PISA 2018. O retrato da educação em Portugal

PISA 2018. O retrato da educação em Portugal


Foi, esta terça-feira, divulgado o relatório trienal do PISA 2018, considerado o teste de educação mais importante do mundo. Portugal participou e revelou estar acima da média da OCDE.


Piores desempenhos na literacia e ciências, estabilização dos resultados na matemática, crescimento positivo e estável ao longo dos anos, elevada importância do estatuto socioeconómico dos alunos para a obtenção de sucesso escolar e para a respetiva ambição, escola anti-bullying e cooperativa, mas também com competição pelas notas. São estas algumas das conclusões do relatório PISA (Program in International Student Assessment) 2018, considerado o teste de educação mais importante do mundo, que se realiza a cada três anos e cujos resultados foram esta terça-feira divulgados.

Promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o PISA é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar. A primeira edição realizou-se em 2000; a última bateu o recorde de países e regiões participantes, tal como de alunos avaliados. Em 2018 participaram um total de 79 países/regiões e mais de 600 mil alunos de 15 anos. Só em Portugal participaram neste estudo 276 escolas, 5932 alunos e 5452 professores de todas as regiões do país.

 

Literacia e ciências a piorar, matemática estável

Face a 2015 os alunos portugueses estão a apresentar piores resultados a nível da leitura e das ciências, mas estabilizaram no que respeita à matemática. Apesar da descida em duas das matérias, Portugal continua acima da média da OCDE e é um dos poucos países que melhoraram nas três competências desde a primeira participação nos testes do PISA. Segundo o relatório, apresenta “uma trajetória positiva e estável em todos os três domínios de literacia”.

Comecemos por analisar os números. A pontuação média dos países da OCDE na leitura é de 487 pontos, enquanto na matemática e nas ciências é de 489 pontos. Por sua vez, Portugal demonstra uma constância nestes três domínios, apresentando uma pontuação média de 492 pontos em todas elas. Os alunos portugueses estão portanto ligeiramente acima da média da OCDE nestes três domínios avaliados.

Aliás, são muito poucos os países da OCDE que conseguem ultrapassar os resultados obtidos pelos alunos portugueses no PISA 2018 – é o caso da Estónia, Finlândia, Irlanda, Polónia, Suécia, Dinamarca ou Noruega. Os alunos portugueses estão a par dos alunos franceses e alemães. A nível mundial, a lista é liderada por quatro regiões da China – Pequim, Xangai, Jiangsu e Zheijiang – e por Singapura, que ultrapassam as restantes regiões por uma margem muito grande, especialmente na matemática e nas ciências.A nível nacional há ainda uma distinção por género nos resultados: as alunas portuguesas são quem apresenta melhores resultados na literacia, enquanto os rapazes têm melhores resultados nas ciências e na matemática.

 

Estatuto socioeconómico influencia sucesso escolar

Um dos pontos avaliados no PISA 2018 foi o estatuto socioeconómico dos alunos e o seu efeito nos resultados escolares e na sua ambição académica.

O estudo revelou que as desigualdades económicas continuam a ser um fator importante para o sucesso dos alunos. Aliás, o seu efeito consegue ser maior em Portugal do que no conjunto dos países da OCDE.

Segundo as contas da OCDE, os estudantes com melhores condições socioeconómicas tiveram, em média, mais pontos do que os seus colegas desfavorecidos. “A diferença da pontuação em leitura entre os alunos portugueses mais favorecidos e os menos favorecidos é de 95 pontos, sendo que 13,5% da variação dos resultados pode ser explicada pelo ESCS dos alunos (valor semelhante ao obtido na OCDE – 12%)”, refere a tutela de Tiago Brandão Rodrigues. Comparando com outros países, este valor varia pouco, sendo mais alto na Alemanha (17%), por exemplo, e mais baixo em casos como a Estónia (6%).

Contudo, não é só nos resultados escolares que o estatuto socioeconómico dos alunos portugueses tem efeitos. A isto junta-se ainda a questão da ambição académica. Nesse ponto, Portugal é um dos países com uma diferença mais acentuada entre os mais ricos e os mais pobres de expectativas quanto à continuidade do seu percurso escolar. Entre os alunos de estatuto socioeconómico mais alto, cerca de 93% pretendem prosseguir para o ensino superior, enquanto nos alunos com estatuto mais baixo a percentagem desce para os 50%.

Retrato do ambiente escolar Uma escola contra o bullying, competitiva, cooperativa, com respeito pelos professores e alunos felizes. É este o retrato geral realizado pelo PISA 2018 do ambiente escolar em Portugal.

Ao nível do bullying, o relatório do PISA 2018 revela que “em média entre os países da OCDE 23% dos alunos conta ser alvo de bullying pelo menos uma vez por mês”. Esta questão tem ainda efeito nos resultados académicos dos estudantes, uma vez que em média, “entre os países da OCDE os estudantes que reportaram ser vítimas de bullying pontuaram menos 21 pontos na literacia do que aqueles que não sofrem desta questão”.

Três em cada quatro dos alunos inquiridos neste relatório assumem fazer amigos facilmente e 90% sentem-se acompanhados nas escolas. No entanto há ainda um em cada 10 estudantes que confessa sentir-se sozinho. Além disso, mais de metade dos alunos portugueses (58%) afirma que existe entreajuda entre colegas – a média da OCDE fixa-se nos 62%. Não obstante esta entreajuda entre alunos, 57% dos estudantes portugueses consideram que há competição nas escolas e aqui o valor supera a média da OCDE (50%).

A relação entre professores e alunos é também muito importante para o ambiente escolar. Segundo o PISA 2018, 83% dos alunos portugueses consideram que os professores entusiasmam com a sua forma de ensinar (superior à média da OCDE de 74%), o que segundo o estudo tem efeitos no desempenho dos estudantes nos três domínios avaliados neste teste.O estudo refere ainda que mais de um terço (34%) dos encarregados de educação não consegue estar envolvido nas atividades escolares dos seus educandos devido ao seu trabalho e incompatibilidade com o calendário escolar. São os encarregados com estatuto socioeconómico mais favorável que tomam mais iniciativa para se envolverem na vida escolar. Segundo o PISA, a aprendizagem de línguas estrangeiras é uma das maiores preocupações dos pais portugueses quando escolhem uma escola, somente ultrapassada pela segurança, bom ambiente e reputação do estabelecimento.

Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, reagiu a estes resultados e considerou que Portugal apresentou “um caminho de melhoria contínua e significativa nos três domínios” e acima da média da OCDE, desde 2000, ano da 1ª edição do PISA.