Carros elétricos. Fáceis de ter mas difíceis de carregar

Carros elétricos. Fáceis de ter mas difíceis de carregar


Ajudar o ambiente não é assim tão simples. Em Lisboa, é difícil carregar um carro elétrico. Os postos avariados multiplicam-se, há zonas onde os tuk-tuks ocupam os lugares de estacionamento exclusivo e assistência técnica ainda não funciona de forma rápida.


Ter um carro elétrico é simples. Mais complicado é carregá-lo – os postos de carregamento ou estão ocupados por veículos elétricos em carga, ou estão ocupados por tuk-tuks, ou estão, simplesmente, avariados. Em Lisboa é fácil encontrar um posto de carregamento avariado. Na zona de Belém, por exemplo, quer à frente da famosa loja onde se compram pastéis de Belém, quer à frente do Museu da Marinha, os ecrãs onde se passa o cartão para iniciar o carregamento não funcionam.

Em alguns, há sacos de plástico do lixo, pretos, a tapar os ecrãs. Já na Avenida da Liberdade, em pleno centro da cidade, há três postos – dois deles inoperacionais. Na rua que liga o Marquês de Pombal à Praça dos Restauradores, os lugares destinados ao carregamento de veículos elétricos estão ocupados por tuk-tuks que esperam por clientes que querem passear pela capital.

As aplicações para encontrar sítios onde é possível carregar os carros são algumas, em que os próprios utilizadores podem indicar se o posto está ou não a funcionar e se está ou não ocupado por carros elétricos em carregamento. No entanto, há postos identificados a verde que, na realidade, não funcionam.

À escassez de sítios para carregar os carros elétricos junta-se a falta de assistência técnica. Ao i, João contou que, durante um carregamento, o cabo que faz a ligação entre o carro e o posto ficou preso e precisou de entrar em contacto com a assistência técnica. Não existia, de momento, nenhum técnico para se dirigir ao local e só voltaram a ligar três horas depois. Nessa altura, a situação já estava resolvida. Ao fim de semana, o cenário não é mais animador, já que das vezes que tentou contactar, a única resposta que João obteve foi para ligar durante os dias úteis.

“Este é um problema que não é só dos postos de carregamento, é do país em geral”, diz Jorge Pereira, que carrega sempre o seu carro perto do Centro Comercial Colombo. Chega do trabalho e deixa o carro a carregar durante a noite. Mas nem sempre é fácil: “Muitas vezes, está ocupado e no sítio onde trabalho não há carregamento perto, por isso, só mesmo à noite”, explicou. O carro que tem há seis meses nem sempre é utilizado, já que há dias em que é necessário recorrer ao carro a gasóleo que tem há dez anos. Jorge Pereira decidiu “investir num carro elétrico, primeiro porque é amigo do ambiente, e depois porque, se fizer as contas ao final do mês, é muito mais barato, é dois em um”.

Poupar cerca de 400 euros por mês Conduzir um carro durante o dia inteiro. Levar pessoas de um sítio para o outro – às vezes, para fora de Lisboa. Esta pode ser a descrição do trabalho de um taxista ou de um condutor TVDE (transporte de passageiros em viaturas ligeiras descaracterizadas). Neste tipo de trabalho, o preço do combustível conta muito e, na hora de comprar carro para trabalhar, é preciso ter em conta quão económico é o veículo. Foi por este motivo que Miguel optou por comprar um carro elétrico. E, como a maioria das pessoas, deixa a carregar durante a noite. “Para conseguir ter 300 quilómetros são precisas 14 horas”, referiu o condutor TVDE. Ainda que o carregamento seja lento, para Miguel compensa, sem margem para dúvidas. “Poupo mais de 400 euros por mês em combustível”, refere ,antes de sair para ir buscar um cliente. O segredo é, diz Miguel, ter uma condução económica – evitar grandes velocidades para otimizar o mais possível. “As descidas são sempre boas, porque isso permite recarregar a bateria”, explicou.

O único problema que Miguel identifica é o mesmo que afeta a maioria dos utilizadores: a falta de postos de carregamento disponíveis. Normalmente, carrega o seu carro no polo universitário da Ajuda, onde é possível carregar dois carros em simultâneo e, por ser longe do centro da cidade, raramente está ocupado. No entanto, mesmo na zona de Monsanto há apenas dois sítios para carregar os carros – no total são quatro lugares de estacionamento –, mas só o da universidade da Ajuda está operacional. O posto que está na estrada do Alvito não só está avariado como já foi vandalizado.

Carregar o carro em casa é também uma alternativa, até mais segura, “e não aumenta assim tanto o valor da fatura da luz ao final do mês”, disse o condutor. Feitas as contas, para Miguel, ter um carro elétrico é, de longe, uma forma de poupança.

Tal como Miguel, há outros utilizadores que optam por locais menos movimentados e que, normalmente, têm sempre estacionamento livre. Por exemplo, junto ao Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) existem 12 lugares exclusivos para veículos elétricos e raramente estão todos ocupados. “Outra vantagem de ter carro elétrico é que temos sempre, ou quase sempre, estacionamento exclusivo – não é necessário pagar parquímetro”, disseram alguns utilizadores.

O futuro das baterias Um dos problemas relacionados com os carros elétricos relaciona-se, precisamente, com a autonomia da bateria. Para viagens longas, ainda não é o ideal – ou se para a meio do caminho para carregar o carro, ou simplesmente tem de se optar por percorrer essa distância com um carro a gasolina ou a gasóleo. A solução para a baixa autonomia ainda não chegou a Portugal, mas o assunto parece estar a ser resolvido nos Estados Unidos. Investigadores da Universidade do Estado da Pensilvânia anunciaram na semana passada que foi desenvolvida uma bateria de lítio cujo tempo de carregamento é mais rápido do que as existentes. Em termos práticos, será possível carregar o suficiente para percorrer 320 quilómetros em dez minutos. Esta nova bateria não atinge temperaturas tão elevadas durante o carregamento, o que significa um ciclo de vida mais longo.