Numa altura em que a política externa de Donald Trump está sob fogo por ter abandonado os curdos, o Presidente dos Estados Unidos anunciou este domingo que um ataque norte-americano matou o fundador e líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi.
“Ontem à noite, os Estados Unidos levaram justiça ao terrorista número um do mundo”, anunciou Trump na Casa Branca, num invulgar discurso televisivo. “Abu Bakr al-Baghdadi está morto”.
A operação, realizada pelas forças especiais norte-americanas, ocorreu no noroeste da Síria, na província de Idlib. Segundo o chefe da Casa Branca, o líder do Daesh foi perseguido pelos cães dos militares norte-americanos até ao fundo de um túnel, acompanhado por três crianças, seus filhos, “chorando e gritando até ao fim”.
Al-Baghdadi acabou por detonar o colete suicida que tinha vestido quando se apercebeu que já não tinha outra saída, matando os menores que o acompanhavam. “Não morreu como um herói. Morreu como um cobarde”, vincou Trump.
O Presidente dos EUA fez questão de descrever repetidamente al-Baghdadi como “doente e depravado” e os seus seguidores como uns “fracassados” e “cachorrinhos amedrontados”. “Ele morreu como um cão”, afirmou.
O corpo de al-Baghdadi ficou mutilado pela explosão, mas Trump garantiu que os testes realizados após a sua morte confirmam a sua identidade. Segundo Trump, as forças norte-americanas, apoiadas por oito helicópteros e viajando num espaço aéreo controlado pela Rússia (tiveram a permissão de Moscovo), foram atingidas por fogo hostil quando aterraram e entraram no edifício-alvo durante a noite. Contudo, nenhum norte-americano foi morto durante a operação.
A notícia foi recebida com algum agrado pelos democratas, que estão neste momento a investigar Trump num processo de destituição. Foi o caso de Nancy Pelosi, líder maioritária da Câmara dos Representantes, não tendo deixado de ressalvar que a morte de al-Baghdadi não é sinónimo da morte da organização: “Imensos combatentes do ISIS [Estado Islâmico em inglês] continuam em condições incertas nas prisões sírias, e muitos outros na região e pelo mundo fora continuam com a intenção de fazer alastrar a sua influência e cometer atos de terror”.
Quem era al-baghdadi? O líder do Daesh era procurado há muitos anos pelos EUA – era o terrorista mais procurado no planeta: Washington oferecia, desde 2017, 25 milhões de dólares de recompensa a quem o denunciasse. O seu nome verdadeiro era Awwad Ibrahim al-Badri.
É visto como o cérebro que transformou uma pequena célula terrorista num movimento global. Nascido em 1971 numa família sunita da cidade iraquiano de Samarra, a norte de Bagdade, al-Baghdadi aproveitou o fervor religioso, o ódio dos incrédulos e o poder da internet no caminho que catapultou para o cenário global – o Estado Islâmico chegou a ter um território do tamanho da Grã-Bretanha e al-Baghdadi autoproclamou até o califado em 2014, a única vez que foi visto em público.
Alguns relatos sugerem que al-Baghdadi era clérigo numa mesquita em Bagdade na altura da invasão do Iraque, em 2003. Há quem acredite que já era jiadista quando Saddam Hussein estava no poder, mas outros dizem que se radicalizou na altura em que esteve num centro de detenção norte-americano no sul do Iraque, em Bucca, onde se encontravam muitos líderes da Al-Qaeda.