O Prémio Nobel de Economia de 2019 foi atribuído a três economistas, a francesa Esther Duflot e o indiano Abhijit Banerjee do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e o americano Michael Kremer da Universidade de Harvard, pelo trabalho desenvolvido no combate à pobreza global.
Os investigadores, recorrendo ao método científico experimental, demonstraram a eficácia de novas abordagens para actuar na redução, quiçá irradicação, da pobreza a nível mundial. A propósito, numa entrevista colectiva, em Estocolmo, Duflot afirmava que “os pobres são frequentemente reduzidos a caricaturas e mesmo as pessoas que tentam ajudá-los não entendem quais são as raízes profundas dos (seus) problemas”, o que não passa de velhos clichês. Ou seja, os pobres são pobres porque são preguiçosos e não querem trabalhar. A cada passo ouvimos isto, e a lengalenga do empreendedorismo como desbloqueio dum elevador social que teima em não sair do sítio, como que responsabilizando quem não consegue passar da cepa torta, por mais que faça. Não é novidade que em Portugal, e não só, há trabalhadores a viver em risco de pobreza ou mesmo abaixo. Na semana passada, notícias publicadas com base em dados do Eurostat davam conta de que, em 2018, “mais de 2,2 milhões de portugueses viviam abaixo do limiar da pobreza”. Com “uma taxa ligeiramente abaixo da média da União Europeia” (21,6% vs. 21,7%), é inegável que a situação melhorou, mas ainda assim, é muita gente!
Na esteira deste arrazoado, vem à liça a problemática do interior e o cortejo de descasos e abandonos a que são votadas as terras e as gentes que aí vivem. E que uma visita recente ao Alentejo veio acicatar. Por décadas e décadas o Alentejo foi ostracizado e do seu povo se foi alimentando, malevolamente, o anedotário nacional.
Depois de Abril a realidade alentejana foi sendo alterada, tantas vezes de forma sofrida, e hoje vive-se lá diferentemente, para melhor. Todavia o processo de desenvolvimento em curso parece poder estar a ser entalado pelo benquisto crescimento económico que tende a engrossar sem olhar a meios. O primado da economia a pisar o primado do ambiente; do ambiente natural, social, cultural. Quem atravessa o Alentejo interior esbarra com uma nova paisagem: olivais intensivos e superintensivos a perder de vista. Não mais as oliveiras enfileiradas e de copas soltas e arredondadas, verde-prateadas a luzir ao sol. Agora vêem-se arvorezinhas atarracadas, emaranhadas em sebe, apertadas em carreiras, sem graça.
Do lado dos produtores sobram argumentos: que assim se pode mecanizar a plantação, a colheita e a poda; que assim se maximiza a rentabilidade – estas variedades são de alta produção – e minimiza a dependência de mão-de-obra; que assim o país superou as necessidades internas e, fruto das exportações, aproveita para melhorar a balança de transacções correntes. Em contraposição: que assim se está a construir um Alentejo transgénico; que assim se quer amestrar a natureza. E que os solos se possam exaurir, que as populações se queixem dos eflúvios fitossanitários, que…, que… – tretas de ambientalistas retrógrados e alarmistas? Antes fosse!
Enquanto se deixar correr o marfim, é a economia a funcionar. Hoje. Quem vier amanhã que se cuide.
Gestora
Sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990