José Sócrates sabia que a Portugal Telecom tinha dois acionistas de referência, o BES_e a CGD, mas desconhecia qualquer participação da telefónica portuguesa no banco liderado por Ricardo Salgado. Foi isso que o antigo governante disse a Ivo Rosa no primeiro dia de interrogatório, afirmando mesmo estar a receber do juiz, pela primeira vez, tal informação. «Não fazia a mínima ideia», começou por dizer Sócrates, reiterando tal desconhecimento depois de uma insistência do magistrado: «Nem sabia até este momento, estou a sabê-lo agora pela voz do senhor juiz».
O ex-primeiro-ministro, interrogado entre 28 de outubro e 4 de novembro no Tribunal Central de Instrução Criminal, começou por elencar todos os encontros que teve com Ricardo Salgado, garantindo que nunca se falou sobre a questão da OPA fracassada da Sonae: «Todos conheciam no mercado a posição do Governo, era de abstenção».
«Conheci em 2001, quando pediu uma audiência ao Ministério do Ambiente. Depois nunca mais o vi até ser primeiro-ministro. Desde que tomei posse estive com o dr. Ricardo Salgado umas dez vezes. […] Doze vezes em seis anos», disse a Ivo Rosa, acrescentando: «Nunca fui próximo de Ricardo Salgado».
O ex-primeiro-ministro explicou também que, naquele processo, a única coisa que importava ao seu Executivo era que a rede de cobre e de cabo passassem a ser separadas: «O plano tecnológico dependia muito disso». O antigo primeiro-ministro explicou ainda que, apesar de estar acusado de se deixar corromper para beneficiar os interesses de Salgado, o seu Governo sempre se preocupou em «acabar com o monopólio da PT, porque isso era um obstáculo ao desenvolvimento do mercado das telecomunicações». Quanto a pressões, apontou o dedo a Paulo de Azevedo, que, na sua versão, um dia lhe ligou a pedir uma cunha na CGD para que a OPA_avançasse: «Senhor primeiro-ministro tenho de lhe pedir isto porque não vamos conseguir se a CGD não votar a favor».
No interrogatório, José Sócrates fala do seu amigo Carlos Santos Silva como um homem «honestíssimo» e descarta qualquer ligação pessoal à casa de Paris onde viveu.
Ontem, ficou a saber-se que o juiz Ivo Rosa retirou a qualidade de assistente a jornalistas, depois de a Relação de Lisboa ter dado razão aos assistentes, que diziam estar a ser proibidos de assistir às diligências de instrução.