Um treinador-funcionário


Os portugueses estão habituados à figura do treinador “posso, quero e mando”, de que o paradigma máximo é Jorge Jesus. E de que Sérgio Conceição também faz o género.


São treinadores que assumem tudo e não admitem interferências no seu trabalho. Definem a estratégia e a tática, escolhem a equipa para cada jogo, lideram o balneário (de forma até, por vezes, autocrática).

Este tipo de treinador vem dos tempos em que os clubes eram clubes, geridos como as antigas coletividades. Dos tempos do amor à camisola, em que os clubes ganhavam pouco e gastavam pouco.

Só que o futebol mudou radicalmente. Os clubes, hoje, são empresas – e os grandes clubes são grandes empresas, com orçamentos de centenas de milhões, que precisam de faturar em tudo: merchandising, patrocínios, uso da marca, publicidade, venda de passes e de bilhetes, presença em provas internacionais e, claro, venda de jogadores.

A venda de jogadores é uma das grandes fontes de receita dos maiores clubes portugueses. Só a venda de um jogador como João Félix, por mais dúvidas que o negócio suscite, é suficiente para equilibrar um orçamento anual.

Nessa medida, o negócio da venda de jogadores tem de estar inscrito na estratégia do clube definida pela direção – e o treinador tem de se encaixar nessa estratégia. Como funcionário do clube, o treinador não pode definir uma estratégia pessoal completamente dissonante da definida pela direção.

Ora, já se percebeu que a estratégia de Luís Filipe Vieira para tornar o Benfica um clube sustentável é vender todos os anos uma ou mais “pérolas” do Seixal. E tem-no conseguido fazer. Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, João Cancelo, André Gomes, Nélson Semedo, João Félix – são bons exemplos e já são muitos!

Esta estratégia é perfeitamente legítima. E se calhar é a que mais convém ao Benfica. Mas para isso é preciso “mostrar” os jogadores. E que melhor montra há do que a Champions para o fazer? É por essa razão que Vieira-Bruno Lage apostam em cheio nesta prova para lançar jovens. Repare-se que jogadores influentes como André Almeida ou Pizzi – que, pela idade ou características, não são vendáveis – não jogam, sendo substituídos por jovens que possam dar nas vistas e protagonizar bons negócios.

Tudo isto faz sentido. Claro que esta estratégia tem um risco: se o Benfica perder sempre, os jovens acabam por não se valorizar. Se, como sucedeu na época passada, o Benfica não passar da fase de grupos, não só perde dinheiro pela não qualificação como não valoriza os jogadores nem a marca.

Assim, esta estratégia, estando no essencial certa, tem de ser conduzida com muita sabedoria para conseguir conjugar a apresentação de muitos jovens da formação com os bons resultados e as boas exibições que atestem a sua valia. Como o Ajax conseguiu fazer há um ano.


Um treinador-funcionário


Os portugueses estão habituados à figura do treinador “posso, quero e mando”, de que o paradigma máximo é Jorge Jesus. E de que Sérgio Conceição também faz o género.


São treinadores que assumem tudo e não admitem interferências no seu trabalho. Definem a estratégia e a tática, escolhem a equipa para cada jogo, lideram o balneário (de forma até, por vezes, autocrática).

Este tipo de treinador vem dos tempos em que os clubes eram clubes, geridos como as antigas coletividades. Dos tempos do amor à camisola, em que os clubes ganhavam pouco e gastavam pouco.

Só que o futebol mudou radicalmente. Os clubes, hoje, são empresas – e os grandes clubes são grandes empresas, com orçamentos de centenas de milhões, que precisam de faturar em tudo: merchandising, patrocínios, uso da marca, publicidade, venda de passes e de bilhetes, presença em provas internacionais e, claro, venda de jogadores.

A venda de jogadores é uma das grandes fontes de receita dos maiores clubes portugueses. Só a venda de um jogador como João Félix, por mais dúvidas que o negócio suscite, é suficiente para equilibrar um orçamento anual.

Nessa medida, o negócio da venda de jogadores tem de estar inscrito na estratégia do clube definida pela direção – e o treinador tem de se encaixar nessa estratégia. Como funcionário do clube, o treinador não pode definir uma estratégia pessoal completamente dissonante da definida pela direção.

Ora, já se percebeu que a estratégia de Luís Filipe Vieira para tornar o Benfica um clube sustentável é vender todos os anos uma ou mais “pérolas” do Seixal. E tem-no conseguido fazer. Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, João Cancelo, André Gomes, Nélson Semedo, João Félix – são bons exemplos e já são muitos!

Esta estratégia é perfeitamente legítima. E se calhar é a que mais convém ao Benfica. Mas para isso é preciso “mostrar” os jogadores. E que melhor montra há do que a Champions para o fazer? É por essa razão que Vieira-Bruno Lage apostam em cheio nesta prova para lançar jovens. Repare-se que jogadores influentes como André Almeida ou Pizzi – que, pela idade ou características, não são vendáveis – não jogam, sendo substituídos por jovens que possam dar nas vistas e protagonizar bons negócios.

Tudo isto faz sentido. Claro que esta estratégia tem um risco: se o Benfica perder sempre, os jovens acabam por não se valorizar. Se, como sucedeu na época passada, o Benfica não passar da fase de grupos, não só perde dinheiro pela não qualificação como não valoriza os jogadores nem a marca.

Assim, esta estratégia, estando no essencial certa, tem de ser conduzida com muita sabedoria para conseguir conjugar a apresentação de muitos jovens da formação com os bons resultados e as boas exibições que atestem a sua valia. Como o Ajax conseguiu fazer há um ano.