O benefício dos infratores


Se os prémios de produtividade não devem merecer contestação, já premiar trabalhadores só porque vão todos os dias trabalhar parece-me totalmente absurdo.


Os novos ministros e o seu imenso séquito de secretários de Estado já começaram a dizer publicamente ao que vêm.

E se começarmos pela ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, já podemos dizer que começa mal.

Numa recente entrevista ao jornal Público, a ministra sugere que os funcionários públicos que faltem menos ao trabalho tenham prémios de assiduidade e acesso facilitado à reforma.

“Temos uma taxa de absentismo muito elevada, e se é verdade que ela pode ser atacada através das juntas médicas, também um incentivo à assiduidade é importante”, defende Alexandra Leitão.

A ideia, que até não é nova, continua a ser peregrina.

Ora bem. Que mensagem passa esta sugestão?

Em primeiro lugar, que faltar ao trabalho é uma situação normal. Assim sendo, quem faltar menos até merece um prémio.

Aquilo que numa empresa normal merece reprovação e consequente penalização, no Estado, pelos vistos, conquista benesses.

Portugal até é, no quadro da União Europeia, um dos países com mais baixa taxa de absentismo, cerca de 9%, contra os 15% da média europeia.

No entanto, só no setor público da saúde, em 2018, apenas por motivo de greve, foram perdidos mais de 180 mil dias de trabalho

Portugal tem um problema de produtividade, situando-se nos últimos lugares na tabela da produtividade real do trabalho por hora. Isto é, apesar de não estar mal classificado no campeonato europeu do absentismo, a verdade é que, no nosso país, estar no trabalho não significa necessariamente produzir, como os números mostram.

Se a existência de prémios de produtividade – para os trabalhadores que revelam qualidade de excelência neste capítulo – não deve merecer contestação, já premiar trabalhadores só porque vão todos ou quase todos os dias trabalhar parece-me totalmente absurdo.

Os trabalhadores ganham um salário exatamente para isso: comparecer ao trabalho e produzir.

Quando se promete premiar o cumprimento dos deveres básicos, está a concluir-se que nem esses são cumpridos e que, por esse motivo, os infratores menos graves, neste caso os funcionários menos faltosos, devem ganhar um prémio.

Se é este o conceito de modernização do Estado e da Administração Pública, estamos conversados.

 

Jornalista


O benefício dos infratores


Se os prémios de produtividade não devem merecer contestação, já premiar trabalhadores só porque vão todos os dias trabalhar parece-me totalmente absurdo.


Os novos ministros e o seu imenso séquito de secretários de Estado já começaram a dizer publicamente ao que vêm.

E se começarmos pela ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, já podemos dizer que começa mal.

Numa recente entrevista ao jornal Público, a ministra sugere que os funcionários públicos que faltem menos ao trabalho tenham prémios de assiduidade e acesso facilitado à reforma.

“Temos uma taxa de absentismo muito elevada, e se é verdade que ela pode ser atacada através das juntas médicas, também um incentivo à assiduidade é importante”, defende Alexandra Leitão.

A ideia, que até não é nova, continua a ser peregrina.

Ora bem. Que mensagem passa esta sugestão?

Em primeiro lugar, que faltar ao trabalho é uma situação normal. Assim sendo, quem faltar menos até merece um prémio.

Aquilo que numa empresa normal merece reprovação e consequente penalização, no Estado, pelos vistos, conquista benesses.

Portugal até é, no quadro da União Europeia, um dos países com mais baixa taxa de absentismo, cerca de 9%, contra os 15% da média europeia.

No entanto, só no setor público da saúde, em 2018, apenas por motivo de greve, foram perdidos mais de 180 mil dias de trabalho

Portugal tem um problema de produtividade, situando-se nos últimos lugares na tabela da produtividade real do trabalho por hora. Isto é, apesar de não estar mal classificado no campeonato europeu do absentismo, a verdade é que, no nosso país, estar no trabalho não significa necessariamente produzir, como os números mostram.

Se a existência de prémios de produtividade – para os trabalhadores que revelam qualidade de excelência neste capítulo – não deve merecer contestação, já premiar trabalhadores só porque vão todos ou quase todos os dias trabalhar parece-me totalmente absurdo.

Os trabalhadores ganham um salário exatamente para isso: comparecer ao trabalho e produzir.

Quando se promete premiar o cumprimento dos deveres básicos, está a concluir-se que nem esses são cumpridos e que, por esse motivo, os infratores menos graves, neste caso os funcionários menos faltosos, devem ganhar um prémio.

Se é este o conceito de modernização do Estado e da Administração Pública, estamos conversados.

 

Jornalista