PS na Madeira: ir buscar lã e sair tosquiado


O Bloco de Esquerda também foi fulminado na Madeira e teve menos votos do que os brancos e nulos. No continente Rio recupera. Mas no geral os políticos evitam de falar dos elefantes que há na sala como a situação dos mais velhos.


1. O PS da Madeira conheceu um progresso assinalável em termos eleitorais, beneficiando do voto útil da esquerda, o que lhe triplicou os sufrágios. A subida dos socialistas era esperada, mas constituiu-se na mesma como uma derrota porquanto o PS queria obter a maioria absoluta, que a população da Madeira lhe recusou. Para ganhar, o PS utilizou toda a sua força e argumentos, chegando ao ponto de apresentar um líder, Paulo Cafofo, que nem sequer é filiado no partido, sendo um independente que tem por única doutrina política ser anti social-democrata, anti Jardim e anti Albuquerque. O PSD-Madeira recuou na votação, tal como o CDS do arquipélago. No entanto, garantiram um resultado que lhes pode permitir governar e regenerar a política regional. O PSD perdeu uma maioria absoluta que manteve 43 anos contra tudo e contra todos, pelo que não pode assumir nenhum tipo de triunfalismo. O CDS perdeu ainda mais. Ambos só têm a ganhar se souberem entender-se. As regionais ditaram também humilhante derrota do Bloco de Esquerda. O BE só obteve 1,7% dos votos. Para se perceber o número, basta dizer que a soma dos votos brancos e nulos se situaram em 2,3%, ou seja substancialmente mais do que os apaniguados de Catarina Martins que foi fulminada, coisa que também sucedeu ao PAN e à Aliança, que ficou a atrás do partido do RIR de Tino de Rans. 

2. Rumo às legislativas sucedem-se debates, entrevistas e sondagens que revelam um suposto encurtar de distâncias entre o PS e o PSD, mostrando que a realidade portuguesa mantém a lógica de que o primeiro-ministro só pode vir de um destes partidos. Costa tem mostrado dificuldades pontuais e Rio mostra-se aguerrido e convincente na atitude combativa e na forma clara como fala. Os outros líderes estão nos seus registos habituais com Cristas numa oposição aguerrida agressiva, Catarina Martins a fazer de conta que manda alguma coisa, Jerónimo de Sousa a distanciar-se definitivamente da geringonça e o PAN a passar de animalista para ambientalista. Lamentavelmente nos debates e outras prestações ninguém fala da situação objetiva dos mais velhos quantas vezes atirados para situações hospitalares e lares degradantes ou sempre a verem a suas pensões cortadas com penalizações que chegam a passar dos 20% mesmo quando têm largamente mais de 40 anos de trabalho e 60 de idade. É um elefante na sala que ninguém vê. Outro paquiderme de que não se fala chama-se Montepio e que esta semana apresentou contas aterradoras. Tudo isto no meio de um cenário internacional que também não é falado. Esperemos que não se repita agora o que se passou com Sócrates quando Manuela Ferreira Leite o enfrentou optando pelo discurso da verdade e antecipando o desastre que aí vinha.

3. É preciso melhorar a credibilidade da classe política. Por isso mesmo é importante, em vésperas de nomeação de um novo governo, retomar a ideia de cada membro do governo ser sujeito a um crivo parlamentar. Como sucede noutros países, a ideia é, na fase da indigitação, os propostos membros de governos serem chamados e interrogados perante uma comissão onde explicariam, previamente, as suas vidas, as suas ligações, o seu trajeto e o seu património. Deste modo evitavam-se muitos incómodos resultantes de incompatibilidades que só se detetaram já depois das pessoas estarem em funções, como sucedeu, por exemplo, com o ministro Siza Vieira que atualmente detém a pasta da Economia. Uma vez que entre nós não é obrigatório ser deputado para ascender à governação e haver por esse lado um escrutínio popular prévio mesmo que informal, a chamada dos putativos governantes a uma comissão seria uma prova de fogo que cada um deveria superar do ponto de vista da probidade pessoal. 

4. O caso golasgate é um escândalo político grande e grave. Os desenvolvimentos eram previsíveis, quanto ao secretário de Estado e o presidente da Proteção Civil, Artur Neves e Mourato Nunes. Evidentemente que ninguém pode condená-los só pelo facto de serem arguidos. Mas havia o aspeto político, pelo menos no caso de Artur Neves. O governante tinha responsabilidades políticas e deveria ter-se demitido quando o escândalo rebentou. Esse procedimento também não ficava mal agora a Eduardo Cabrita que tenta passar de fininho no meio desta situação que também o envolve, até pela forma como reagiu brutalmente contra a notícia e os jornalistas na altura em que os factos foram revelados. Os socialistas de hoje são diferentes dos de ontem. Basta lembrar a atitude de Jorge Coelho, que se demitiu de ministro na sequência do colapso da ponte de Entre-os-Rios. 

5. Fala-se de Hong-Kong a toda a hora. Havia quem pensasse que um país dois sistemas queria dizer comunismo e democracia em simultâneo. Santa ingenuidade! As dissimuladas palavras de Deng Xiaoping, o pai do conceito, tinham outro sentido: comunismo e capitalismo, em convivência, como por lá sucede hoje em dia. Só isso! Para a China, o conceito de democracia era e é impensável. Hong-Kong é, para Pequim, um foco de infeção que deve ser tratado com mão firme e rápida ou, alternativamente, através da emigração sistemática de gente que altere a relação de forças, tornando os democratas residuais. Veremos qual será a opção.

