credível, e ainda menos imaginativa, de alguns media mais acéfalos – ou mais instrumentalizados –, não é possível continuar a ver em todos eles “o dedo de Moscovo”, como antigamente se dizia.

Isto pela simples razão de que tal dedo perdeu a tinta ideológica com que procurava escrever a História e era ela apenas que, na realidade, promovia, em muitos cantos do mundo, o sonho racional de uma vida melhor.

Em muitos dos atuais movimentos não se descortina, porém, uma orientação política coerente que se dirija ao menos a resolver as contradições mais evidentemente gritantes da vida social e económica atual.

Há em alguns uma mistura não racionalizada e ordenada de perceções e propostas justas, mas que não chega, em muitos casos, para lhes conferir um propósito lógico e útil.

Não se trata, portanto, em rigor, ainda de revoluções, mas de revoltas, de Jacqueries, que, abalando embora o sistema, não definiram os objetivos racionais mínimos que almejem sequer alterá-lo e, mais ainda, substituí-lo.

Sejamos, pois, prudentes, como os holandeses, na forma como analisarmos, e sobretudo noticiarmos, tais fenómenos.

 


Violência política e social: Para além dos atentados terroristas que o são e dos que apenas parecem, mas também matam


Quem meditar nas razões dos movimentos sociais que se sucedem hoje por todo o mundo pode perceber-lhes as causas imediatas, pode decifrar-lhes mesmo as contradições essenciais que os justificam, mas raramente é capaz de adivinhar qual o sentido e a direção política que irão assumir.


Há dias, fui surpreendido, através dos posts dos média portugueses, pela notícia alarmista de um atentado terrorista em Haia, não muito longe da rua onde resido.

Procurei informar-me melhor e recebi, quase de seguida, das autoridades holandesas a notícia de que, afinal, talvez não se tivesse tratado de um ataque com motivações terroristas.

Já assim havia acontecido, meses antes, num outro caso passado num transporte público, nesta mesma cidade.

Então como agora, as autoridades holandesas mostraram-se prudentes na interpretação dos factos, procurando não inquietar a população nem explorar politicamente a situação, tanto mais que na cidade de Haia habitam mais de 40% de estrangeiros, muitos de origem magrebina e religião muçulmana.

Creio, contudo, que pelo menos para a opinião pública portuguesa ficará sempre a ideia de que este último acontecimento terá tido origens terroristas e esteve inevitavelmente relacionado com ataque idêntico acontecido umas horas antes em Londres.

Com motivações terroristas ou não – saiba-se lá exatamente o que, à margem do jargão jurídico, isso possa já querer dizer –, a verdade é que se assiste, um pouco por todo o lado, a reações incontroladas e desesperadas por parte de pessoas que ou as justificam com motivações políticas e religiosas, ou nem sequer conseguem encontrar um motivo racional para o que fizeram.

A busca da racionalidade que, no Ocidente, desde os séculos VIII e XIX, se procurou que informasse e justificasse, de alguma forma, toda a vida social, política, religiosa e económica – apesar, por exemplo, do episódio demencial do nazismo – parece hoje confrontada com um desafio inédito.

Na verdade, tanto no plano das idiossincrasias e iniciativas pessoais como no das políticas, religiosas e sociais, assiste-se a um desencadear de acontecimentos que dificilmente encontram justificação, ou melhor, dificilmente encontram uma justificação racional tal como antes a concebíamos.

A “desideologização” da vida política – o fim da História –, a incapacidade de muitos dos mais tradicionais credos religiosos conseguirem dar hoje respostas atuais e adequadas às inquietações espirituais de muitas pessoas e mesmo o facto de muita da arte produzida ter deixado de se relacionar com a vida normal e ser, por isso, incompreensível à maioria dos cidadãos criaram um vazio de humanidade que só pode conduzir ao desespero individual e à violência social fútil e descontrolada.

Quem meditar nas razões dos movimentos sociais mais ou menos violentos, mas aparentemente imparáveis, que se sucedem hoje um pouco por todo o mundo pode perceber-lhes as causas imediatas, pode decifrar-lhes mesmo as contradições essenciais que os justificam, mas raramente é capaz de adivinhar qual o sentido e a direção política que eles irão assumir.

Apesar da insistência pouco credível, e ainda menos imaginativa, de alguns media mais acéfalos – ou mais instrumentalizados –, não é possível continuar a ver em todos eles “o dedo de Moscovo”, como antigamente se dizia.

Isto pela simples razão de que tal dedo perdeu a tinta ideológica com que procurava escrever a História e era ela apenas que, na realidade, promovia, em muitos cantos do mundo, o sonho racional de uma vida melhor.

Em muitos dos atuais movimentos não se descortina, porém, uma orientação política coerente que se dirija ao menos a resolver as contradições mais evidentemente gritantes da vida social e económica atual.

Há em alguns uma mistura não racionalizada e ordenada de perceções e propostas justas, mas que não chega, em muitos casos, para lhes conferir um propósito lógico e útil.

Não se trata, portanto, em rigor, ainda de revoluções, mas de revoltas, de Jacqueries, que, abalando embora o sistema, não definiram os objetivos racionais mínimos que almejem sequer alterá-lo e, mais ainda, substituí-lo.

Sejamos, pois, prudentes, como os holandeses, na forma como analisarmos, e sobretudo noticiarmos, tais fenómenos.