A vila, porém, tem os seus encantos: pacata e bem arranjada, pracetas ajardinadas, o casario tradicional, baixo, branco e com debrum colorido nas portas e janelas, em sã convivência com casas senhoriais, mais amplas e elevadas, a par com o demais património arquitectónico digno de registo. Destaque para o castelo gótico e torre de menagem, em pleno centro histórico, cuja visita não desilude. Como não desilude, bem pelo contrário, dar um salto à aldeia de Alter Pedroso, a poucos quilómetros da vila, também ela dona de castelo medieval, de que restam ruínas. A aldeia, tipicamente alentejana, foi objecto de recente programa de recuperação, e parece um postal ilustrado: casario raso, branco, debruado, vastamente florido – vasos, potes e canteirinhos improvisados -, à roda de duas ou três ruelas empedradas e empinadas.
Segundo informação local, todas as casas estão habitadas, embora haja quem só venha aos fins-de-semana, e entre os residentes permanentes até há crianças!
Bem próxima da aristocrática vila do Crato fica a aldeia de Flor da Rosa, supostamente berço do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, nascida à sombra do imponente Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa, onde está magnificamente instalada uma Pousada de Portugal. Rumando à vila de Avis, igualmente prenhe de história, casario de traça medieval branco e debruado, como sói, monumentos e afins, dentre os quais o Convento de São Bento de Avis, ampliado e reformulado, mantido o belíssimo altar em talha não dourada da igreja, que alberga o Centro Interpretativo da Ordem de Avis e o castiço Museu do Campo Alentejano, bons exemplos de ensinança.
Rumando a sul, e trocando as pitorescas vilas e aldeias pela cidade, toma-se poiso na capital do Baixo Alentejo, Beja. Cidade bimilenar, exibe marcas do passado histórico bem visíveis no seu património edificado de que a fortaleza medieval – o castelo gótico e a elegante torre de menagem – é porventura o monumento mais distintivo. Tendo atravessado, nas últimas décadas, uma fase de alguma desolação – Beja era uma cidade parada e sem viço -, actualmente dá mostras de vitalidade crescente; o centro histórico transpira animação e movimento, e a parte nova da cidade cresceu muito.
Lamentavelmente, num centro histórico repleto de monumentalidade, há belos edifícios, e notável património azulejar associado, em assinalável estado de degradação. E a falha não pode (apenas) ser assacada à autarquia; há património nacional em risco!
Património nacional em risco, interior ignorado, desenvolvimento regional e coesão do território deixados ao acaso, sem política integradora nacional adequada. Agora que temos um novo governo, tamanho XXL, e um Ministério da Coesão Territorial, só nos resta esperar, acreditemos, que a acção governativa – que é o que verdadeiramente interessa – corresponda às justificativas de tal amplidão. A ver vamos.
(Nota: o texto não segue o AO de 1990)
Maria Helena Magalhães