Como não podia deixar de ser, também no desporto, outra vertente que desempenha um papel bastante significativo no desenvolvimento da sociedade, se podem encontrar cada vez mais exemplos de adolescentes a explodir nos respetivos campos. Não é nada de novo, é um facto: em toda a história, são inúmeros os exemplos de talentos que despontaram de forma precoce em várias modalidades; ainda assim, parece claro que há agora uma maior e mais continuada aposta por parte dos clubes e das respetivas federações no seu lançamento, desenvolvimento e acompanhamento.
Há precisamente um mês, 99% dos adeptos do futebol mundial nunca tinham ouvido falar de Anssumane Fati – Ansu, para facilitar. Até uma bela tarde de quarta-feira, quando Ernesto Valverde, treinador do Barcelona, se viu privado dos craques Messi, Suárez e Dembélé e resolveu chamar ao treino da equipa principal o menino guineense, até aí integrado na equipa de juniores. Ansu deu nas vistas, de tal modo que acabou por ser convocado para o jogo contra o Bétis, onde viria mesmo a entrar em campo, aos 78 minutos, tornando-se o segundo futebolista mais jovem de sempre a estrear-se na equipa principal do Barça – e o primeiro desde 1941.
Desde então, Ansu Fati somou mais cinco jogos, tendo apontado dois golos, ele que precisou de pedir… autorização aos pais para poder disputar partidas que decorram durante a noite – uma norma impossível de contornar na liga espanhola quando se trata de futebolistas menores de 18 anos. Já tratou do processo de naturalização por Espanha, cuja seleção sempre disse querer representar, e renovou este verão com os blaugrana até 2022, com uma cláusula de rescisão de 100 milhões de euros.
Números que ainda há bem pouco tempo poderiam ser vistos quase como pornográficos, tendo em conta a idade dos intervenientes, mas que hoje já são encarados de ânimo leve: é a lei do mercado, dizem os entendidos. Assim de repente, vem logo à baila o negócio de João Félix, um menino de 19 anos que, após uma época a brilhar no Benfica, se tornou a quarta maior transferência da história do futebol, com o Atlético de Madrid a desembolsar 126 milhões de euros para garantir o seu concurso.
Mas há outros casos impressionantes. O de Youssoufa Moukoko, por exemplo. Aos 14 anos, é o jovem mais falado do futebol alemão – pelo que joga, mas também pelas dúvidas acerca da idade, especialmente pelo facto de ter nascido nos Camarões. Aos 12 anos, já era internacional sub-16 pela Alemanha e espantava nos sub-17 do Borússia de Dortmund, guiando a equipa ao título com 46 golos em 25 jogos. Já esta época, na estreia pelos juniores (sub-19), fez… seis golos, somando agora 13 tentos em seis partidas. De acordo com a imprensa alemã, o jovem Moukoko já terá mesmo assinado um contrato de patrocínio com a marca desportiva Nike a troco de qualquer coisa como dez milhões de euros: um milhão imediato e nove milhões no futuro, mediante evolução positiva da sua carreira.
Este início de temporada, de resto, está a ficar marcado pelo surgimento (ou afirmação) de jogadores nascidos em 2002 nas primeiras equipas de clubes dos maiores campeonatos europeus. Eduardo Camavinga é outro exemplo: nascido em Angola há 16 anos, é o mais jovem jogador de sempre a atuar pela equipa principal do Rennes, mas também o mais jovem da história da Ligue 1 a fazer uma assistência para golo (no triunfo por 2-1 sobre o todo-poderoso PSG) e o mais novo de sempre a conquistar a distinção de jogador do mês do principal campeonato francês.
Em Inglaterra, ainda há poucos dias o Manchester United se viu obrigado a realizar um desempate por grandes penalidades para eliminar o Rochdale, depois do 1-1 no tempo regulamentar – com o golo da equipa do terceiro escalão a ser apontado por Luke Matheson, um menino de 16 anos… que no dia seguinte teve de ir compensar as aulas a que havia faltado para fazer história em Old Trafford.
E nem Portugal foge à tendência. Na primeira jornada do campeonato, em pleno Estádio da Luz, Filipe Rocha promoveu a estreia de Matchoi Djaló na equipa principal do Paços de Ferreira, lançando-o para os últimos 20 minutos. Matchoi, filho de Bobó, mítico médio guineense que se notabilizou por FC Porto, Estrela da Amadora e Boavista nas décadas de 80 e 90, tornou-se assim, aos 16 anos e quatro meses, o futebolista mais jovem de sempre na Liga portuguesa, batendo um recorde que pertencia a Bruno Gama desde 2004.
dos courts às consolas O futebol é a modalidade que atrai maior mediatismo, mas esta é uma realidade que se vai verificando em vários outros desportos. No ténis, por exemplo, onde, no último mês de julho, as atenções no Open de Wimbledon se viraram, de repente, para uma menina de 15 anos: Cori “Coco” Gauff, a mais jovem de sempre a chegar ao quadro principal via qualifyings e que na primeira ronda escandalizou o mundo ao bater a veterana Venus Williams. Viria a superar mais duas adversárias bem mais cotadas (em jogos já realizados no court central, depois de toda a atenção mediática que se instalou sobre si), caindo apenas na quarta ronda.
Logo no início do ano, Alysa Liu entrou para a história da patinagem artística norte-americana, vencendo o campeonato nacional com apenas 13 anos – um a menos que a anterior recordista, Tara Lipinski –, na sua primeira participação na competição sénior. Alysa Liu tem agora de esperar quase dois anos para poder participar em competições internacionais, o que só é permitido a partir dos 15.
E, depois, pode falar-se ainda do gaming, que vai atraindo mais jovens por todo o mundo dia após dia… e percebe-se porquê: além da adrenalina inerente aos videojogos, os prémios para os campeões dos torneios estão cada vez mais chorudos. Ainda em agosto, o australiano Anathan Pham, de 19 anos, recebeu cerca de 2,9 milhões de euros após vencer o The International, um torneio internacional do jogo de vídeo Dota 2 que se realiza anualmente em Xangai. Pham, de resto, revalidou o título que já havia conquistado em 2018, somando já um total de 5,5 milhões de euros ganhos na sua curta carreira.