Custou (muito, e provavelmente muito mais do que toda a gente esperaria), mas foi: Portugal está no Euro 2020. A seleção nacional teve de suar muitíssimo para sair do Luxemburgo com os três pontos necessários para poder carimbar o bilhete de ida ao próximo Campeonato da Europa – no qual defenderá o título conquistado no verão de 2016, em França –, com o 0-2, final a ser até bastante lisonjeiro face ao que se viu no campo do Estádio Josy Barthel.
Este foi, de resto, um apuramento claramente… à Portugal: início periclitante, com dois empates caseiros que assustaram toda a gente (0-0 com a Ucrânia e 1-1 com a Sérvia, ambos no Estádio da Luz), seguidos de uma recuperação travada apenas na segunda volta em Kiev e um final muito apertado, com bolas pelo ar e médios a entrar para defender a magra vantagem perante uns luxemburgueses que já deixaram de ser os bombos de qualquer festa para a qual sejam convidados.
O estado do “relvado”, verdade seja dita, contribuiu sobremaneira para a tremedeira que se viu nos comandados de Fernando Santos neste jogo de despedida da fase de apuramento para um Europeu diferente – o primeiro da história a jogar-se em 12 cidades de 12 países diferentes. Os buracos que se iam acumulando no lamaçal não ajudavam em nada às ações de Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva e companhia, ao contrário do que acontecia com os homens da casa: mais habituados ao terreno e galvanizados pelo facto de estar a defrontar o campeão europeu em título, aproveitavam situações rápidas de contra-ataque para provocar calafrios a Rui Patrício e a mais uns quantos milhões de portugueses que viam a marcha do marcador em Belgrado, com a Sérvia a bater a Ucrânia – péssimas notícias para Portugal.
Confirmação rumo ao recorde
Aos 40 minutos, a seleção nacional somava um único remate à baliza do Luxemburgo, numa ameaça tímida de Ronaldo. Até que o génio de Bernardo Silva entrou finalmente em ação: o criativo do Manchester City viu uma nesga de espaço a abrir-se nas costas dos centrais luxemburgueses e fez um extraordinário passe longo para Bruno Fernandes, que só precisou de dois toques para abrir a contagem: receção perfeita e remate certeiro.
A Ucrânia, entretanto, viria a empatar a partida na Sérvia, pelo que Portugal apareceu com uma postura diferente na segunda parte: mais contenção, mais expectativa e menos risco. Isto, claro, em teoria, porque na prática as coisas nem sempre funcionam da forma que se idealiza. É que o Luxemburgo nunca desistiu de procurar o empate e esteve mesmo bastante perto de o conseguir num par de ocasiões, com Rui Patrício e a dupla de centrais José Fonte-Rúben Dias a ter de se aplicar a fundo para manter a baliza a zeros.
Em cima do minuto 90, o ponto final: Bernardo Silva (quem mais?) encontrou Diogo Jota e o jovem atacante do Wolverhampton, num remate acrobático, acabou por levar a melhor sobre o guardião Moris, que ainda tocou na bola. Para tirar todas as dúvidas, Cristiano Ronaldo ainda foi confirmar o golo em cima da linha, com o tento a ser-lhe atribuído pela UEFA – o que significa que chegou aos 99 golos ao serviço da seleção principal, estando agora a um do centenário e a dez de igualar o recorde absoluto do mundo, detido pelo iraniano Ali Daei (109). CR7, aliás, pode ainda conseguir outro feito histórico: caso (como se espera) jogue o Europeu do próximo verão, torna-se o primeiro jogador da história a disputar cinco fases finais da competição, depois de 2004, 2008, 2012 e 2016 – ele que já é recordista de jogos em fases finais (21).
Fernando Santos ainda fez entrar Rúben Neves (que se juntou a Danilo e João Moutinho no meio-campo) para ajudar a segurar a vantagem no miolo do terreno, mas já não havia dúvidas: Portugal tinha garantida a vitória 300 da sua história – curiosamente, a 100 e a 200 foram… também frente ao Luxemburgo – e o apuramento para o sétimo Europeu e 11.ª prova de seleções consecutiva, num registo só ao alcance de Alemanha, França e Espanha. E, refira-se, tê-lo-ia conseguido mesmo com um empate, pois a Sérvia acabou por permitir igual desfecho nos descontos do encontro com a Ucrânia (2-2), depois de ter estado por duas vezes em vantagem. Os ucranianos terminaram esta fase de apuramento sem derrotas (e apenas dois empates em oito jogos), enquanto os sérvios terão de se contentar com a presença no playoff, assegurada por terem conquistado um dos grupos da Liga C na Liga das Nações.
“Foi um apuramento mais difícil do que perspetivávamos. Aqueles dois empates em casa condicionaram um pouco, mas pelo meio vencemos uma prova europeia e provámos que somos uma das grandes equipas da Europa e do mundo. Há que acreditar nestes jogadores. Temos de continuar equilibrados e lá [Europeu] estaremos como candidatos”, salientou Fernando Santos, completando: “Quando Portugal consegue juntar criatividade, nota artística e perceber que o jogo precisa de outra coisa, é praticamente imbatível. Não é fácil ganhar a uma seleção como Portugal. Temos boas condições para fazer um bom Europeu. Quando eu disse que Portugal era candidato a ganhar o Euro [2016], era porque eu era maluco. Se calhar continuo maluco porque digo que Portugal não é favorito. Portugal vai lutar para ganhar. Em três provas, ganhou duas. Isso marca a qualidade desta equipa”.
Só faltam três
Contas feitas, Portugal foi a 17.ª seleção a garantir a presença na grande competição de seleções que se realizará no próximo verão. Antes, já Bélgica, Itália, Rússia, Polónia, Ucrânia, Espanha, Turquia, França, Inglaterra, República Checa, Finlândia (estreia), Suécia, Alemanha, Holanda, Áustria e Croácia o tinham conseguido, faltando agora encontrar apenas mais três seleções nesta fase de apuramento: as duas do Grupo D, a decidir nos jogos de hoje entre Dinamarca, Suíça e Irlanda, e o segundo classificado do Grupo E, pelo qual lutam amanhã Hungria, País de Gales e Eslováquia. Os restantes quatro lugares, recorde-se, serão conhecidos nos playoff que se realizarão apenas em março e que resultam do desempenho das seleções na Liga das Nações.
No que respeita aos outros jogos realizados ontem, realce para um recorde batido por Harry Kane: ao apontar o segundo tento de Inglaterra na goleada no Kosovo (0-4), o avançado tornou-se o primeiro jogador inglês a marcar em todos os jogos de uma campanha de qualificação para uma fase final, com um total de 12 golos – que lhe dão também a liderança dos melhores marcadores do apuramento, logo à frente de Cristiano Ronaldo e do israelita Eran Zahavi, que ainda joga amanhã na Macedónia do Norte.