Golpe de teatro em Milão: o galardoado com o prémio de Melhor Futebolista do Mundo em 2018/19 para a FIFA, o chamado The Best, é Lionel Messi. E falamos de um golpe de teatro não pela óbvia e imensa qualidade do astro argentino, mas sim por outro detalhe: o favorito para a conquista do troféu era Van Dijk, central holandês do Liverpool, seguido de muito perto por Cristiano Ronaldo – nas apostas, La Pulga aparecia a fechar o pódio.
Havia um motivo para tais previsões. Nas anteriores três edições de The Best (prémio criado em 2016, aquando de nova cisão entre a FIFA e a Bola de Ouro atribuída pela France Football), o troféu foi sempre entregue ao mesmo jogador que semanas antes havia ganho o prémio equivalente atribuído pela UEFA. Foi assim em 2016 e 2017, sempre com Cristiano Ronaldo como vencedor, mas também no ano passado, em que Luka Modric arrecadou as duas distinções – às quais somaria, meses depois, a Bola de Ouro. A lógica ditava, portanto, que seria Van Dijk a conquistar a distinção da FIFA, pois foi ele o premiado pelo organismo que rege o futebol europeu ainda no passado mês de agosto, depois daquela que foi, aos 28 anos, a melhor temporada da sua carreira: 50 jogos, seis golos e uma Liga dos Campeões conquistada ao serviço do Liverpool.
Ainda falta a bola de ouro Desta feita, porém, a lógica não quis mesmo nada com isto. Lionel Messi, que em 2018/19 ganhou “apenas” o campeonato (do qual foi o melhor marcador destacado, com 36 golos) e a Supertaça, pelo Barcelona, acabou por superar a concorrência de Van Dijk e também de Cristiano Ronaldo, de quem foge agora na contabilização total: são já seis distinções de Melhor do Mundo pela FIFA para Messi, contra as cinco de CR7, vencedor do campeonato e da Supertaça em Itália no primeiro ano ao serviço da Juventus – além da Liga das Nações pela seleção nacional.
“Quero agradecer a todos os que votaram em mim. Penso que estes reconhecimentos são lindos, embora os prémios individuais sejam secundários. Hoje é um dia especial para mim. Tenho a sorte de estar sentado ao lado da minha mulher e de dois dos meus três filhos. É a primeira vez que cá estão. Desfrutar do troféu com eles não tem preço”, disse o internacional argentino, logo após receber o troféu das mãos de Gianni Infantino, presidente da FIFA.
Fica agora a faltar conhecer apenas o vencedor da Bola de Ouro, cujos finalistas serão conhecidos apenas no próximo dia 2 de outubro – tudo indica que sejam novamente Cristiano Ronaldo, Messi e Van Dijk… mas se a cerimónia de ontem à noite no Teatro Scala deixou perceber alguma coisa foi a de que as certezas antecipadas, por vezes, acabam por sair completamente furadas.
Deste prémio fica ainda assim uma certeza: o tão antecipado fim do reinado Messi/Ronaldo, que parecia iminente após a conquista de Modric no ano passado e agora com a vaticinada vitória de Van Dijk, está afinal ainda bem longe. O português e o argentino dominaram quase por completo as atenções nos últimos 15 anos e a prova de que continua a ser preciso colocá-los em qualquer exercício deste género é precisamente este painel final: voltaram a estar nos três finalistas… e um deles conquistou novamente o galardão.
Refira-se ainda que a atribuição deste prémio é feita da seguinte forma: 25% dos votos pertencem aos capitães das seleções de todo o mundo; outros 25% cabem aos respetivos selecionadores; igual percentagem destina-se a jornalistas de todo o globo designados pela FIFA; e mais 25% referem-se aos votos dos utilizadores do site do organismo que rege o futebol mundial. A Bola de Ouro, por exemplo, segue critérios bastante diferentes: além de distinguir o melhor jogador de cada ano civil (e não o de cada época desportiva, como a FIFA), é ainda baseado apenas na votação de membros da Federação Internacional de Jornalistas.
Liverpool em grande Nas restantes distinções, não se pode falar de grandes surpresas. Jurgen Klopp venceu o prémio de Melhor Treinador da época, depois de ter levado o Liverpool à conquista da Liga dos Campeões e da luta titânica protagonizada com o Manchester City na corrida ao título inglês – o técnico alemão acabou por superar precisamente a concorrência de Pep Guardiola, treinador dos citizens, e também de Mauricio Pochettino, timoneiro do Tottenham, que saiu derrotado na final da Champions pelos reds. Fernando Santos, recorde-se, esteve na lista inicial de dez nomeados, mas acabou por ficar de fora das escolhas finais.
Também a distinção de Melhor Guarda-redes do Ano voou para Liverpool, mais propriamente para as mãos de Alisson, o internacional brasileiro que, além da Champions, foi ainda titular na campanha vitoriosa do Brasil na Copa América. Na eleição da FIFA, Alisson superou a concorrência do compatriota Ederson (Manchester City) e do alemão Ter Stegen (Barcelona).
Já no que respeita ao Prémio Puskás, pode realmente falar-se de uma surpresa. Messi estava entre os nomeados, tal como o antigo jogador do FC Porto Juan Quintero, mas o prémio foi para o outro finalista: Daniel Zsóri, um médio húngaro de 18 anos que estava nomeado pelo… único golo que marcou até agora no escalão sénior, ao serviço do Debrecen.
No Onze do Ano, destaque para a 13.ª presença consecutiva de Cristiano Ronaldo e Messi, faz parte da equipa ideal do ano pela 13.ª vez consecutiva. Além dos dois astros, fazem parte da equipa ideal de 2018/19 Alisson, Marcelo, Sergio Ramos, De Ligt, Van Dijk, Modric, Frenkie de Jong, Mbappé e Hazard.
Por último, os eleitos no futebol feminino. Também aqui não houve nenhuma decisão estranha: a premiada foi Megan Rapinoe, capitã da seleção norte-americana que se sagrou bicampeã mundial e que competia com a compatriota Alex Morgan e a luso-inglesa Lucy Bronze, eleita Jogadora do Ano pela UEFA. A Melhor Treinadora foi Jill Ellis, precisamente a selecionadora dessa equipa.
Realce ainda para o prémio de Melhor Adepto, entregue à brasileira Silvia Greco, cuja história de como narra os jogos do Palmeiras para o filho Nickollas, deficiente visual, apaixonou o mundo.