Espanha.  Luis Enrique voltou à seleção – e a decisão parece ser polémica

Espanha. Luis Enrique voltou à seleção – e a decisão parece ser polémica


O técnico deixou o cargo em junho, devido à doença da filha, falecida em agosto. “Teve sempre a porta aberta e todos sabiam disso”, frisou presidente da RFEF.


Luis Enrique está oficialmente de regresso ao comando da seleção espanhola, menos de seis meses depois de ter deixado o cargo, devido à doença da filha mais nova, falecida no final de agosto.

O técnico espanhol, de 49 anos, rende Robert Moreno, que conduziu nos últimos tempos La Roja até à fase final do Euro 2020, informou ontem Luis Rubiales, presidente da federação espanhola de futebol (RFEF).

Importa lembrar que apesar de Moreno ter cumprido com sucesso a sua missão, ao apurar a seleção espanhola para o próximo campeonato da Europa como vencedor do grupo e cabeça-de-série, este era uma espécie de pacto que estava desde o início pré-acordado entre todas as partes. Basicamente, segundo o organismo que tutela o futebol espanhol, o lugar nunca deixou de pertencer ao ex-treinador do Barcelona, que tinha luz verde para voltar quando quisesse, assim que esse fosse o seu desejo. De tal forma que terá sido mesmo o agora ex-selecionador a confirmar a vontade de Luis Enrique de regressar, colocando de imediato o lugar à disposição. “Queremos que a verdade seja conhecida. É a primeira vez que a federação fala. Luis Enrique regressa ao seu cargo. Em 19 de junho [dia em que o técnico abandonou a seleção], expliquei que Robert Moreno assumiu o cargo. Esclarecemos que no momento em que Luis Enrique quisesse voltar, ele regressaria. Transparência e rigor, o tempo todo”, revelou o presidente da federação espanhola. Já José Francisco Molina, diretor desportivo da RFEF, assegurou que “o próprio Robert Moreno é que transmitiu que o Luis Enrique tinha vontade de voltar”.

Os próximos capítulos da seleção espanhola voltam, desta forma, a ser em parte escritos pelas mãos do ex-jogador, num contrato que se estende agora até ao Mundial de 2022, a disputar no Catar.

“Este contrato e este projeto foi sempre feito com o Luis Enrique. Só uma grande fatalidade o afastou de o cumprir, mas o lugar foi sempre dele. […] Ele quer que o ciclo termine no Mundial do Catar, ele merece, independentemente do que acontecer no Europeu. Este é um projeto que terminará no Catar”, adiantou Rubiales.

Apesar das condições estarem supostamente colocadas em pratos limpos desde o inicial afastamento de Luis Enrique, e de Moreno ter aparentemente cumprido com o estipulado, a despedida do último treinador acabou por ser mais penosa do que era esperado.

Moreno recusou estar presente na conferência de imprensa anterior ao último jogo de qualificação para o Europeu da Espanha, com a Roménia (segunda-feira à noite) e, no final da partida, deixou o balneário em lágrimas após despedir-se dos jogadores.

A federação terá até ficado surpreendida pela saída total do catalão, uma vez que a intenção era que o técnico de 42 anos continuasse ligado ao projeto, com a sua integração na equipa técnica.

Moreno assumiu, recorde-se, o comando da nau espanhola de forma interina a 25 de março, nas vésperas do Malta-Espanha, altura em que Enrique informou que ia abandonar o cargo de selecionador devido a “problemas pessoais”.

Só no final de agosto o ex-treinador do Barcelona tornou público o motivo, ao informar que estava de luto pela morte da filha Xana, de nove anos, que não resistiu a um cancro nos ossos.

A notícia foi dada pelo próprio técnico através das redes sociais.

“A nossa filha Xana faleceu com nove anos, depois de lutar durante cinco intensos meses contra um osteossarcoma. Obrigado por todas as manifestações de carinho recebidas durante estes meses e agradecemos discrição e compreensão”, podia ler-se na publicação do técnico.

Regresso polémico? Apesar de este ter sido, aparentemente, um regresso pacífico, supostamente alinhado em todas as frentes, a posição de Moreno e o seu consequente afastamento estão a deixar alguns espanhóis intrigados. Pelo menos é disso que dá conta a imprensa espanhola, que deu ontem eco a uma publicação feita por Iker Casillas, campeão do Mundo e duas vezes campeão europeu pela Espanha.

O guarda-redes do FC Porto escreveu uma mensagem no Twitter algumas horas depois do final do jogo entre a Espanha e a Roménia – “Somos um país anedótico… Viva a Espanha!” –, um post que os espanhóis associaram à saída de Moreno do comando técnico da Roja.

É que, embora a RFEF tenha feito ontem questão de salientar a forma saudável como foi levado a cabo todo este processo de transição, a celeridade com que o assunto foi tratado parece levantar algumas dúvidas.

A confirmar isso mesmo parece estar, mais uma vez, a posição do agora ex-selecionador, que depois de já ter estado ausente da conferência pós-jogo voltou a não marcar presença na reunião de emergência, que tinha sido agendada para esta terça-feira. O técnico fez-se representar pelos advogados, postura que não parece ir ao encontro da forma tranquila como foi exposta toda a situação.

De acordo com o jornal espanhol As, e apesar de não estar em causa a existência ou não de uma pré-combinação, Moreno sente-se traído pelo presidente do organismo e pelo próprio Luis Enrique.

“O Luis Enrique teve sempre a porta da seleção aberta a partir do momento que decidisse regressar, e o Robert sabia disso. Ele mesmo tinha dito que se o Luis Enrique voltasse, dava um passo ao lado”, disse por várias vezes, na conferência de ontem, Luis Rubiales.

De relembrar que o conjunto espanhol está apurado para o Euro 2020 desde outubro, após empate a uma bola com a Suécia. Nesse momento, Moreno dedicou o apuramento a Luis Enrique: “Quando se está numa seleção de alto nível, o apuramento é obrigatório. Quero dedicá-lo a Luis Enrique e à família, e também a Luis Rubiales e Molina, que confiaram em mim para este trabalho”, disse. Já na segunda-feira, a seleção espanhola goleou a Roménia (5-0) e terminou a fase de apuramento na liderança do grupo F, com 26 pontos (oito vitórias e dois empates em dez jogos).

A Espanha procura o quarto europeu da sua história após as conquistas de 1964, 2008 e 2012. Na última edição da prova, conquistada por Portugal, caiu nos oitavos-de-final, diante dos italianos.