A cimeira sobre o Clima começou esta segunda-feira, em Madrid, com a presença de 50 líderes mundiais onde se inclui o primeiro-ministro português. Infelizmente, em Portugal, o que mais debatemos sobre a 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas foi mesmo a passagem da jovem ativista Greta Thunberg pelo nosso território continental. Nada contra as suas causas mas muito pouco a favor do silêncio nacional em torno das reais preocupações mundiais que até à jovem sueca trouxeram até ao país vizinho na península ibérica.
Importante referir que esta conferência acontece a cerca de mês da entrada em vigor do Acordo de Paris, marcada para 2020, ano em que os países signatários devem apresentar medidas concretas para limitar o aumento da temperatura global e estabelecer novas metas para conter as suas emissões carbónicas.
A cimeira das Nações Unidas irá durar até 13 de dezembro e são esperadas delegações de 196 países mas, logo na abertura deste domingo, o mundo ouviu que “A minha mensagem de hoje é de esperança e não de desespero” de António Guterres, português e secretário-geral da ONU.
Acredito que a esperança pode não ser um plano suficiente para o planeta. À data de hoje, com os números que temos, podemos estar a assistir à perda da batalha para salvar o nosso planeta e não haverá ninguém que devamos culpar além de nós mesmos.
Recuperando outras afirmações, sustentadas através de estudos, disse também o português António Guterres que “Os últimos cinco anos foram os mais quentes que já registámos” e ainda que “O nível do mar é o mais alto da história da humanidade”. Posto isto, o plano da mensagem de esperança pode mesmo não chegar porque, como ainda disse o maior responsável da ONU, “o ponto de não retorno não está mais no horizonte. Está mesmo à vista e vem na nossa direção”.
A história da humanidade, em relação às alterações climáticas, vai condenar muitos culpados e podemos atribuir responsabilidades a alguns sem esquecer o lado de lá do Oceano Atlântico.
Os Estados Unidos da América, sendo ainda a principal potência económica do mundo, estão numa posição privilegiada para liderar a procura por soluções climáticas. Porém, nos últimos anos sendo de forma acentuada, por estratégia política do atual presidente Donald Trump, decidiram retirar-se do Acordo de Paris e ainda incentivar ativamente ao aumento do consumo de combustíveis fósseis. Porventura, e forma direta não só nos mais de 327 milhões de americanos, é o legado mais preocupante que a administração de Trump irá deixar ao mundo.
Por sua vez, o líder de outra das grandes potências mundiais, o presidente chinês Xi Jinping, antagonicamente face a Donald Trump, manifestou sempre aceitar e entender o consenso científico em redor das alterações climáticas. No entanto, as palavras não acompanharam os atos e as emissões de gases com efeito de estufa continuam a subir na China e até registam quase o dobro dos valores que existem nos Estados Unidos da América. O presidente Xi Jinping continua, publicamente, a valorizar o rápido crescimento económico e este caminho não abdica de combustíveis fósseis. É indissociável no dia-a-dia do país que ainda é o maior do mundo e tem quase 1/5 da totalidade do planeta Terra.
Por falar em países que representam 1/5 da população mundial, falemos então do 2º do ranking, a Índia. Para termos noção do que representam a nível mundial estes dois países, saibamos que a China e a Índia, juntas, representam perto de 37% da população total do planeta. Em cerca de 7.7 mil milhões de pessoas no mundo temos logo 1.4 mil milhões na China e 1.3 mil milhões na Índia.
Neste país de 1.3 mil milhões de pessoas, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi aumentou fortemente as emissões de carbono segundo os dados publicados recentemente.
E a Europa? O “velho Continente”, muitas vezes desvalorizado em peso populacional por estar dividido em vários estados, representa agregado mais de 500 milhões de habitantes e também não viu uma diminuição assinalável na emissão de gases de efeito de estufa. Mas, pelo menos, diminuiu.
Podemos afirmar que, se compararmos os últimos 30 anos, a União dos 28 Estados diminuiu as emissões de gases com efeitos de estufa de 5.649.529 em milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono (1990) para 4.323.163 (2017). Ao invés, Portugal aumentou entre 1990 e 2017 de 59.092 para 70.546 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono.
