A menos de um mês das eleições presidenciais guineenses, o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, demitiu o Governo, liderado pelo primeiro-ministro Aristides Gomes, apoiado pelo PAIGC – o principal partido no país desde a independência. No decreto presidencial, emitido este domingo, após o Presidente reunir com os partidos com assento parlamentar, lê-se que “está em causa o normal funcionamento das instituições da República”, devido a uma “grave crise política”. Fontes próximas confirmaram ao SOL que a decisão foi uma resposta à repressão policial sobre um protesto em Bissau, este sábado, que levou à morte de um manifestante.
Após o incidente, o Presidente guineense deixou duras críticas ao Governo: “A mortífera violência da repressão policial contra uma marcha pacífica de cidadãos indefesos, que não constituía uma ameaça à segurança, nem às instituições ou à propriedade, representa uma disrupção”. José Mário Vaz salientou: “Um Governo que não só não garante a segurança dos cidadãos, como violenta e abusivamente põe em causa a segurança e a integridade física dos nossos irmãos, não está a servir os interesses da Nação”.
A manifestação foi convocada pelos principais partidos da oposição guineense, o Partido de Renovação Social (PRS), o APU-PDGB – até recentemente aliado parlamentar do PAIGC – e o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15). A oposição protestava alegadas fraudes eleitorais levadas a cabo pelo Governo, bem como as suspeitas de participação do primeiro-ministro no tráfico de droga – num país considerado o primeiro narcoestado africano pelas Nações Unidas.
Já Aristides Gomes respondeu negando todas as acusações e afirmando que o objetivo dos manifestantes "seria parar o processo conducente à realização das eleições". O primeiro-ministro não poupou críticas a José Mário Vaz. "Horas depois de ter feito uma reunião com os atores que quiseram fazer uma manifestação sem autorização, que estavam a violar a lei, o Presidente faz uma reunião com eles e logo a seguir faz uma declaração a culpar o Governo", declarou.
Recorde que ainda a semana passada o primeiro-ministro guineense denunciou no Facebook a “preparação de um golpe de Estado”. A demissão de Aristides Gomes pelo Presidente – eleito como candidato do PAIGC, mas que entretanto se incompatibilizou com a direção do seu antigo partido – arrisca acirrar ainda mais os ânimos no país, antes das eleições de 24 de novembro.