OPA Benfica.  Luís Filipe Vieira  pode encaixar  mais de 3,7 milhões

OPA Benfica. Luís Filipe Vieira pode encaixar mais de 3,7 milhões


Para os analistas contactados pelo i, a ideia de o Benfica adquirir 95% da SAD do clube não só evita o aparecimento de um eventual investidor hostil como as ações passam a ser detidas pelos sócios.


Luís Filipe Vieira, assim que abandonar as funções de presidente do Benfica, poderá encaixar mais de 3,7 milhões de euros em resultado da oferta pública de aquisição (OPA) parcial sobre a SAD do Benfica, em que é oferecida uma contrapartida de cinco euros por ação, no caso de querer vender a sua participação assim que sair da liderança do clube.

A garantia é dada ao i por David Silva, analista da corretora Infinox. “Luís Filipe Vieira, neste momento, detém 753 615 ações ordinárias, o que lhe permite obter um encaixe de 3 768 075 de euros assim que deixar de exercer as funções atuais. Tendo em conta que as ações da Benfica SAD estavam a cotar por volta dos 2,70 euros, isso perspetiva uma mais-valia considerável para o presidente do clube”, alerta o responsável.

Mas ao que o i apurou, este valor acabará por reembolsar o que Luís Filipe Vieira investiu em 2001.

Em causa está o lançamento de uma OPA parcial, cuja contrapartida (cinco euros por ação) é considerada superior “à cotação média ponderada das ações da Benfica SAD no período de seis meses anterior à divulgação do anúncio preliminar da oferta”, bem como à “cotação intradiária mais elevada das ações da Benfica SAD no período de seis meses anteriores” à OPA, revelou esta semana a SAD do clube, considerando ainda a oferta como “oportuna”.

O i sabe que esta solução do clube de deter cerca de 95% do capital poderá permitir futuramente vender parte a um ou vários acionistas de referência, se assim o entender. A ideia poderá passar por alienar entre 20 e 25% das ações, seguindo o exemplo do que fez o Bayern Munique.

No entender de David Silva, esta aquisição de ações da Benfica SAD pela Benfica SGPS vem no seguimento da estratégia do clube de deter a maioria da SAD, permitindo assim que praticamente a totalidade da SAD seja detida pelos sócios e pelos benfiquistas, algo que, de acordo com o mesmo analista, sempre foi anunciado como um objetivo do presidente. “Esta estratégia começou no início do ano quando os direitos do Estádio da Luz e da Benfica TV foram vendidos pela SAD ao clube e permite evitar futuros problemas, como aconteceu com a divisão do Belenenses CF e Belenenses SAD (em que a maioria da SAD não era detida pelo clube)”, acrescenta ao i.

Já André Pires, analista da XTB, defende que a aquisição de 95% da SAD pelo clube vem não só valorizar os títulos do clube como também esta participação permite à SAD impedir o surgimento de um eventual investidor hostil que, por exemplo, exigisse a eleição de um administrador. E dá uma explicação: “O poder de voto em assembleia-geral só é concedido a sócios com participação superior ou igual a 5%. Esta OPA confere ao clube a possibilidade de tomar decisões sem necessidade de realização de assembleias-gerais”, refere ao i. Isto significa que, futuramente, o clube não será obrigado a convocar uma assembleia-geral.

Mas, ao que o i apurou, a ideia do clube é manter as reuniões em AG, lembrando que é isso que está previsto na lei.

Quanto ao valor oferecido, David Silva não tem dúvidas: “Tendo em conta que as ações da Benfica SAD estavam a negociar por volta dos 2,70 euros nos dias anteriores ao lançamento da OPA e o seu máximo dos últimos nove anos tinha sido alcançado em março de 2009, ao chegar aos 3,50 euros, na altura em que o Benfica estava perto de voltar a ser campeão ao fim de cinco anos, creio que o valor de cinco euros não se enquadra face àquilo que estava a ser oferecido pelo mercado”.

