Weyes Blood levou o Titanic a bom porto no B.Leza

Weyes Blood levou o Titanic a bom porto no B.Leza


A cantora americana Weyes Blood esteve no B.Leza a celebrar os 25 anos da galeira Zé dos Bois e a apresentar o seu mais recente disco, Titanic Rising. Um concerto de emoções fortes e contrastantes, que terminou com uma sala repleta de sorrisos.


“Tenho uma pergunta para vos fazer”, lança misteriosamente para o ar Weyes Blood  (pronunciado "wise blood"), nome que a norte americana Natalie Mering assume enquanto artista musical. “Perguntamos isto em todas as cidades onde temos tocado. Levante a mão quem achar que a chegada à lua foi filmada pelo Stanley Kubrick.”

Os risos no B.leza, em Lisboa, superaram a quantidade de mãos levantadas e a cantora procedeu a explicar a ligação que a teoria da conspiração tinha à musica Something to Believe, quarta faixa do seu aclamado mais recente álbum Titanic Rising, um conto sobre encontrar verdade e significado na vida no século XXI.

Este concerto, inserido nas comemorações do 25 aniversário da galeria Zé dos Bois, que contou ainda com atuações de Julia Holter, Kevin Morby ou Thurston Moore, fez-se com estes contrastes. Contraste entre o humor da autora e o drama das suas músicas, que mesmo estas são criadas e compostas por uma conjugação de sons e paisagens experimentais inspirados na música psicadélica ou ambient – tal como podemos ouvir na primeira parte do concerto por parte de Ana Roxanne – com sensibilidades pop herdadas não só de vozes da década de 70, como Karen Carpenter ou Joni Mitchell, mas também de artistas contemporâneas como Lana del Rey (com quem Weyes já partilhou o palco para cantar For Free de Mitchell).

"Espero que as pessoas possam apreciar estes dois lados da minha música: as músicas mais lo-fi e as mais hi-fi", confessara antes do concerto em entrevista ao i. "Acho que ambos são eficazes a transmitir emoções. Não há um que seja melhor do que o outro."

A mistura sónica pode ser uma das razões que explica o sucesso do mais recente trabalho de Natalie, com músicas que conseguem agradar do mais duro e exigente ouvido até às massas que estão mais interessados em cantarolar uma melodia do que em compreender as sensibilidades avant-garde da autora de Titanic Rising, que foi interpretado na íntegra (com exceção dos seus dois interlúdios intrumentais), havendo tempo para visitar faixas de Front Row Seat to Earth, como Do You Need My Love, e, num bastante requisitado encore, Bad Magic do álbum The Innocents, que na mesma entrevista confessou ser uma das suas músicas favoritas, ou fazer uma cover de A Whiter Shade of Pale, dos Procol Harum.

A água foi um tema importante no concerto – não fosse o B.leza junto ao rio Tejo – com luzes azuis a serem projectadas do chão do palco contra a cantora e o seu microfone carregado de reverb proporcionarem o efeito que Natalie estava submersa. Este efeito foi mais do que adequado para ser utilizado durante a faixa Movies, momento central do álbum e a catarse do concerto. “This is how it feels to be in love” é a linha que abre a música e, olhando em redor, observando os sorrisos de todos os presentes é justo dizer que o amor se assemelha a esta visão.

Com Natalie Mearing a bordo, este Titanic chegou a bom porto.

*Texto editado por Cláudia Sobral