O mundo de Alex


Laranjeira, o seu nome é Alex Laranjeira. Dou por mim a assistir ao GP de Aragão na box número 15 do Autódromo do Estoril, é dia de corridas por ali. Assisto à corrida do Falcão, estou calmo e Miguel segue seguro, batalhando forte com gente graúda montada em máquinas mais batidas naquelas guerras. Olho para…


Laranjeira, o seu nome é Alex Laranjeira.

Dou por mim a assistir ao GP de Aragão na box número 15 do Autódromo do Estoril, é dia de corridas por ali.

Assisto à corrida do Falcão, estou calmo e Miguel segue seguro, batalhando forte com gente graúda montada em máquinas mais batidas naquelas guerras.

Olho para o lado, a dois metros de mim ali está ele.

Em 1981, numa adolescência de liberdades meio destravadas, tanta vez apreciei ao de longe Randy Mamola, nome de gabarito.

Alex andava a começar o seu mundo de corridas.

1988, Eddie Lawson era para mim o Giacomo Agostini daqueles dias, tudo lá muito longe, seguia-os em posters na parede, corriam como foguetões, era o que sabia.

Nesse ano, na minha fraquíssima bagagem de cultura motociclística entrou em meu léxico o primeiro foguetão português, Laranjeira, aquele mesmo que agora me recebia por ali.

Um senhor campeão.

Saltito depois de box em box, de sonho em sonho, paro na 21, tem de ser, estão lá o João Curva que tanto me impressionou em vitória anterior, o Ricardo Almeida que leva a voar o Topo Gigio em sua Suzuki e a quem oferecerá título nacional nas horas seguintes.

E o José Luis Teixeira, um campeão no saber estar, faço-lhe companhia enquanto almoça a despachar antes da prova que irá correr, conta-me da véspera, vicissitudes, um toquezinho no acelerador em mota com mapa de afinações alterado, diz-me como se eu percebesse da poda, foi ao chão, mas para se levantar e ir lá no arreganho, para ir buscar a glória de uma corrida ímpar de beleza e emoção. Assenti, queria escutar mais e eis senão quando o vejo saltar, ai as mantas, clama, meus queridos pneus que estarão com frio daqui a nada, eu sem entender, ele esquecendo a sobremesa e dando mimos à borracha que se queria ao ponto.

Começou a corrida com ele na frente, depois o Curva e o Vieira, dois passarões, correndo como loucos, Teixeira obrigado depois a passar na linha das boxes, falsa partida, um tiquinho de nada que custou um balúrdio de segundos, e lá foi ele, regressou no arreganho, para ir buscar a glória de uma corrida ímpar de beleza e emoção e onde é que eu já li isto?.. Curva ganharia a tudo e todos, a Vieira por menos de três centésimas, na ZCup Amaral era rei, Paulo Vicente vice, tudo naquela pista era adrenalina, paixão e mãozinhas.

Na batalha seguinte, Kiko Maria seguindo leve e passeando em busca do título de campeão nacional, mais atrás, noutras guerras, Esturrado, Fragoso e Alonso esganiçando punho a fundo, um, dois três, ora eu, ora tu mais ele, Esturrado erra e isso é ali proibido, segue Alonso buscando a vitória, mas Bala não o larga, no fim três centésimas fariam a diferença entre o por-do-sol e um dia cinzento, Pedro Fragoso ganharia.

Eis agora as grandes, as mais rápidas, tudo seria a dois, os titãs Ivo Lopes e Pedro Nuno, aquilo era a doer, só haveria lugar para a glória de um, taco a taco, curva a curva até à bandeirada final e deste último seria o lugar mais alto do pódio.

Fim da tarde com os mais pequenitos, uma curiosidade, que faria aquele menino Martim Marco que me havia merecido crónica no passado, correndo em tão grande estrada pela primeira vez?

Pois foi por ali fora, fugiu rumo à vitória, e fugir-lhe-ia a vitória a ele com problema na mota tão perto do xadrez, deixando no entanto rasto de campeão.

Acabado o dia, saboreada mais uma boa corrida do nosso Falcão, fico a saber que Alex Laranjeira terminara o dia com radiografia no hospital, uma queda interrompera-lhe a glória do regresso.

Este meu dia por ali, meus senhores, foi afinal dele, o meu primeiro motociclista português na Lua.

Obrigado Campeão, regressa depressa que nos encheste de esperança!