Uma deputada em roda Livre


É sempre questionável se um deputado deve agir de acordo com a sua consciência ou de forma a obedecer às orientações do partido.


Uma questão que parecia perfeitamente pacífica – um voto de condenação da “repressão israelita”, a propósito de uma ofensiva sobre Gaza que terá morto 34 pessoas, “entre as quais oito crianças” – acabou por fazer estalar o verniz no seio do Livre. Por alguma razão que ainda não foi bem esclarecida, Joacine Katar Moreira ignorou as orientações do partido e absteve-se na resolução de condenação proposta pelo PCP ao Parlamento.

O “ato de rebelião” suscitou um confronto aberto entre a direção do partido e a deputada. Rui Tavares, fundador e mentor do Livre, não podia ter sido mais claro: afirmou-se “perplexo” com a atitude de Joacine. A deputada, por sua vez, atirou as culpas para cima do partido, dizendo que “foram três dias de contacto infrutífero para saber dos posicionamentos da direção”.

É sempre questionável se um deputado deve agir de acordo com a sua consciência ou de forma a obedecer às orientações do partido. Mas neste caso a questão nem se colocava, uma vez que Joacine tem tido na denúncia do colonialismo um dos seus cavalos de batalha e até veio esclarecer que está solidária com os povos da Palestina.

Porque se absteve, então? Aparentemente, para marcar uma posição, para mostrar que não está a mando de ninguém. Que, tal como os palestinianos e outros povos oprimidos, também ela tem direito à autodeterminação.

As suas declarações ao Observador – que aliás parecem confirmar uma atitude de permanente ressentimento – vão nesse sentido: “Fui eu que ganhei as eleições, sozinha”. A modéstia não é seguramente uma das suas virtudes.

Seja como for, uma coisa parece certa – Joacine tem conseguido sempre atrair sobre si as luzes dos holofotes. Se o pretexto é a gaguez, o racismo, o colonialismo ou a condenação de Israel, pouco importa. A grande cruzada de Joacine, até ver, não são os indefesos, os oprimidos, os colonizados: é afirmar-se a si própria.