“Numa sociedade inteligente, complexa, plural, toda a gente, também a política, é obrigada a escolher entre autoridade ignorante ou a deliberação inteligente”.
Daniel Innerarity
Numa época em que o desprezo pela atividade política parece contagiar a maioria dos cidadãos e, em especial, as faixas etárias mais jovens, torna-se necessário, com a máxima urgência, relevar o papel da inteligência em detrimento da tradicional atitude taticista, oportunista, que caracteriza a generalidade dos nossos atores políticos.
Contra a manutenção do statu quo, do medo de “sair da caixa”, de arriscar novas abordagens, novos métodos, é imperioso empunhar a arma da inteligência e transformá-la no denominador comum.
Vivemos numa sociedade do conhecimento e, como defende Innerarity, “é necessário gerir o saber, mover-se em ambientes de incerteza e fazer frente à ignorância”.
Citando Helmut Wiesenthal: “Numa sociedade do conhecimento só sobrevivem os sistemas que são capazes de aprender e estão dispostos a tal”.
Olhando para a nossa classe política, o panorama não é animador. Falta-lhe notoriamente vontade de mudança.
O exemplo recente da tentativa, por parte dos partidos da esquerda parlamentar, de silenciar os deputados dos novos partidos no debate da passada quarta-feira é apenas um pequeno exemplo da forma como os representantes de partidos institucionais olham para o que é novo: temendo a invasão do seu espaço, tendem invariavelmente a usar a sua força para apagar a novidade. E só a pressão dos média é que os faz mudar de atitude.
Numa sociedade cada vez mais individualizada, há que encontrar respostas políticas inteligentes que reintroduzam um nível mínimo de confiança entre cidadãos e os representantes políticos eleitos. Há que estabelecer um contrato claro e firme com os eleitores, sujeitando-se às sanções aqueles que o não cumprirem.
A política do pedestal e o discurso para as massas já é passado.
Voltando a Innerarity, no seu livro Política para Perplexos, escreve: “A política usufruiu durante muito tempo do benefício da ignorância. Os Estados podiam permitir-se quase tudo quando praticamente não se sabia o que faziam. (…) Vivemos hoje num mundo que recusa a desculpa do segredo”.
Nova política, precisa-se. Antes que seja tarde demais.
Jornalista