Fernão de Magalhães e a união do Oceano


As comemorações da viagem de circum-navegação são uma oportunidade para relançar objetivos e reorientar novas ações da política pública do mar.


Fernão de Magalhães foi o navegador português que se atreveu a desafiar o poder instituído em Portugal para tentar provar uma teoria fundamentada no saber adquirido, uma visão que poderia confirmar a globalidade do mundo, pois, para ele, o oceano era um só, indivisível, podendo ser percorrido numa só escala, e capaz de promover uma maior aproximação e relacionamento entre os povos.

Era, portanto, seu propósito empreender uma jornada global que fosse capaz de provar a sua teoria, encetar uma nova era estratégica, com uma abordagem mais inovadora, capacitar a esfera do mundo com novos conhecimentos de astronomia, oceanográficos, da fauna e da flora, dos contornos dos continentes e dos povos e suas culturas.

Mas, não tendo o reino de Portugal aberto as portas para a sua ousada aventura, essencialmente porque estava acomodado ao seu saber e não pretendia que novos conhecimentos pudessem perigar a sua supremacia – erro estratégico pois, como todos sabemos, deixar de inovar, investigar, empreender retira-nos a capacidade de ganhar a dianteira e de nos preparamos melhor para o futuro –, aproximou-se do reino de Espanha, o qual querendo conquistar a dianteira aceitou apoiá-lo na sua jornada épica, ainda que com reservas. Pelo que, no dia 20 de setembro de 1519, partiu com uma frota de cinco navios dando início ao que veio a ser conhecido como a viagem de circum-navegação Fernão Magalhães, provando ao mundo a existência de um oceano indivisível, concluindo que o planeta só podia ser esférico.

Passados cinco séculos, os dois países, Portugal e Espanha, tão diferentes e tão próximos, estabeleceram condições para comemorarem conjuntamente o 500.º aniversário desta ousada e disruptiva viagem de circum-navegação, tendo sido determinado entre outras ações candidatar a Rota da Circum-Navegação a Património Mundial da Humanidade, realizar viagens de circum-navegação com os Navios-Escola Sagres e Juan Sebastián Elcano, coproduzir uma série televisiva sobre a Viagem, e realizar um estudo sobre a “Projeção mundial do espanhol e do português”.

Em Portugal, os Ministérios do Mar e dos Negócios Estrangeiros, através da Estrutura de Missão das Comemorações Magalhânicas, coordenam as comemorações, envolvendo as regiões autónomas, autarquias, ONGs, universidades, institutos públicos e privados, empresas, sociedade em geral, e desenvolvendo um vasto programa, o qual pode e deve ser uma excelente jornada para promover o “Mar português”.

Os objetivos do programa encontram-se centrados, tal como afirmou o presidente da estrutura de missão, “em três eixos: o do Conhecimento, da Economia e o da Cooperação, que no fundo são os três eixos em que se alicerçou a viagem do português Fernão de Magalhães”.

Este programa certamente contribuirá para que a mensagem e visão de Fernão de Magalhães continue a passar de geração em geração tal como a projetou e idealizou, um mundo mais unido, capaz de gerar relações fortes, assente no respeito pela diferença, confiante que o saber, conhecimento e a inovação geram oportunidades e desenvolvimento para cimentarmos um mundo melhor.

Ora, também são ações como estas, de política pública, um excelente momento para tornar o “Mar português” mais audaz, inovador, empreendedor, que faça a diferença, trace novos rumos, aproveite novas oportunidades e reformule outras mais antigas, de forma a assegurar um desenvolvimento sustentável e contínuo no plano económico, do conhecimento e social, pelo que esperamos que as comemorações que se encontram a decorrer sejam um sucesso.

 

Gestor e analista de políticas públicas

Escreve quinzenalmente à sexta-feira