Ora, eu vi esse jogo. João Félix fez uma exibição banal, com a exceção dos lances de que nasceram os dois golos: no primeiro rematou bem, o guarda-redes defendeu para a frente, e Félix fez a recarga em queda, mostrando bons reflexos. E no segundo transportou a bola durante longos metros, passando finalmente a bola ao jogador que centrou para o golo.
Foram dois lances vistosos. Mas que não justificam todas as loas dos jornais de Madrid.
A ‘saga’ dos elogios a João Félix já tinha começado antes do jogo, com o treinador russo a dizer que ele poderá ser tão bom ou até melhor do que Ronaldo.
Mas porquê toda esta necessidade de falar de João Félix? Simplesmente porque ele custou 126 milhões de euros. E ainda porque as suas exibições não têm justificado esse fabuloso preço. A verdade é que Félix não tem deslumbrado no campeonato espanhol – tem sido substituído muitas vezes e ainda ontem voltou a não dar nas vistas no jogo contra o Valladolid. E o Atlético registou um frustrante empate, com o avançado a ficar a zeros.
Os 126 milhões são uma carga que pesa como chumbo sobre a cabeça da direção do Atlético de Madrid, que aceitou pagar esta quantia inimaginável por um jogador de 19 anos, e sobre os ombros do próprio jogador, tendendo a aumentar-lhe a ansiedade e a responsabilidade.
Toda esta angústia que se sente em Madrid à volta de João Félix – e que os jornais afetos ao clube ampliam, aproveitando todas as oportunidades para pôr Félix artificialmente nas nuvens – mostra que estas transferências milionárias são um enorme disparate.
Pagar 126 milhões por um jogador sem créditos firmados, é uma jogada arriscadíssima. Cada vez que Félix falha um golo, os dirigentes afligem-se: será que não cometemos em enorme erro? E os adeptos interrogam-se: foi por este jogador que o clube pagou 126 milhões? E ele próprio aflige-se mais do que se afligiria se a sua transferência tivesse sido feita por um preço ‘normal’.
Clubes e sobretudo empresários têm de refletir muito bem sobre esta questão. Têm de pensar se, com a ganância de fazerem transferências por números exagerados, para ganharem percentagens fabulosas, não podem estar a matar prematuramente jogadores muito promissores.
A responsabilidade que neste momento assenta sobre os ombros de João Félix é tremenda. Grande demais para um jovem de 20 anos. Será que ele vai aguentar a pressão?