Para cumprir o objetivo definido em Paris em 2015, de limitar o aumento da temperatura global face aos níveis pré-industriais até 2100, será necessária uma redução anual de 7,6% das emissões de dióxido de carbono, segundo os últimos dados das Nações Unidas.
Nesse sentido, pelo menos a China, a Índia e a Europa devem atingir suas metas iniciais de emissões sob o Acordo de Paris. Os Estados Unidos da América não.
Mas esses objetivos deveriam ser apenas um começo de uma batalha muito maior. Se o aquecimento for mantido a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais até o final deste século – um nível que os cientistas e estudiosos já consideram de «horrível, mas possível de gerir» – as emissões de carbono em todo o mundo irão precisar de começar a diminuir o mais rápido possível.
Excluindo o presidente americano Donald Trump, é consensual a classe científica afirmar que as alterações climatéricas estão a ocorrer com causa humana.
Um estudo divulgado na semana passada pela Organização Meteorológica Mundial, uma agência integrante da ONU, informou que a concentração de dióxido de carbono na atmosfera aumentou em espantosos 47% desde a Revolução Industrial. Ao examinar os níveis de vários isótopos de carbono no ar, os cientistas desta organização foram capazes de demonstrar que o carbono que aumentou é tão só do “mesmo tipo do emitido quando o carvão e outros combustíveis fósseis são queimados” que é como quem diz: “A culpa é da humanidade.”
Ao longo de toda a semana em Madrid, e falando focado no lado da ciência, iremos ouvir que o sentido de emergência é claro: os mais recentes relatórios do Painel para as Alterações Climáticas apontam um cenário já irreversível de subida da temperatura global, uma subida dos níveis dos oceanos e uma cascata de efeitos combinados que significam catástrofes ambientais nas próximas décadas.
O planeta Terra é imensamente grande enquanto cada um de nós, individualmente, é imensamente muito pequeno face a esta batalha climatérica.
Podemos hoje dizer que seria muito difícil de imaginar que cada um de nós poderia ter um impacto tão grande no meio ambiente. Essa questão de escala é um impedimento para o tipo de ação climática de que precisamos desesperadamente.
Um problema ainda maior é a questão do tempo. Não só o «contra-relógio» para solucionar este problema ambiental como ao nível do conceito intergeracional. Enquanto nós estamos a conviver gradualmente com a degradação ambiental do planeta, as gerações futuras poderão vir a ter todo o direito e legitimidade de analisar o registo histórico e dizerem que as gerações de hoje e de ontem sabiam plenamente que caminho levava o planeta e que não foi feito de forma clara para atenuar os problemas.
Os nossos líderes mundiais não conseguem dar-nos uma ação palpável e significativa relativa à mudança climática porque não exigimos. Temos culpa nesse capítulo. No entanto, não podemos olhar para a cimeira de Madrid como o que vai «salvar o planeta».
Nós devemos olhar para dentro. Começando por Portugal. Devemos encarar o Ambiente com ímpeto reformista. Não pelos partidos A ou B, por quem é governo ou apenas por quem é oposição, mas por todo o planeta.
Fazer a nossa parte e deixar de ver apenas o ambiente e a ecologia como uma causa de alguns. Ver o ambiente como uma matéria que pode, pela proximidade de vontades e pela necessidade do planeta, e deve ser agregada para um verdadeiro compromisso e um pacto de regime entre todos os partidos.
Com medidas concretas, valores que alterem o caminho ascendente de emissão de gases ou até alterar o ridículo que é termos em Portugal o gasóleo a uma taxa intermédia sobre o imposto valor acrescentado mas que os Pellets ou biocombustíveis sólidos oriundos da gestão florestal estejam taxados a níveis máximos.
Fazer políticas ambientais de verdade. Sérias e sem fanatismos. E não esperar por datas para se debater apenas durante as cimeiras porque se assim for teremos de esperar pela COP26 de 2020, em Glasgow na Escócia.
É fazer como diz o lema da cimeira de Madrid: “É tempo de atuar”.
Carlos Gouveia Martins