Não votar é “entregar a outros uma decisão que é nossa” e “é perder autoridade para lamentar, para contestar, para recusar, o que, ao fim e ao cabo, seja resultado da apatia, do desinteresse ou do comodismo, dos que optem por não optar”. As palavras são de Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem endereçada aos portugueses antes das eleições. O apelo não teve o efeito desejado – apatia, comodismo ou protesto, 45,5% dos eleitores resolveram não exercer o seu direito de voto.
Nestas que foram as 16.ª eleições da democracia portuguesa, estavam inscritos 10. 810. 662 eleitores – o número mais elevado de sempre, devido ao recenseamento automático que, em 2018, inscreveu nos cadernos eleitorais todos os portugueses que residem no estrangeiro e que tenham o cartão de cidadão. Deste total, e segundo a Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), 9. 346. 148 poderiam votar presencialmente e 1. 464. 514 por via postal.
Com 63,5% de eleitores a escolherem não ir às urnas, os Açores foram o círculo eleitoral em que se registou a mais elevada taxa de abstenção. Várias freguesias açorianas chegaram – ou ultrapassaram – uma taxa de abstenção superior a 70%, como foi o caso das freguesias de Feteiras (concelho de Ponta Delgada), em que abstenção chegou aos 76,6%, ou Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, com 75,3%. A freguesia de Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, teve a mais alta taxa de abstenção: 78,7%. Na Madeira, a abstenção foi de 49,7%, mas algumas localidades registaram uma média bem superior – como foi o caso da freguesia de Paul do Mar (69,5%).
No continente, Bragança foi, com 55,1%, o círculo eleitoral com maior taxa de abstencionistas, seguindo-se Faro e Vila Real (ambos com 54,2%), Viana do Castelo e Guarda (também a partilhar a mesma percentagem: 49,4%). Dentro de cada um destes círculos há uma grande variação entre as freguesias. Em Alfândega da Fé (Bragança), a taxa de abstenção foi pouco superior à nacional (46,2%), mas na freguesia de Carção, (Vimioso) o valor disparou para os 72,3%.
Viseu foi outro dos distritos com enormes variações: na freguesia de Queiriga (concelho de Vila Nova de Paiva), os números chegaram aos 73,4%, enquanto na freguesia de Fonte Arcada e Escurquela (concelho de Sernancelhe) a taxa de abstenção ficou-se pelos 31,9%, bem abaixo da média nacional. Em Faro, um facto curioso: as freguesias do interior algarvio tiveram uma taxa de participação mais elevada do que as zonas costeiras, com Quarteira (com 62,8%), entre outros exemplos, a primar pela abstenção.
Há mais casos peculiares. Nas legislativas de 2015, por exemplo, Soajo (concelho de Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo) tinha sido a freguesia com a abstenção mais alta: 78%. Quatro anos volvidos, o cenário melhorou ligeiramente, mas os números continuam muito altos: no domingo, a abstenção foi de 74,6%. A junta de freguesia até ofereceu transporte à população, mas a medida surtiu pouco efeito numa freguesia envelhecida onde, garantiu o autarca à SIC, “metade dos votantes não reside na zona.”
Há, contudo, exceções nesta hecatombe. O distrito de Braga ficou abaixo da média do país com uma taxa de abstenção de 40,2% – em Barcelos, por exemplo, foi de 36.9%. E a freguesia da Fundada, em Vila de Rei (distrito de Castelo Branco) parece ir em sentido inverso ao país: aqui, a taxa de abstenção ficou-se pelos 26,6%. Mais a norte, outro exemplo de melhor afluência às urnas: a União das Freguesias de Airão Santa Maria, Airão São João e Vermil, Guimarães (Braga) teve uma taxa de abstenção de 30%.
Consulte aqui o mapa de abstenção por distrito.