O Castelo de Highclere, que se tornou local de romaria de turistas depois do sucesso da série Downton Abbey, volta hoje a tornar-se familiar. Foi também este o cenário escolhido pelo criador da trama, Julian Fellowes, na adaptação homónima ao grande ecrã que se estreia hoje nas salas portuguesas. Para celebrar o lançamento do filme, os proprietários do castelo, os condes de Carnarvon, anunciaram que no dia 26 de novembro vão receber dois convidados especiais para pernoitar num dos 300 quartos da propriedade. Mas quem serão esses convidados especiais? Na prática, qualquer fã que se candidate e pague o simbólico valor pedido, se tivermos em conta de que se trata não apenas de uma noite, mas de uma visita sem precedentes que vai permitir aos hóspedes experimentar, verdadeiramente, a vida da aristocracia britânica e conhecer ao pormenor as icónicas salas que aparecem na série.
Segundo o anúncio disponibilizado na plataforma Airbnb – onde a anfitriã é a própria Lady Carnarvon –, os dois convidados serão “tratados como realeza” e, durante o jantar – que vai realizar-se na sala mais formal do castelo, a State Dining Room –, serão acompanhados pelos condes. A refeição, antecedida por cocktails, será servida pelo mordomo da residência: o Mr. Carson da vida real, portanto. Depois do jantar, o “café será servido na Biblioteca, antes de se retirar para um dos quartos da Galeria, com casa de banho privativa e vista para os mais de 400 hectares” da propriedade. No dia seguinte, depois de um pequeno-almoço “delicioso”, os visitantes terão acesso a uma visita privada ao espaço, novamente na companhia dos condes, que prometem não deixar os seus convidados ir-se embora sem “um presente especial” para que possam “desfrutar de um bocadinho do Castelo de Highclere em casa”.
A estadia custará 120 libras (cerca de 135 euros) e as reservas abrem ao meio-dia (hora de Londres) de 1 de outubro. Os potenciais hóspedes, que devem provar ser fãs da série, precisam ainda de ter um perfil na plataforma verificado e boas críticas de outros anfitriões.
“O Castelo de Highclere está na família Carnarvon desde 1679 e tem uma história incrível e rica. Sou apaixonada pelas histórias e pela herança do castelo e espero com entusiasmo pelos nossos futuros convidados”, termina Lady Carnarvon.
Devido à popularidade da série, desde pelo menos 2014 que os condes detentores da propriedade localizada perto da cidade de Newbury, no Hampshire, têm aberto as portas do castelo ao público, algo que não acontecia até então. Para lá das visitas aos jardins, os proprietários transformaram dois edifícios do séc. xix independentes da casa histórica onde decorre a série num turismo rural, o London Lodge.
Seis Pontos Para Quem Quer Ver o Filme e Não Conhece a Série
1. A família Crawley
Os Crawley são a família aristocrata fictícia criada por Julian Fellowes. Os proprietários de Downton Abbey são os condes de Grantham, Robert (Hugh Bonneville) e Cora (Elisabeth McGovern). Ele tinha o título, ela o dinheiro. Robert é o descendente de uma longa linhagem britânica, ela é uma nouveau riche americana e, apesar de ter sido um casamento combinado, gostam um do outro. As duas filhas que vão aparecer no filme são Mary Crawley (Michelle Dockery) e Edith (Laura Carmichael). Lady Mary é a filha mais velha, o centro das atenções e a gestora dos negócios da família. Viúva e com um filho, casou novamente no final da série com Henry Talbot. Edith tem uma filha ilegítima, Marigold. As duas irmãs têm uma relação de gato e rato – por vezes, até cruel –, mas no final da série parecem ter feito as pazes. A matriarca da família e avó das manas é Violet Crawley (Maggie Smith), a condessa viúva, que vive deliciosas tricas com a prima Isobel Crawley (Penelope Wilton), mãe do primeiro marido de Mary.
2. Mr. Carson e o casal Bates
Mr. Carson (Jim Carter) é o mordomo que mais a sério leva a sua profissão no mundo. O porte sisudo e a devoção aos senhores da casa são inabaláveis. Mantém com eficácia os empregados na ordem e treme só de pensar que o mundo está a mudar. Por detrás do porte duro está um coração doce que finalmente conseguiu declarar-se à governanta Ms. Hughes (Phyllis Logan). Casaram e, a contragosto, não vão os senhores precisar, lá foram viver para a sua casinha – perto do castelo, claro está. Há outro casal que domina o mundo dos empregados de Downton Abbey. Mr. Bates (Brendan Coyle) é um veterano de guerra e mordomo pessoal do conde, casado com Anna Bates (Joanne Froggatt), o braço-direito de Lady Mary. Apaixonaram-se em Downton Abbey, casaram, mas as rosas foram poucas. Ela foi violada no castelo, ele quase acusado pelo homicídio do violador, mas, perante o envolvimento da justiça, o conde nunca perdeu a fé em Bates.