Ainda assim, deixa um alerta: “Este valor baseia-se no preço por ação tendo em conta o capital social de 115 000 000 euros e de modo que os sócios que subscreveram as ações em 2001 por mil escudos possam reaver o seu investimento”.

A opinião é partilhada pelo analista da XTB, ao lembrar que os cinco euros que são oferecidos representam quase o dobro do valor a que as ações estavam a ser cotadas no dia anterior ao anúncio e que rondavam os 2,7 euros por título. “Se a OPA for bem-sucedida, o clube pagará cerca de 32 milhões de euros aos investidores. O valor oferecido, de cinco euros por ação, é precisamente o preço a que os acionistas adquiriram as ações em 2001, aquando da entrada das ações em bolsa. Nessa linha, podemos considerar ser um preço justo”, refere ao i, mas acrescenta: “É de referir que as ações de clubes futebolísticos em geral beneficiam de um efeito de valorização que não tem nada a ver com o valor fundamental das empresas, mas sim da apetência dos adeptos, da sua vontade de participar de alguma forma”.

Regulador terá de dar resposta A operação deverá estar concluída no início do próximo ano mas, para os analistas contactados pelo i, a opinião é unânime: o regulador não deverá colocar entraves a esta operação e a OPA deverá ser “bem-sucedida”.

Para David Silva, “a oferta está bem acima da cotação atual no mercado, o que poderá permitir um bom encaixe a quem tenha adquirido as ações a um valor mais baixo e também reaver o seu investimento”. Já André Pires defende que os acionistas têm sempre a opção de não vender e de a operação falhar – um cenário, no entanto, afastado pelo responsável, já que considera que o “preço é muito aliciante”.

Quanto à possível saída de bolsa, os analistas admitem que a Benfica SAD deverá continuar cotada, mantendo pelo menos 5% de capital disperso, dos quais, quase 3% pertencem a Vieira. Mas o i sabe que a ideia é manter em bolsa o capital, já que é isso que irá permitir ao clube continuar a financiar-se

“As vantagens de permanecer em bolsa são duas: política, já que esta dispersão mínima (exigida para se manter em bolsa) é valorizada pelo mercado por efeitos de transparência e credibilidade, e financeira, porque facilita eventuais emissões de obrigações”, refere André Pires. Também para David Silva, “apesar de apenas 5% das ações da Benfica SAD ficarem disponíveis no mercado, a empresa não deixará de estar cotada na bolsa de Lisboa, uma vez que esse fator permite que a empresa continue a financiar-se através de obrigações”, conclui.

Guia SOS para entender a OPA

Como vai funcionar a OPA? O Benfica, através da sua SGPS, divulgou o anúncio preliminar de uma OPA (oferta pública de aquisição) sobre 6 455 434 ações da Benfica SAD, representando 28% do capital social desta.

Quanto custa a operação? A ideia do clube é controlar 95% da SAD e, para isso, oferece cinco euros por cada ação. No caso de a operação ser bem-sucedida, o Benfica pagará 32 milhões de euros aos investidores.

Qual a valorização das ações? Tendo em conta a contrapartida oferecida pelo Benfica, de 5 euros por ação – o mesmo valor a que as ações foram oferecidas à subscrição em 2001 –, isso representa um prémio de 81% face à cotação de fecho de dia 18 – a sessão de bolsa anterior ao anúncio da OPA (2,76 euros).

O que diz o Benfica? O clube justifica este preço com a intenção de assegurar que os acionistas que adquiriram ações da SAD na subscrição possam alienar as suas ações ao mesmo preço a que as subscreveram. No entanto, de acordo com a revista Proteste, na prática, “qualquer acionista poderá aceitar a OPA, o que pode representar ganhos muito interessantes para quem tenha comprado as ações por valores mais baixos. As ações da Benfica SAD entraram em bolsa em 2007 e atingiram o seu mínimo histórico há cerca de sete anos, a 12 de dezembro de 2012, fechando a negociação a 37 cêntimos”.

O que podem fazer os acionistas? Há três alternativas: não aceitar a oferta; esperar pelo lançamento da OPA; e aceitar a oferta ou vender já em bolsa. 

 

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