“Isto não é uma retrospetiva, é uma celebração”. Foi este o mote que Lígia Macedo, que assumiu este ano o cargo de diretora executiva do festival Amadora BD, quis trazer para o 30.o aniversário do mais antigo festival de banda desenhada português. Uma edição que pretende não só celebrar o aniversário do festival internacional de banda desenhada que decorre anualmente na Amadora, mas também personalidades e personagens fulcrais para a afirmação desta forma de arte no mundo contemporâneo.
Neste Amadora BD, que decorre até ao próximo dia 3, são duas as exposições a destacar duas instituições – uma fictícia e outra real – da banda desenhada e da cultura pop. Stan Lee – O Mito e as Criações centra-se na história do icónico escritor que morreu em novembro do ano passado e foi responsável pela criação de inúmeras personagens da Marvel Comics como Homem-Aranha, Hulk e Homem de Ferro, entre tantas outras a que regressa a exposição, que conta com várias das suas ilustrações originais.
Mas falta ainda Batman, uma das “caras” da DC Comics, que a Amadora BD homenageia com grande destaque na exposição 80.o Aniversário de Batman, montada numa ala onde se procurou recriar o ambiente de Gotham, cidade onde o Cavaleiro das Trevas exerce a função de vigilante. Ao entrar nesse espaço deparamo-nos com o local que marcou a génese do alter ego de Bruce Wayne, o beco onde os seus pais foram assassinados (sem vestígios de sangue, há que pensar nas crianças), o que despertou o seu lado de justiceiro.
Encontramos também outros locais que marcam o imaginário da personagem, como a Esquadra de Gotham ou o Asilo de Arkham, hospital psiquiátrico onde grande parte da sua galeria de vilões acabam internados. Os némesis do Homem-Morcego também merecem o seu devido destaque com ilustrações da série Batman: The Animated Series (1992) e arte original da novela gráfica Batman: Asilo Arkham (1989), ilustrada por Dave McKean.
“O nosso foco é exaltar a arte da banda desenhada e explicar às pessoas que o que aparece no livrinho tem muito trabalho por trás”, explica Lígia Macedo. “Queremos mostrar que a obra de arte não é o objeto final, mas sim o processo. Este é o único tipo de arte onde isso acontece. A filosofia do nosso festival é afirmar a banda desenhada como a nona arte”.
Num festival em que também a ilustração ocupa um lugar de destaque, o ilustrador Miguel Mendonça, o primeiro português a desenhar (oficialmente) Batman, tem um espaço dedicado apenas ao seu trabalho na exposição comemorativa de Batman. No entanto, não é o único português a ser homenageado. Geraldes Lino visto pelos amigos e Vasco Granja e a BD, duas figuras incontornáveis na história da BD portuguesa (o primeiro morreu em fevereiro do presente ano e Vasco morreu em 2009) vêm a sua vida e obra homenageada.
Um Capuchinho Vermelho, de Marjolaine Leray, Sonho, de Susa Monteiro, e Dampyr encontra Fernando Pessoa, de Mauro Boselli e Michele Cropera, são obras de alguns artistas cuja obra merece um destaque especial neste Amadora BD. “Uma das maiores diferenças deste festival para os restantes é a cenografia. Queremos que as pessoas sintam que estão a entrar dentro do livro de banda desenhada”.
Esta importância dada à cenografia pode ser observada no espaço dedicado a Congo: Um Mundo Esquecido, dos irmãos Henrique e Duarte Gandum – livro que retrata uma viagem ao continente africano nos finais do séc. xix, com influências de Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne –, que explora o ambiente de uma floresta tropical num espaço que submerge o visitante na atmosfera do livro.
O Amadora BD pode ser visitado até ao dia 3 de novembro no Fórum Luís de Camões, na Amadora. Os bilhetes para o público em geral podem ser adquiridos por 3€. Para a celebração da 30.a edição foi preparada uma exposição com os 30 cartazes que ilustraram cada edição, com uma particularidade: “Queríamos fazer algo moderno e optámos por criar uma aplicação que permite ver os cartazes em realidade aumentada”. Entre risos, a nova diretora do evento diz que os 30 são os novos 20 e, neste caso, até pode ter razão. O Amadora BD apresenta-se fresco e inovador, longe ainda de uma crise de meia-idade.
Texto editado por Cláudia Sobral