A seca não é um problema conjuntural, mas sim estrutural, e o Governo quer pôr em marcha medidas concretas para contenção do consumo de água em Portugal. Ontem, numa conferência de imprensa que aconteceu depois de um encontro da Comissão Interministerial da Seca, tanto João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e Ação Climática, como Maria do Céu Albuquerque, ministra da Agricultura, deixaram claro que apesar de hoje a situação ser “melhor do que no período homólogo de 2017”, continua a existir um problema que é estrutural, sobretudo a sul do Tejo.
Segundo anunciado, tanto o Ministério do Ambiente como o da Agricultura começarão a partir do fim deste mês a realizar encontros com representantes do poder local, da agricultura e do turismo do Algarve, considerados responsáveis por uma parte significativa do consumo. Só a agricultura absorve cerca de três quartos do total da água usada em Portugal. Quanto ao turismo do Algarve, em causa está sobretudo a rega dos campos de golfe.
“Parece claro a todos os que estiveram na reunião que, em consenso e em diálogo com todos os setores, temos mesmo de mudar o perfil de consumo em Portugal”, afirmou ontem o ministro do Ambiente e Ação Climática, referindo-se aos representantes dos três setores – autarquias, agricultura e turismo – como “parceiros principais”.
A ministra da Agricultura salientou que neste setor há duas situações preocupantes. Quanto à pecuária, “existe o problema do abeberamento dos animais – criou-se em 2017 um conjunto de pontos de abastecimento e também transporte em cisterna de água pública, de albufeiras, para fazer o abastecimento aos animais”. A outra preocupação, salientou, são “as culturas – a garantia das culturas existentes”.
Suspensão de novos furos no sul do país
Matos Fernandes revelou ainda que para reduzir os efeitos da seca nas regiões do Algarve e do Alentejo serão suspensas “novas captações de água subterrânea em algumas massas de água no sul do país, respeitando naturalmente aquilo que são os compromissos que vêm de trás”.
Para já, e tendo em conta as previsões meteorológicas, não haverá qualquer tipo de limitação de água para a agricultura, mas o cenário não está de todo excluído.
O ministro adiantou, no entanto, que será intensificada “a promoção da reutilização daquilo que é o consumo de água ao nível do uso urbano e para a rega”. Até, porque, lembra já não ser possível pensar que se pode gerir a chuva de alguns anos para compensar a falta de água noutros. “Não nos enganemos com a chuva que caiu nas últimas horas e que vai continuar a cair”, avisou. Neste momento, as albufeiras têm reservas para um ano se se tiver em conta o consumo verificado nos últimos tempos.
Quanto às albufeiras situadas a sul do país e que são já consideradas casos críticos, o governante assegurou que estão a ser acompanhadas. “Estamos a acompanhar ao dia aquilo que são as situações mais críticas, um conjunto de albufeiras que se localizam quase exclusivamente no sul do país”.