São crianças, estúpidos


Há duas coisas que tocam o coração de qualquer adulto: o sorriso de uma criança e o choro de uma criança. O primeiro oferece-nos um espelho daquilo que é a felicidade genuína, o sorriso fácil de quem tem todo o mundo pela frente, de quem ainda não tem feridas no coração e de quem ainda…


Há duas coisas que tocam o coração de qualquer adulto: o sorriso de uma criança e o choro de uma criança. O primeiro oferece-nos um espelho daquilo que é a felicidade genuína, o sorriso fácil de quem tem todo o mundo pela frente, de quem ainda não tem feridas no coração e de quem ainda é capaz de sorrir só porque sim, sem estar preocupado com o que outros pensam disso. O choro dá-nos o reverso da medalha, a fragilidade de quem ainda não tem medo de pedir mimo, amor e ternura – de quem quer colo, cantigas e carinho. De quem ainda só consegue expressar a tristeza, a dor, a fome ou um simples querer através de berros e lágrimas. O adulto que perdeu a capacidade de se comover com o sorriso ou o choro de uma criança só pode ser um adulto que fracassou a sua missão neste mundo.

O político que cai na tentação de tratar uma criança como um adulto é também ele um fracassado. Não necessariamente como político, mas essencialmente enquanto ser humano. Nunca podemos oferecer dureza do Estado em contraposição à fragilidade de uma criança. Seja qual for o tema, seja qual for a gravidade do que está por trás. Mesmo no caso dos migrantes, mesmo pondo em causa a nossa segurança. 

Podemos até defender fronteiras fechadas na Europa, mas não podemos fechar uma porta que seja a uma criança que fuja de uma realidade pior do que a nossa. Podemos querer um Estado forte, mas não podemos fazer como Trump e separar as crianças dos pais. Podemos ser liberais, como eu sou, e achar que têm de ser as pessoas a lutar pelo seu próprio conforto, e não o Estado a tirar a quem trabalha para oferecer a quem teve menos mérito. No entanto, não podemos deixar que em tempo algum uma criança não tenha cuidados de saúde, habitação e ensino que lhe permitam – em absoluto pé de igualdade com todas as outras crianças – ter um futuro melhor do que aquele que os seus antepassados tiveram. 

Sou de direita. Mas quero viver num mundo humanista. Onde não há corpos de crianças a darem à costa nas praias europeias, em nome da segurança. Onde não há crianças a chorarem em celas com saudades dos pais, em nome de políticas anti-imigração. Onde não há crianças a casarem aos 12 anos em nome da suposta defesa da liberdade étnica. Quero viver num mundo liberal e isso é garantir que todos, quando somos crianças, partimos da mesma posição para essa grande maratona que é a nossa vida. Dir-me-ão que haverá sempre diferenças e privilegiados. Claramente, sem qualquer dúvida. Mas há diferenças que o trabalho nos permitirá ultrapassar e outras que são inaceitáveis porque são os Estados a impô-las. 

Ao Estado, a todos os Estados, o que temos de exigir é uma defesa radical da dignidade humana. E nenhum humano pode ser indiferente ao sofrimento de uma criança. 

 


São crianças, estúpidos


Há duas coisas que tocam o coração de qualquer adulto: o sorriso de uma criança e o choro de uma criança. O primeiro oferece-nos um espelho daquilo que é a felicidade genuína, o sorriso fácil de quem tem todo o mundo pela frente, de quem ainda não tem feridas no coração e de quem ainda…


Há duas coisas que tocam o coração de qualquer adulto: o sorriso de uma criança e o choro de uma criança. O primeiro oferece-nos um espelho daquilo que é a felicidade genuína, o sorriso fácil de quem tem todo o mundo pela frente, de quem ainda não tem feridas no coração e de quem ainda é capaz de sorrir só porque sim, sem estar preocupado com o que outros pensam disso. O choro dá-nos o reverso da medalha, a fragilidade de quem ainda não tem medo de pedir mimo, amor e ternura – de quem quer colo, cantigas e carinho. De quem ainda só consegue expressar a tristeza, a dor, a fome ou um simples querer através de berros e lágrimas. O adulto que perdeu a capacidade de se comover com o sorriso ou o choro de uma criança só pode ser um adulto que fracassou a sua missão neste mundo.

O político que cai na tentação de tratar uma criança como um adulto é também ele um fracassado. Não necessariamente como político, mas essencialmente enquanto ser humano. Nunca podemos oferecer dureza do Estado em contraposição à fragilidade de uma criança. Seja qual for o tema, seja qual for a gravidade do que está por trás. Mesmo no caso dos migrantes, mesmo pondo em causa a nossa segurança. 

Podemos até defender fronteiras fechadas na Europa, mas não podemos fechar uma porta que seja a uma criança que fuja de uma realidade pior do que a nossa. Podemos querer um Estado forte, mas não podemos fazer como Trump e separar as crianças dos pais. Podemos ser liberais, como eu sou, e achar que têm de ser as pessoas a lutar pelo seu próprio conforto, e não o Estado a tirar a quem trabalha para oferecer a quem teve menos mérito. No entanto, não podemos deixar que em tempo algum uma criança não tenha cuidados de saúde, habitação e ensino que lhe permitam – em absoluto pé de igualdade com todas as outras crianças – ter um futuro melhor do que aquele que os seus antepassados tiveram. 

Sou de direita. Mas quero viver num mundo humanista. Onde não há corpos de crianças a darem à costa nas praias europeias, em nome da segurança. Onde não há crianças a chorarem em celas com saudades dos pais, em nome de políticas anti-imigração. Onde não há crianças a casarem aos 12 anos em nome da suposta defesa da liberdade étnica. Quero viver num mundo liberal e isso é garantir que todos, quando somos crianças, partimos da mesma posição para essa grande maratona que é a nossa vida. Dir-me-ão que haverá sempre diferenças e privilegiados. Claramente, sem qualquer dúvida. Mas há diferenças que o trabalho nos permitirá ultrapassar e outras que são inaceitáveis porque são os Estados a impô-las. 

Ao Estado, a todos os Estados, o que temos de exigir é uma defesa radical da dignidade humana. E nenhum humano pode ser indiferente ao sofrimento de uma criança.