Mistério dos enjoos nos novos aviões continua. TAP garante que queixas baixaram para ‘quase zero’

Mistério dos enjoos nos novos aviões continua. TAP garante que queixas baixaram para ‘quase zero’


Em Inglaterra, o Unite acusa as companhias aéreas de taparem com ‘manto de silêncio’ as ocorrências durante os voos. Em Portugal, a TAP garante que as queixas de enjoos ‘baixaram drasticamente, para quase zero’.


A presença de gases tóxicos nas cabines de aviões já levou dezenas de tripulantes a avançarem com processos judiciais em Inglaterra. O sindicato britânico Unite The Union acusa as companhias aéreas de se esconderem num «manto de silêncio». Por cá, o número de reportes diminuiu, mas o sindicato português garante que ainda são apresentadas algumas queixas.

«O Unite está neste momento a dar apoio a 51 ações judiciais contra cinco companhias aéreas britânicas, que avançaram depois de os estudos feitos revelarem que o ar existente na maioria das cabines dos voos comerciais poder causar danos neurológicos irreversíveis e doenças crónicas em indivíduos com maior predisposição» para estes problemas, descreve, em comunicado, o sindicato britânico. «A indústria aeronáutica não pode continuar a fugir do caso dos gases tóxicos nas cabines, colocando em risco a saúde e segurança dos seus funcionários. O manto de silêncio tem de ser levantado», defende o Unite the Union.

Estes processos envolvem pilotos e tripulantes das companhias EasyJet, British Airlines, Thomas Cook, Jet2 e Virgin Atlantic. Em Portugal, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) disse ao SOL «não ter conhecimento» de qualquer processo judicial.

 

Sindicato continua a receber queixas

A verdade é que, por cá, o mistério dos enjoos nos novos aviões da TAP continua.  O SNPVAC confirmou ao SOL que, apesar de o número ter diminuído, ainda são reportados casos de tripulantes que se sentem mal nos A330neo.

Segundo Luciana Passo, do SNPVAC, os problemas reportados têm a ver com o que se passa nestes aviões da TAP, mas não só. «Continua a haver casos [de indisposição a bordo], mas são muito mais esporádicos. Eventualmente não terá só a ver com o avião. O aparelho tem repercussões nos tripulantes, mas estes casos poderão também estar relacionados com o aumento da carga de trabalho e do esforço exigido» aos funcionários, explicou ao SOL.

Uma fonte da TAP revelou ao SOL que, de facto, os tripulantes têm sentido mais dificuldades: «São mais passageiros por avião e é exigido o mesmo trabalho. Ora, com mais pessoas para dar assistência, tem de haver um maior esforço da parte de quem trabalha. Os tripulantes estão a acusar o cansaço. Juntando isso aos problemas técnicos já falados, estamos perante uma situação que pode ser muito perigosa».

Em resposta ao SOL, a TAP garante que o número de casos já está «perto de zero»: «O reporte de queixas de tripulantes de cabina acerca de indisposição nos Airbus A330neo baixou drasticamente nos últimos meses estando agora perto de zero. Ainda assim, a TAP continua atenta a esta questão e a ter em prática as medidas recomendadas pela Airbus nesta matéria».

 

Problemas nos A330neo

O primeiro caso de enjoos foi reportado em fevereiro deste ano. Várias hospedeiras e comissários de bordo sentiam-se enjoados, maldispostos e fracos depois de fazerem viagens de longo curso nos A330neo, fabricados pela Airbus.

Em julho, o Diário de Notícias revelou uma carta enviada pela Airbus à TAP, na qual o fabricante reconhecia a existência de falhas técnicas nas aeronaves: a Airbus disse ter recebido relatos de «dois efeitos diferentes: cheiros pouco comuns e sintomas de desconforto, não havendo uma correlação entre os dois fatores». O fabricante disse ter detetado, durante os testes de voo, «que o arranque do motor poderia gerar odores na cabina», pois «algumas gostas de óleo poderiam ser libertadas no compressor de alta pressão». Estas seriam as responsáveis pelo «cheiro a óleo durante a fase de táxi, descolagem e subida». 

A Airbus dizia na altura estar a adotar medidas para resolver este problema, mas a verdade é que, apesar de serem em menor quantidade, continuam a ser reportados casos. O SOL voltou a tentar contactar a Airbus para obter mais informações, mas sem sucesso.

 

Casos nas redes sociais

No início de agosto, o SOL revelou que este problema também estava a afetar os pilotos: a imagem de dois funcionários da TAP a aterrar um A330 com uma máscara na cara foi partilhada nas redes sociais. Confrontada com esta informação, a companhia aérea explicou que «não houve qualquer risco de segurança para clientes, tripulantes ou avião. As máscaras foram corretamente usadas, a título meramente preventivo e em conformidade com os procedimentos operacionais estabelecidos face à incerteza da origem do odor».

Dias depois, o SOL mostrou também o desabafo de uma hospedeira que usou as redes sociais para alertar para o que se estava a passar dentro dos A330neo. «Tive muitas dificuldades em subir as escadas do crew rest. Estava sozinha, fui a última a sair – por favor saiam sempre acompanhados, nunca vão para o crew rest sozinhos, nem fiquem lá sozinhos. Isto trata-se de segundos! Não estava a conseguir destrancar a porta do crew rest (provavelmente por estar desnorteada e fraca) e mais uns segundos poderia ter caído ali e estaria sozinha. Não sentia ar suficiente a passar na zona das portas dois! Sentia-me mais apertada e fui, então para as portas um, onde notei diferença», escreveu.

Casos como estes levaram a TAP a emitir uma nota interna, apelando «ao elevado sentido de responsabilidade, individual e coletiva, na utilização das numerosas plataformas disponíveis no mercado».

«O Regulamento das Operações de Voo (ROV) define claramente alguns princípios a observar no particular da captação e utilização de imagens, a saber, ‘No entanto, não é permitido a captação de imagens de tripulantes ou passageiros, salvo com expressa autorização dos envolvidos. Neste contexto, durante o PSV e quando ao serviço da empresa, os tripulantes não se devem envolver neste tipo de atividades lúdicas e de lazer, exceto em situações de caráter extraordinário e devidamente justificadas. Devem ainda abster-se de publicar ou partilhar publicamente fotografias ou filmagens que possam de alguma forma afetar a imagem ou credibilidade da TAP Air Portugal ou dos seus colaboradores. Na dúvida, deve ser obtida a necessária autorização junto das Chefias diretas’», refere a nota, assinada pelo diretor de Operações de Voo.

Após a publicação desta nota interna, a publicação da hospedeira foi retirada das redes sociais pela própria.