3. Os restantes
As tricas, tensões e conquistas do batalhão de empregados que mantêm o castelo imaculado são, muitas vezes, mais interessantes do que a “aborrecida” vida dos ricos. E neste campeonato há muitas personagens adoráveis que acompanharam a série desde o início, como Mrs. Patmore, a cozinheira que, depois de muito banquete, lá consegue pôr de pé o seu bed & breakfast. Daisy (Sophie McShera) é a ajudante de cozinha que, cada vez mais revoltada com as classes, se empenha nos estudos. Há ainda, entre outros, Thomas Barrow (Robert James-Collier), que tem mau fundo e tenta suicidar-se depois de perceber que é homossexual num tempo difícil.Depois há ainda Tom Branson (Allen Leach), antigo motorista, que se casou com a filha mais nova dos Crawley, Sybill, morta nas primeiras temporadas. Subiu a aristocrata, mas ficou sempre com remorsos por ter desistido dos seus ideais socialistas.
4. O castelo
Situado a cerca de 80 quilómetros de Londres, o Castelo de Highclere, propriedade dos condes de Carnarvon desde 1679, é o cenário real de Downton Abbey, nome da série e nome (fictício) da propriedade. É no castelo com 300 quartos e mais de 400 hectares de jardins que os Crawley e os criados vivem mais ou menos pacificamente. Ao longo da série fomo-nos acostumando à segmentação rígida da casa, com os espaços dos criados e dos senhores completamente separados – até as escadas que utilizam são diferentes. E os senhores descem à cozinha ou à garrafeira? Se o fazem, é um acontecimento para deixar Mrs. Patmore alvoroçada durante semanas. Em Downton Abbey há horas e regras para tudo, desde o nascer ao pôr-do-sol. A série, para lá dos espaços nobres, foca-se também nos compartimentos menos conhecidos dos empregados e dá assim a conhecer como era viver e trabalhar numa grande casa de outros tempos.
5. Contexto temporal
Downton Abbey estreou-se em 2010 e a primeira temporada arranca com um momento bem conhecido da História: o naufrágio do Titanic. A série foi emitida até 2015, com o último episódio a ir para o ar no Natal desse ano, e termina em 1924, ano em que foi eleito o primeiro Governo trabalhista no Reino Unido, numa altura em que o Labour era praticamente comunista – um “partido-sindicato”, defensor das classes trabalhadoras contra os capitalistas e latifundiários. A família teve de se adaptar às mudanças dos tempos, que foram uma constante entre 1912 e 1924, anos em que acompanhámos os Crawley. Depois do Titanic veio a I Guerra Mundial, altura em que a Abbey virou hospital de guerra. Vieram as mudanças de costumes com a abertura do sociedade do pós-guerra, vieram os carros e o telefone, vieram os problemas económicos que fizeram a família não só vender algumas terras como mudar o sistema de gestão arreigado ao passado. E a continuidade da monarquia era, já nessa altura, uma preocupação dos aristocratas e, claro, de Mr. Carson.
6. Os anos do filme
A versão para o cinema, realizada por Michael Engler, tem também a assinatura de Julian Fellowes e salta para o ano de 1927. O Rei Jorge V e a Rainha Maria (pais da Rainha Isabel II) anunciam uma visita a casa dos Crawley e a trama desenvolve-se a partir daí. E se os casamentos, jantares e festas do jardim já tinham deixado os criados e mordomos em quase histeria, imaginemos uma visita real. Os senhores também se preparam, com algum nervosismo, para receber os reis e até alguns parentes mais incómodos e, por outro lado, lidam com os seus próprios percalços pessoais. No epicentro das intrigas, Violet Crawley – a atriz Maggie Smith não resistiu a retornar ao seu ácido e delicioso papel. Por sua vez, os reis trazem também o seu séquito de empregados que, nos vãos de escada e nos pisos de baixo, vão lembrando constantemente a hierarquia à prata da casa, os empregados de Downton liderados pelo veterano mordomo.