Escreve à quarta-feira

PS na Madeira: ir buscar lã e sair tosquiado


O Bloco de Esquerda também foi fulminado na Madeira e teve menos votos do que os brancos e nulos. No continente Rio recupera. Mas no geral os políticos evitam de falar dos elefantes que há na sala como a situação dos mais velhos.


1. O PS da Madeira conheceu um progresso assinalável em termos eleitorais, beneficiando do voto útil da esquerda, o que lhe triplicou os sufrágios. A subida dos socialistas era esperada, mas constituiu-se na mesma como uma derrota porquanto o PS queria obter a maioria absoluta, que a população da Madeira lhe recusou. Para ganhar, o PS utilizou toda a sua força e argumentos, chegando ao ponto de apresentar um líder, Paulo Cafofo, que nem sequer é filiado no partido, sendo um independente que tem por única doutrina política ser anti social-democrata, anti Jardim e anti Albuquerque. O PSD-Madeira recuou na votação, tal como o CDS do arquipélago. No entanto, garantiram um resultado que lhes pode permitir governar e regenerar a política regional. O PSD perdeu uma maioria absoluta que manteve 43 anos contra tudo e contra todos, pelo que não pode assumir nenhum tipo de triunfalismo. O CDS perdeu ainda mais. Ambos só têm a ganhar se souberem entender-se. As regionais ditaram também humilhante derrota do Bloco de Esquerda. O BE só obteve 1,7% dos votos. Para se perceber o número, basta dizer que a soma dos votos brancos e nulos se situaram em 2,3%, ou seja substancialmente mais do que os apaniguados de Catarina Martins que foi fulminada, coisa que também sucedeu ao PAN e à Aliança, que ficou a atrás do partido do RIR de Tino de Rans. 

2. Rumo às legislativas sucedem-se debates, entrevistas e sondagens que revelam um suposto encurtar de distâncias entre o PS e o PSD, mostrando que a realidade portuguesa mantém a lógica de que o primeiro-ministro só pode vir de um destes partidos. Costa tem mostrado dificuldades pontuais e Rio mostra-se aguerrido e convincente na atitude combativa e na forma clara como fala. Os outros líderes estão nos seus registos habituais com Cristas numa oposição aguerrida agressiva, Catarina Martins a fazer de conta que manda alguma coisa, Jerónimo de Sousa a distanciar-se definitivamente da geringonça e o PAN a passar de animalista para ambientalista. Lamentavelmente nos debates e outras prestações ninguém fala da situação objetiva dos mais velhos quantas vezes atirados para situações hospitalares e lares degradantes ou sempre a verem a suas pensões cortadas com penalizações que chegam a passar dos 20% mesmo quando têm largamente mais de 40 anos de trabalho e 60 de idade. É um elefante na sala que ninguém vê. Outro paquiderme de que não se fala chama-se Montepio e que esta semana apresentou contas aterradoras. Tudo isto no meio de um cenário internacional que também não é falado. Esperemos que não se repita agora o que se passou com Sócrates quando Manuela Ferreira Leite o enfrentou optando pelo discurso da verdade e antecipando o desastre que aí vinha.

3. É preciso melhorar a credibilidade da classe política. Por isso mesmo é importante, em vésperas de nomeação de um novo governo, retomar a ideia de cada membro do governo ser sujeito a um crivo parlamentar. Como sucede noutros países, a ideia é, na fase da indigitação, os propostos membros de governos serem chamados e interrogados perante uma comissão onde explicariam, previamente, as suas vidas, as suas ligações, o seu trajeto e o seu património. Deste modo evitavam-se muitos incómodos resultantes de incompatibilidades que só se detetaram já depois das pessoas estarem em funções, como sucedeu, por exemplo, com o ministro Siza Vieira que atualmente detém a pasta da Economia. Uma vez que entre nós não é obrigatório ser deputado para ascender à governação e haver por esse lado um escrutínio popular prévio mesmo que informal, a chamada dos putativos governantes a uma comissão seria uma prova de fogo que cada um deveria superar do ponto de vista da probidade pessoal. 

4. O caso golasgate é um escândalo político grande e grave. Os desenvolvimentos eram previsíveis, quanto ao secretário de Estado e o presidente da Proteção Civil, Artur Neves e Mourato Nunes. Evidentemente que ninguém pode condená-los só pelo facto de serem arguidos. Mas havia o aspeto político, pelo menos no caso de Artur Neves. O governante tinha responsabilidades políticas e deveria ter-se demitido quando o escândalo rebentou. Esse procedimento também não ficava mal agora a Eduardo Cabrita que tenta passar de fininho no meio desta situação que também o envolve, até pela forma como reagiu brutalmente contra a notícia e os jornalistas na altura em que os factos foram revelados. Os socialistas de hoje são diferentes dos de ontem. Basta lembrar a atitude de Jorge Coelho, que se demitiu de ministro na sequência do colapso da ponte de Entre-os-Rios. 

5. Fala-se de Hong-Kong a toda a hora. Havia quem pensasse que um país dois sistemas queria dizer comunismo e democracia em simultâneo. Santa ingenuidade! As dissimuladas palavras de Deng Xiaoping, o pai do conceito, tinham outro sentido: comunismo e capitalismo, em convivência, como por lá sucede hoje em dia. Só isso! Para a China, o conceito de democracia era e é impensável. Hong-Kong é, para Pequim, um foco de infeção que deve ser tratado com mão firme e rápida ou, alternativamente, através da emigração sistemática de gente que altere a relação de forças, tornando os democratas residuais. Veremos qual será a opção.

Escreve à quarta-feira