Brasil.  Já se imagina Jesus a sambar  – e pode ser até fora de horas

Brasil. Já se imagina Jesus a sambar – e pode ser até fora de horas


Treinador português pode vencer Libertadores e Brasileirão este fim de semana. Defronta amanhã o River Plate, em Lima, e pode vencer o campeonato sem entrar em campo.


Poucos ou nenhuns acreditariam que fosse possível traçar o percurso que Jorge Jesus fez no Brasil nos últimos cinco meses. Para os mais distraídos, o filme é fácil de resumir. Em junho o técnico português aterrou no Rio de Janeiro após ter surpreendido ao assinar pelo Flamengo. Apesar de o Mengão ser um dos grandes do futebol brasileiro, o clube atravessa uma seca de títulos, com o jejum a durar desde 2012/13, época em que se sagrou campeão da Taça brasileira. De resto, há uns longos e penosos 10 anos que não conquista um campeonato e há quase quatro décadas que não marcava presença na final da Libertadores. Rufar dos tambores: este fim de semana, o Fla pode sagrar-se campeão do Brasileirão e da mais importante prova de clubes da América do Sul. Comecemos pela última, uma vez que será a primeira. Já este sábado, em Lima. Jesus está a um pequeno passo de conquistar o primeiro troféu no Brasil depois de ter feito história ao conduzir a equipa rubro-negra ao jogo derradeiro desta Champions sul-americana, em que irá defrontar o atual campeão da prova, os argentinos do River Plate. Desde 1981, ano em que o Flamengo conquistou a competição pela primeira e única vez, com Zico e companhia, que os cariocas não disputavam a decisão.

A missão é espinhosa, mas, aos 65 anos, o técnico amadorense não parece disposto a falhar. Prova disso é a forma de como a preparação para este encontro está já a decorrer no Peru. De acordo com uma reportagem da ESPN Brasil, o centro de treinos de La Videna foi devidamente preparado para evitar qualquer tipo de espionagem. De forma a conseguir um sigilo absoluto, o clube do Rio de Janeiro treina com panos pretos à volta do recinto, e até um sistema anti-drones.

Os adeptos do Mengão estão em festa mas neste caso não significa que tenham lançado os foguetes cedo demais. O trabalho desenvolvido pelo técnico português em menos de meio ano faz os 40 milhões de apoiantes (só no Brasil) do clube acreditar que a segunda Taça está à espreita. A revolução na filosofia de trabalho e no método de jogo levado por Jesus até ao Rio tem nos resultados – e nos recordes constantes – a principal prova do seu sucesso.

Que, ainda assim, só será confirmado com títulos. E nada melhor do que em dose dupla.

Fla campeão sem entrar em campo O Flamengo já há várias semanas que parece ter as faixas de campeão encomendadas. A verdade é que elas podem sair da gaveta já no domingo, apenas um dia depois de ser disputada a final da Libertadores, sem sequer ser necessário que a equipa rubro-negra entre em campo. Parece confuso mas as contas são simples. Com quatro jornadas até ao final do Brasileirão, o Fla lidera com treze pontos de vantagem para o segundo classificado Palmeiras. O Palmeiras joga este domingo em casa com o Grémio e se não vencer, o Flamengo é oficialmente campeão brasileiro. Basicamente, se a equipa de S. Paulo perder, o máximo que poderá ganhar são doze pontos. Mesmo que se verifique um empate, o máximo que poderá ganhar são treze pontos, os mesmos que o conjunto de Jorge Jesus tem de vantagem, sendo que o Flamengo ganha no desempate direto por ter mais vitórias.

Se o Palmeiras vencer, o Fla poderá festar o título com um triunfo na receção ao Ceará (28 novembro).

De relembrar que o Fla era terceiro classificado no campeonato quando Jesus assumiu o cargo de treinador. Corria a jornada 10 da prova e estava a seis pontos do líder. O português precisou de menos de dois meses para conduzir a equipa ao topo do Brasileirão.

Entre Brasileirão e Libertadores, o plantel rubro-negro está há uns impressionantes 25 jogos sem perder (20 vitórias e cinco empates) e, pelo menos no que respeita à competição caseira, só se espera o troféu. O Maracanã anseia pelo sexto campeonato da história (2009, 91/92, 82/83, 81/82 e 79/80). Desde que JJ chegou, o Fla só perdeu um jogo no campeonato, num dos primeiros jogos do técnico ao comando da equipa. Foi na jornada 13 e desde esse momento até hoje (altura em que estão cumpridas 34 rondas de um total de 38), a equipa leva uma série de 21 jogos invicta.

O percurso de JJ é ainda mais notável se percebermos que passaram 60 anos desde que um treinador estrangeiro ganhou um campeonato brasileiro. Mais do que isso: o título alcançado por Carlos Volante (pelo Bahia) em 1959 é até agora o único alcançado por um estrangeiro no Brasil.

O mais querido do Brasil O Flamengo ficou na década de 1920 conhecido como o clube mais querido do Brasil. A eleição promovida à data pelo Jornal do Brasil contou com mais de 250 mil votos na equipa, que não mais deixou cair este rótulo. Jesus caminha agora a passos largos para tornar-se agora o mais querido do Ninho do Urubu, embora esta relação também tenha tido o seu período mais conturbado. O ex-treinador do Benfica e Sporting não foi propriamente recebido com grandes festas em terras de Vera Cruz, tendo inclusive vários jornalistas e comentadores brasileiros a questionar a opção.

Proveniente do Al Hilal, da Arábia Saudita, o português reergueu o gigante brasileiro e tornou-se entretanto um autêntico fenómeno de popularidade no país. As músicas para Jorge Jesus multiplicam-se a cada semana e a maneira de ser do técnico já não deixa ninguém indiferente. Embora parte já tenha tido a capacidade de se penitenciarem pelos comentários sobre o português, Jesus espera este fim de semana calar de vez os que o atacam. Fora de campo já o fez num jeito bem característico.

No último fim de semana, após bater o Grémio e ficar a dois pontos da conquista do título brasileiro, JJ citou Camões para falar da “inveja”. “No último parágrafo de um livro que ele [Camões] escreveu, ele escreveu a palavra inveja. Porque é que há tantos anos Camões escreveu a palavra ‘inveja’? É um problema que muitas das vezes acontece, está a acontecer”, atirou.

“Já houve alguns técnicos estrangeiros no Brasil, mas nestas condições acho que não teve nenhum que se comparasse a ele”