Hoje tem 22 anos. Mas, aos 17, Malala Yousafzai já tinha um Prémio Nobel da Paz, tornando-se a pessoa mais jovem de sempre a ser laureada pela academia sueca. Feminista e muçulmana, tornou-se conhecida por lutar pelo direito de jovens mulheres à educação no Paquistão e quase morreu por isso. “Uma criança, um professor e uma caneta podem mudar o mundo”, profetizou num discurso nas Nações Unidas em 2013, quando tinha apenas 16 anos – altura em que também apareceu na revista Time, como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. A estudar filosofia, economia e política na Universidade de Oxford, Reino Unido, Malala dedica-se agora a divulgar histórias de jovens refugiadas.
Nasceu em 1997 em Mingora, a maior cidade do vale do Suat, Paquistão. A sua vida mudou quando Mingora foi ocupada pelos talibãs, em 2007. A partir daí, as raparigas deixaram de poder ir à escola e participar em atividades culturais tão básicas como dançar e ver televisão. Os atentados suicidas tornaram-se parte do dia-a-dia no vale do Suat e, em 2008, os extremistas já tinham destruído 400 escolas. Tudo isto levou a que a família Yousafzai deixasse a região, só tendo voltado quando a tensão abrandou.
Em setembro de 2008, então com 11 anos, o pai levou-a a um clube de imprensa local em Peshawar, onde fez o seu primeiro discurso. “Como é que os talibãs se atrevem a tirar o meu direito básico à educação?”, protestou então. As suas palavras correram o país e Malala começou a ser reconhecida pelo seu ativismo no Paquistão, não demorando muito tempo a destacar-se internacionalmente: em 2009 escrevia anonimamente para um blogue da BBC em língua urdu, em que dava o seu testemunho sobre a ocupação dos talibãs e o seu desejo de ir à escola. “Tenho medo”, escreveu uma vez, receando a guerra e falando sobre os pesadelos que tinha à noite.
Com a atenção mediática que recebia, internacional e localmente, não demorou muito a perceber-se que era Malala quem escrevia para o meio de comunicação social britânico. Continuou o seu ativismo – foi nomeada para prémios internacionais e laureada com o primeiro prémio Jovem Nacional do Paquistão, hoje Prémio Malala – e, três anos depois, foi atacada por um talibã. “Quem é a Malala?”, perguntou o homem ao entrar no autocarro que levava as estudantes para a escola. Acordou dez dias depois num hospital em Birmingham, Reino Unido, onde recebeu tratamento, e apercebeu-se de que o atirador lhe havia acertado no lado esquerdo da cabeça. Ficou-se pelo Reino Unido e o incidente alavancou-lhe a fama, tendo recebido imensos prémios internacionais pelo seu trabalho.
“O Feminismo não é complicado” “O feminismo é só outra palavra para igualdade”, prenunciou Malala em entrevista no Fórum Económico Mundial, no ano passado. “Quer dizer simplesmente que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens”, afirmou, enaltecendo que o feminismo “não é tão complicado” como algumas pessoas o fazem parecer.
É com este ímpeto que Malala se dedica agora a contar as histórias de jovens refugiadas. “As pessoas já conhecem a minha história”, realçou ao Guardian no início deste ano, justificando porque decidiu escrever o livro Nós Somos Refugiadas, publicado pela Editorial Presença. Nele escreve sobre a suas visitas aos campos de refugiados, tendo iniciado o projeto há mais de cinco anos, quando esteve na Síria e no Jordão.
No livro conta histórias de mulheres forçadas a abandonar os seus lares – do sudeste da Ásia até à América Latina – e reflete sobre a sua própria experiência como refugiada. Pelo seu relato ficamos a conhecer a história de Sabreen, 16 anos. Obrigada a fugir do Iémen e, depois, do Egito, conseguimos ter uma pequena noção da angústia que é atravessar o mar Mediterrâneo num barco de pesca sobrelotado. Ou da órfã da Guatemala, Analisa, presa num centro de detenção na fronteira dos Estados Unidos com o México.
“Não imaginamos viajar de carro de Birmingham a Londres sozinhas quando temos 14 ou 15 anos”, assinalou Malala. “Estas raparigas caminham dias e noites por conta própria. Algumas entram em autocarros com estranhos, passando por todas aquelas coisas da segurança, sem saber se estarão seguras ou não”, notou ao jornal britânico.