Dezenas de atuais e ex-presidentes de câmara estão entre os arguidos da operação Éter – que investiga um alegado esquema montado pelo antigo deputado do PSD, Melchior Moreira, para beneficiar diversas empresas. Hermínio Loureiro é um dos suspeitos para o Ministério Público. Atualmente Melchior Moreira – que à data dos factos era presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) – está em prisão preventiva.
No total, estão a ser passadas a pente fino adjudicações feitas por 60 autarquias, segundo o Público.
Como o semanário Sol já tinha noticiado no ano passado, segundo a investigação, o projeto das lojas interativas de turismo nos vários municípios do Norte do país, que arrancou em 2013, foi o início de uma fonte de rendimentos para várias empresas de José Simões Agostinho. Sempre com recurso a ajuste direto, empresas como a Tomi World e a Media 360, em conjunto, conseguiram arrecadar mais de três milhões de euros em ajustes diretos das autarquias do Norte e quase 800 mil em ajustes feitos pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Outras empresas levantaram também suspeitas à investigação, nomeadamente as que são detidas ou estão de alguma forma ligadas a familiares diretos do presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso (como é o caso da sua mulher), o socialista Joaquim Couto. Recorde-se que ambos são também arguidos numa outra operação – a operação Teia, por suspeitas de crimes do mesmo género, desta vez envolvendo o IPO do Porto e o seu ex-presidente, Laranja Pontes.
A centralidade de Joaquim Couto na operação Éter Joaquim Couto é amigo de Melchior Moreira e basta uma breve consulta no portal Base.Gov para se perceber como a maioria dos serviços prestados por empresas (como Smartwin, My Press, Make It Happen, Mediana ou WGC) ligadas a familiares de Joaquim Couto são a entidades como o TPNP e Câmaras Municipais da região – coincidentemente as mesmas que também adjudicaram serviços às empresas de José Simões Agostinho.
Em julho de 2018, a Polícia Judiciária do Porto realizou buscas de Norte a Sul do país com o objetivo de recolher provas, além de ter visitado a sede das empresas de José Agostinho em Viseu, também fez diligências nas instalações da Media 360, no Algarve. Além das empresas e do Turismo do Porto e Norte de Portugal, foram feitas buscas no Sporting de Braga, no Vitória de Guimarães e na Câmara de Viseu – em causa estarão os subsídios concedidos pela entidade regional aos clubes. No total, foram feitas “16 buscas domiciliárias, 34 não domiciliárias”, esclareceu na altura o MP.
As alegadas contrapartidas do ex-presidente da TPNP A investigação suspeita que Melchior Moreira recebia contrapartidas pelo alegado tráfico de influências, tendo sido uma delas férias no Algarve sem pagar. O antigo deputado do PSD, que foi presidente do TPNP entre 2009 e foi reeleito no início de julho de 2018 para mais cinco anos (que não chegaram ao fim), disse ver como prioridade a diferenciação da região, adiantando que pretendia concluir o projeto da rede das lojas interativas de Turismo nos 86 municípios.
Recorde-se que em 2018 a Polícia Judiciária do Porto também fez diversas buscas nas instalações do Sporting de Braga e do Vitória de Guimarães por existirem suspeitas relativas a contratos de patrocínio feitos pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal com diversas entidades, entre as quais estes dois clubes da primeira divisão.
O Sporting de Braga reagiu na altura no seu site: “Como é público, o clube celebrou com a Turismo do Porto e Norte de Portugal um contrato de patrocínio com vista à promoção do País em Madrid, onde a equipa de futsal disputou, em novembro passado [2017], a Ronda de Elite da UEFA Futsal Cup.” E adiantou que “recebeu em troca desta associação, para presença da marca nas camisolas que o clube envergou na competição, o valor de 15 mil euros (IVA incluído)”.